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Herói do Palmeiras tem medo da cidade

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Por Agencia Estado
Atualização:

Ele não se assusta com a cara feia ou a violência dos zagueiros adversários. Pelo contrário, passou por dois do São Caetano para marcar o gol da vitória palmeirense na Libertadores, quarta-feira, no Palestra Itália, mas confessa morrer de medo de passear pelas ruas de São Paulo. Desde que chegou à maior cidade do Brasil, contratado pelo Palmeiras no início do ano, o colombiano Muñoz passa grande parte do tempo dentro do apartamento que tem em Perdizes. "Quando estava me transferindo para cá, todo mundo me alertou que São Paulo é muito perigosa", justificou. Por isso, ainda não teve oportunidade de conhecer a famosa noite da capital paulista nem os principais pontos turísticos. Não freqüenta restaurantes, bares ou boates, embora seja muito jovem, apenas 24 anos, e tenha dinheiro para isso. O temor não deixa mesmo. Sua única diversão é ir a shoppings ou cinema. "Conheço três coisas em São Paulo, minha casa, o Centro de Treinamento do Palmeiras e shopping." Após a partida com o São Caetano, não quis saber de comemorar o belo gol que foi fundamental para a classificação do Palmeiras para as quartas-de-final da competição. Correu para casa. "Vou dormir", disse, ainda nos vestiários. Um fato no mínimo curioso para quem vivia em Medellín, um dos maiores centros de tráfico de drogas e, em muitas ocasiões, palco de guerra dos terroristas colombianos. "Já perdi três ou quatro primos assassinados lá", conta. Preocupados com a violência de São Paulo, os pais de Muñoz, Darío e Maria, mandaram com ele o filho mais velho da família, Lato, de 29 anos, encarregado de acompanhá-lo em todos os lugares e protegê-lo. É seu guarda-costas. Na noite de quarta, ele estava no Palestra Itália, esperando que terminasse de dar entrevistas a um batalhão de repórteres para levá-lo embora. "Ele cuida de mim e faz companhia." E qual carro comprou para ir aos treinos ou ao shopping? Nenhum, atrai a atenção dos milhares de bandidos que passeiam por São Paulo. Quem resolve seu problema é Basílio, que o leva para a Academia de Futebol todos os dias. Os dois moram no mesmo prédio. Para ir ao shopping num dia de folga, a melhor maneira é chamar um táxi. O atacante namora uma colombiana, de 15 anos, Lucero, há um ano e meio, mas ainda não pensa em se casar. Sua grande paixão no momento é o Palmeiras. Apesar do medo, quer ficar no Brasil. Torce para que o clube compre seu passe, que pertence ao Nacional de Medellín e está avaliado em US$ 3,5 milhões. O contrato termina no fim do ano. Aos poucos, o jogador espera ganhar mais espaço para poder mostrar seu talento. Entrou no time em quatro jogos, mas nunca começou uma partida. Marcou dois gols. "Esse que fiz contra o São Caetano foi o mais importante da minha vida", comentou. Muñoz vinha treinando separadamente dos outros atletas no início da semana. Por isso, não esperava nem ficar no banco na quarta-feira. "Achei estranho quando ele (técnico Celso Roth) me chamou", confessou. A pressão da torcida fez efeito e, a partir de agora, o colombiano passa a ser o novo titular do ataque palmeirense ao lado de Fábio Júnior. "Ele tem boas chances de entrar", afirma o treinador. Feliz com a noite de gala, Muñoz ligou para seus pais antes de dormir, já na madrugada de quinta-feira. Seus familiares não puderam acompanhar o jogo, pois nenhuma emissora transmitiu para a Colômbia, mas os telejornais gastaram boa parte do tempo exibindo o gol do Ronaldinho (da Internazionale) colombiano, como é conhecido no país pela imprensa e pelos torcedores do Nacional. "É demais me comparar com o Ronaldinho", diz ele, sem deixar a modéstia de lado.

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