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Jogadores inesquecíveis

Todos temos um grupo de jogadores prediletos; frequentemente, a simpatia se resume a um único atleta

Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Às vezes fico na dúvida se torcemos para clubes ou para jogadores. Explico: clube, na verdade, são os 11 que entram em campo. O resto é uma ficção, algo abstrato, com um nome e uma cor e que tem esses 11 jogadores sob sua bandeira e tradição. Tudo muito vago. O que é concreto são os 11 que entram em campo. Por isso, é comum algum, ou alguns, dos jogadores serem preferidos acima do clube, para além dele.

Muita gente nem se dá conta disso mas, na verdade, torce para um grupo de sua predileção. Frequentemente resume toda sua simpatia para um único jogador que sobressai por algum motivo, nem sempre a simples qualidade técnica.

Ugo Giorgetti. Foto: Paulo Liebert/Estadão

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Esse jogador predileto reúne qualidades indefiníveis e múltiplas. Às vezes é um prata da casa, outras é um jogador que participou de uma conquista especial, outras é simplesmente alguém com cara de torcedor e em outras até ignoramos por que temos predileção por esse jogador.

Olhando mais de perto, poderíamos descobrir que o tipo de jogo que ele tem bate com nossa predileção, às vezes contrariando toda a crítica e mesmo a maior parte da torcida. Por exemplo: se temos predileção por um jogador clássico, elegante, que joga bonito, mesmo que esse futebol seja irritante nos dias de hoje, aceitamos seus defeitos e limitações, porque ele nos recorda algo que nos é caro. Um tempo em que se jogava mais bonito.

É verdade que, no fundo, a maioria das razoes das preferências são objetivas e claras. A predileção da torcida do Corinthians por tem razões plenamente visíveis que vão de ele ter sido da base, de ser comprovadamente corintiano, de ter comportamento, para o bem e para o mal, que o identifica com os usos e costumes dos torcedores. É um deles, a ele tudo é perdoado.

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O problema vem quando um jogador predileto vai para outro time e, pior, para um rival. E quanto mais odiado, mais a situação se complica. É duro ver o jogador preferido vestindo aquela camisa. A primeira reação é não prestar mais atenção a ele. Logo percebemos que é uma coisa impossível. Pouco a pouco começamos, ao vê-lo jogar no rival, reconhecer suas jogadas, seu jeito de bater na bola, o tipo de passe que já dava e, gradativamente, volta a velha simpatia.

É uma coisa difícil, pois, às vezes, esse jogador não tem nada de tão notável. É um bom jogador mas, na maior parte das vezes, não é um craque. É um jogador que nos agrada por aquelas razões inexplicáveis, lembranças de infância, lembrança de um outro jogador também preferido. Enfim, é difícil se livrar do jogador preferido mesmo que ele se bandeie para o adversário.

No fim acabamos torcendo para ele, absolvendo-o dos erros e, quando começa a cair em desgraça com a torcida em seu novo clube, não hesitamos em defendê-lo e, mesmo discretamente, maldizemos a torcida rival, tão burra que não consegue ver o talento nem tendo-o sob os olhos.

Ficamos também a compará-lo com quem hoje ocupa sua antiga posição no nosso clube. O jogador preferido sempre vence e o infeliz que ocupa o lugar que foi dele é, no máximo, tolerado.

Esses são casos individuais, porque há craques que conseguem a unanimidade só pelo futebol. Falei de Jô, agora falo de outro. Uma noite estava no demolido Parque Antártica vendo Palmeiras e não sei quem. Um jogo sem a menor importância, a torcida ocupando meio estádio. De repente, um grito de gol e uma comemoração ruidosa da torcida. No campo não havia gol algum.

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Só entendi a comemoração quando alguém me disse que festejavam uma coisa que não ocorria no campo, pelo menos não no Parque. Ocorria no Canindé, num jogo da Portuguesa, e era um gol do grande Evair, que tinha ido para a Lusa. A torcida festejava um gol de um outro time, num campo a dez quilômetros de distância, feito por um jogador que já não era mais do clube. Isto é, não era do clube, era dos torcedores.

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