Humano, exigente e fiel aos atletas, Diniz quer títulos no São Paulo para subir de patamar

Treinador líder do Brasileirão busca primeira conquista de expressão da carreira

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Por Ricardo Magatti
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Técnico mais longevo do São Paulo desde Muricy Ramalho e o segundo treinador há mais tempo no comando de um time da Série A do Campeonato Brasileiro, atrás apenas de Renato Gaúcho, Fernando Diniz vive seu melhor momento no Morumbi, apesar da derrota por 1 a 0 para o Corinthians no fim de semana, que encerrou a série invicta de 17 jogos da equipe no Nacional.

Apegado a algumas ideias no futebol, mas não a ponto de não se permitir mudar de rumo, Diniz é estudioso, agitado à beira do campo e valoriza conhecer todos os seus jogadores com profundidade a fim de corrigir problemas e potencializar virtudes neles. O comandante não costuma desistir de um atleta.

Fernando Diniztem novo compromisso com o São Paulo, nesta quarta-feira, contra o Atlético-MG Foto: Rubens Chiri/ saopaulofc.net

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Formado em psicologia antes de se tornar treinador, em 2012, Fernando Diniz gosta de ter conversas longas e sempre francas com os jogadores e está atento ao lado emocional de seus comandados. "Temos que saber se aproximar dos jogadores. A maior parte dos problemas não é tático, físico ou técnico. É saber oferecer um continente em que o jogador possa se sentir confortável", explicou.

Ele se tornou psicólogo para curar a angústia pessoal que sentia durante a carreira de jogador. Como atleta, nunca foi destaque ou titular em boa parte das equipes pelas quais passou, mas jogou em grandes clubes, como Palmeiras, Corinthians, Santos, Flamengo, Fluminense e Cruzeiro. Chegou a dizer que era um sujeito "bom de grupo".

Há um ano e três meses no clube do Morumbi, Diniz conseguiu levar o São Paulo à liderança do Brasileirão e às semifinais da Copa do Brasil, competição que a equipe nunca venceu, com um trabalho que exigiu paciência e muita dedicação dos jogadores, que entenderam que o processo era - e ainda é - longo.

Desde os primeiros dias do Fernando Diniz no comando do São Paulo, a gente já expressava o quão importante ele seria para a gente com todas as suas ideias

Tiago Volpi, goleiro do São Paulo

O elenco assimilou suas ideias de jogo e o time embalou no fim desta temporada. Mas até a equipe deslanchar levou tempo. Nesse período, vieram eliminações no Paulistão, Libertadores e Sul-Americana, e com elas as críticas e cobranças. A diretoria, porém, manteve Diniz no cargo e vem colhendo os frutos.

Ele tem a confiança, inclusive, dos torcedores, que decidiram manifestar seu apoio nas redes sociais após o ídolo Rogério Ceni ser contratado pelo Flamengo. A hashtag #FechadoComDiniz foi uma maneira que a torcida encontrou para dizer que está ao lado do comandante.

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"Desde os primeiros dias do Fernando Diniz no comando do São Paulo, a gente já expressava o quão importante ele seria para a gente com todas as suas ideias. Depois de mais de um ano, depois de tantas coisas que a gente viveu, a diretoria pôde sustentar o trabalho porque acreditou naquela ideia, no que estava fazendo. A gente vai colhendo os frutos", afirmou o goleiro Tiago Volpi, um dos líderes do grupo.

Diniz valoriza o jogo de troca de passes com paciência, desde o campo defensivo, preza a ofensividade, treina jogadas ensaiadas à exaustão e quer que seu time busque o ataque o tempo todo, mas com organização. O treinador não abre mão de alguns conceitos, mas teve de ceder, fazer alterações e mudar parte de sua visão de jogo para que o time desse uma resposta em um dos momentos turbulentos na temporada.

Pressionado, o treinador teve de promover mudanças. Tchê Tchê, um de seus atletas de confiança, foi para o banco e deu lugar a Luan. Reserva e pouco utilizado no início do ano, o jovem volante deu proteção à zaga, foi determinante para que a equipe passasse a sofrer menos gols e se tornou peça indispensável no atual esquema tático.

O técnico também mexeu na retaguarda mais de uma vez. Diego e Léo funcionaram em algumas partidas, mas caíram de rendimento, e o comandante voltou a apostar em Bruno Alves e Arboleda. A escolha deu certo, ao menos até aqui. Hoje, o São Paulo ainda tem problemas, mas é um time mais sólido defensivamente e que erra menos em relação a um passado recente. O objetivo, sempre frisa o treinador, é encontrar um equilíbrio.

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Apostas bem-sucedidas

Principais jogadores do São Paulo e responsáveis por 50% dos gols da equipe no Brasileirão, Brenner e Luciano só estão no time, e brilhando, graças a Diniz. O treinador trabalhou com a dupla no Fluminense, quis contar com ambos no São Paulo e conseguiu recuperá-los. Partiu do técnico o pedido para a diretoria reintegrar o jovem atacante ao elenco após o empréstimo para o time carioca, para onde o próprio comandante o havia levado. E foi dele também o pedido para a contratação de Luciano em troca que envolveu a ida de Everton ao Grêmio, em agosto deste ano.

