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Imprudentemente poético

Analisar só resultado não resolve problema nem garante sucesso dos clubes

Por Marília Ruiz
Atualização:

Está aberta a temporada de reflexões e teses sobre verdades definitivas e erros crassos dos times na temporada 2017. Com a conquista antecipada do Corinthians, ainda que tenhamos em disputa vagas na Libertadores, na Copa Sul-Americana e na própria Série A do Brasileiro do ano que vem, os clubes se internam para sessões de terapia com um quê de descarrego, quase uma desintoxicação.

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Isso porque, na cultura “resultadista” em que vivemos, todos os que não ganharam estão na fase da reformulação. Não ganhou? Não serve. Não levantou taça? Fracasso. E o que vale para elencos, vale ainda mais para treinadores.

A esquizofrenia típica das análises, que só se baseiam também em resultados, indica agora que o Corinthians provou que dinheiro não traz felicidade. Pronto e fim. A indireta é na verdade uma direta para espinafrar o modelo perdulário do Palmeiras. A verdade definitiva da temporada fica ainda mais bonita na moldura, já que ambos são arquirrivais históricos e começaram a temporada em extremos opostos. Tal qual um roteiro de sessão da tarde morna, o time #quartaforça do professor novato se une contra tudo e contra todos, desafia os rivais ricos e reforçados e tem um ano formidável. The end. Desculpem-me aqueles que romanticamente se encantam por esse conto da carochinha, mas a poesia do futebol é muito mais literatura do que cinema.

Em Homens Imprudentemente Poéticos, livro fascinante do português Valter Hugo Mãe, é contada a história de dois vizinhos cuja inimizade avança e recua na mesma medida que varia o ódio e o encanto que cada um sente pelo outro. A história é ambientada no Japão, mas poderia ser no Bom Retiro, bairro paulistano da zona central que viu nascer a rivalidade encantada entre alvinegros e alviverdes.

Sem pestanejar, o técnico apontado como o melhor do Brasileiro, Fábio Carille, coloca os jogos contra o Palmeiras como os cruciais para a temporada inacreditavelmente vitoriosa de um Corinthians que começou o ano tropeçando na política interna (processo de impeachment contra seu presidente), nas trapalhadas de seus dirigentes (alguém aí se esqueceu que antes de Kazim, improvável herói do heptacampeonato, o clube se envolveu na novela Drogba?) e na total falta de recursos para se reforçar. Já as três derrotas nos três confrontos no centenário do dérbi foram marcantes para a depressão exagerada do lado dos pobres meninos verdes e ricos. Acredito, entretanto, que a poesia deste clássico ultrapassa os resultados.

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Parafraseando Valter Hugo Mãe, interessa-me, também no futebol, entender as personalidades, os modos de ser. O ano vai acabar e mal sabemos quem são os 11 titulares do milionário Palmeiras. A verdade (definitiva) é que em 2017 o Corinthians se reconheceu. Doce mistério da vida o futebol.

EMPURRÕES

O soco do zagueiro Rhodolfo e o gesto obsceno do atacante Felipe Vizeu no último domingo estão sendo usados como motivação no Flamengo para o jogo desta quinta-feira no Maracanã, pela semifinal da Copa Sul-Americana, contra o Junior Barranquilla. Aparentemente demonstrou que o time “tem sangue na veia”. Infelizmente estou escrevendo isso.

ESPERTEZA

Em que pese a falta de regulamentação sobre a invasão de privacidade no futebol, aguardo sentada os técnicos se manifestarem sobre a esperteza do treinador gremista, Renato Gaúcho. E haja gente (imprensa incluída) pedindo drone para o Papai Noel agora!

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