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Jair não gostava de lembrar derrota de 50

Por Agencia Estado
Atualização:

Jair Rosa Pinto dispensava as formalidades e era capaz de encerrar uma conversa de botequim se alguém lhe chamasse Jair da Rosa. "Não tem o ?da? entre Jair e Rosa. Isso me persegue a vida toda", costumava reclamar. Foi esse o recado, em tom de advertência, logo no início da entrevista, concedida por telefone para a Agência Estado na segunda semana de março. Um dos jogadores mais talentosos de sua geração, Jair gostava de falar de futebol. Mas com uma ressalva: nada que lembrasse o triunfo do Uruguai sobre o Brasil na decisão da Copa do Mundo de 1950. "Vamos deixar isso para trás. É muito triste", disse, às vésperas de completar 84 anos, data comemorada em 21 de março com a família. Ele esteve em campo, naquela jornada sombria para milhares de torcedores brasileiros que deixaram o Maracanã em estado de choque. O ex-craque de Palmeiras, Santos e Vasco era um defensor intransigente de seus colegas de profissão. Não hesitava em criticar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pelo "descaso" com jogadores de outras épocas. Cobrava da entidade apoio e incentivo aos que serviram à seleção e andavam esquecidos, distante dos holofotes da mídia e com dificuldades financeiras. Jair também era cético ao analisar a atual seleção brasileira. Para ele, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho são bons jogadores. Nada muito além disso. Ele não perdeu a oportunidade de repreender Ronaldo, pouco antes, em 2003, quando o atacante do Real Madrid se envolveu em polêmica sobre o número de gols marcados por Pelé na seleção. "O Ronaldo devia se pôr no seu lugar, levantar as mãos para o céu e falar que está muito bom porque só perde para o Pelé." O ex-meia se dizia cansado de ver peladeiros em ação. O costume de assistir a partidas de futebol à noite pela TV esbarrava na qualidade ruim dos jogos. "Se o nível for baixo, eu coloco uma fita de vídeo qualquer. Não tenho mais paciência para ver cabeça-de-bagre." Ele vivia de uma aposentadoria do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e de um contrato com o governo do Estado para divulgar projeto de compra de medicamentos a preços reduzidos. Morava com sua mulher, dona Célia, num bom apartamento na Praça Saens Peña, na Tijuca, um bairro de classe média da zona norte da cidade. Não abria mão de cuidar de seus curiós e da companhia de amigos que se reuniam diariamente na praça e sempre organizavam eventos, como o almoço mensal do grupo. Jair Rosa Pinto também se orgulhava dos filhos Jair e Luís Antonio e dos seis netos. Embora gozasse de boa saúde, regrada por uma alimentação saudável e uma hora de atividade física por dia, o ex-craque deixou escapar na entrevista de março que esperava dias complicados. "A idade vai chegando e tudo fica mais difícil."

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