"Desde a época em que trabalhamos juntos no Fluminense, eu sempre soube que o trabalho do Diniz daria certo. Tanto é que ele já está há um ano e pouco aqui no São Paulo. Todos estão empenhados pelo mesmo objetivo, que é ser campeão aqui. Minha chegada só serviu para acrescentar a esse trabalho", ressaltou Luciano.

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Eu tenho uma relação próxima com todos os jogadores. Tem de saber lidar com cada um. Eu tenho uma entrada especial com o Luciano, já tínhamos trabalhado juntos no Fluminense

Fernando Diniz, técnico do São Paulo

A sua parceria com o "professor" ficou evidente pelas imagens que a TV do clube divulgou e que se tornaram virais nas redes sociais. Nelas, o jogador leva a bronca após um erro bobo, mas também é elogiado e brinca jogando água no chefe. Segundo Diniz, boas relações são o "pilar central" de seu trabalho.

"Eu tenho uma relação próxima com todos os jogadores. Tem de saber lidar com cada um. Eu tenho uma entrada especial com o Luciano, já tínhamos trabalhado juntos no Fluminense. É um jogador que chegou e rendeu muito bem desde o primeiro jogo, casa muito bem com o jeito que penso futebol, está sempre ativo, buscando o gol, colabora na marcação. Estamos muito contentes com o Luciano. E ter boas relações com os jogadores é algo que faz parte, talvez seja o pilar central do meu trabalho", avaliou o técnico.

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Diniz apostou nos dois e foi recompensado. Os atacantes marcaram 20 dos 40 gols da equipe na competição nacional. Juntos, a dupla balançou as redes 35 vezes em 2020. Brenner é o artilheiro da temporada, com 20 bolas na rede. O jovem ressurgiu com o técnico e vive a melhor fase de sua curta, mas promissora carreira.

"Cheguei ao São Paulo com 11 anos, subi ao profissional com 17. Subi bem, mas tive oscilações. Não estava 100% preparado. Por algum momento, não achei que poderia ser o que tinha planejado. Minha relação com o Diniz vem disso, dele saber me recuperar, acreditar em mim durante um momento ruim, nem joguei no Fluminense", observou Brenner, em entrevista à ESPN Brasil. O garoto é grato ao que o treinador fez por ele e admite que foi Diniz o grande responsável por mudar o rumo de sua carreira.

"Ele pediu minha volta, ficou insistindo. Acreditou em mim. É um dos principais pilares, é um cara que acreditou em mim quando quase ninguém acreditava. Ele manteve o seu pensamento, que eu poderia estar ajudando, fazendo gol se eu fizesse a coisa certa. Coloco ele como um dos pilares por viver esse momento e ter recuperado carreira", complementou.

Em busca do primeiro título

Diniz tenta no São Paulo vencer seu primeiro título de expressão como treinador. Ele começou na terceira divisão paulista, no Votoraty, em 2009. Circulou o interior do estado com passagens por Paulista de Jundiaí, Botafogo de Ribeirão Preto, Atlético de Sorocaba e Guaratinguetá. Também treinou o Paraná logo antes de dirigir o Audax pela segunda vez em 2016.

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Foi no clube de Osasco que ganhou projeção e chamou a atenção de grandes clubes com um futebol ofensivo e vistoso, sem chutões e ligações diretas. Aquele time se classificou ao mata-mata do Paulistão em primeiro lugar do grupo que tinha o São Paulo, eliminou a equipe tricolor com uma goleada por 4 a 1 nas quartas de final, deixou o Corinthians pelo caminho nas semifinais e acabou sendo vice-campeão do Estadual ao perder para o Santos na decisão.

Depois, em 2018, encarou sua primeira experiência na elite do futebol brasileiro, como técnico do Athletico-PR, mas não teve sucesso. No ano passado, passou sem brilho pelo Fluminense. Agora, o psicólogo, ex-jogador e treinador quer sua primeira conquista relevante e também encerrar o jejum de taças do São Paulo, que não ergue um troféu desde 2012, ano em que conquistou a Copa Sul-Americana.

Brincadeira entre Fernando Diniz e Luciano simboliza bem a relação entre o treinador e seus comandados Foto: Rubens Chiri/ saopaulofc.net

Nesta quarta-feira, o São Paulo tem um duelo direto pela liderança do Brasileiro contra o vice-líder Atlético-MG, no Morumbi, pela 26ª rodada. O time tricolor lidera com 50 pontos, quatro a mais que o rival mineiro. Logo, uma vitória é importante para reabilitar a equipe após o revés no clássico em Itaquera e também fundamental para deixá-la com uma boa folga na ponta da tabela. O jogo é mais uma oportunidade para ver em campo as ideias de Diniz, que busca conduzir o clube paulista de volta às conquistas. 

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