José Roberto Wright desaprova o VAR: 'Do jeito que está, o erro é duplo'
Ex-comentarista e árbitro se diz contra a utilização da tecnologia para auxiliar os juízes
Entrevista com
José Roberto Wright, ex-árbitro
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José Roberto Wright, ex-árbitro
29 Junho 2018 | 05h00
Um dos principais árbitros brasileiros nas décadas de 70 e 80 e começo de 90, José Roberto Wright não ficou nem um pouco animado com o que viu na primeira fase da Copa do Mundo em relação à arbitragem. Ele deixa claro que é totalmente contra a utilização de tecnologia para tentar corrigir erros cometidos pelos árbitros em campo. Em entrevista ao Estado, ele explica o motivo de ser contra o VAR, alega que as falhas continuarão do mesmo jeito e que a novidade não pode ser utilizada, pois é inviável financeiramente aplicá-la em todo o mundo.
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O projeto inicial era muito melhor, mas foram mudando tanta coisa e, do jeito que está, agora o erro é duplo, pois erra quem está lá dentro do campo e quem está assistindo pela TV. A Fifa tem dinheiro para bancar essas coisas, mas isso não vai resolver o problema do futebol.
Corrige nada! Pode até mudar alguns lances, mas os erros grosseiros continuam. Teve um pênalti claro no Neymar (contra a Costa Rica) que o árbitro marcou, mas depois foi ver o vídeo e mudou de ideia. OK, o Neymar exagerou na queda, mas houve a infração. O VAR entrou para atrapalhar o árbitro e poderia ter interferido no resultado e na classificação do grupo.
Para falar a verdade, em nenhum. Tem uma coisa que ninguém percebe que é o tipo diferente de futebol que se é jogado pelo mundo. Tem árbitro que está acostumado a marcar qualquer “faltinha” e outros deixam a pancadaria rolar solta. E se ambos forem trabalhar juntos? Não vão marcar nada ou vão parar o jogo toda hora. Está errado.
Não digo que sou contra, só acho que o VAR não deve ser utilizado. Agora, vai começar a fase mais “encardida”, onde um erro manda alguém para casa. Repito, o lance do Neymar. Foi pênalti. E se o árbitro resolve fazer aquilo em um mata-mata? O Brasil poderia ter sido eliminado. A maior prova de que eu não sou contra a tecnologia é que eu inventei o tira-teima na Globo (ele foi comentarista da TV durante 13 anos). Mas é algo para comentar e não utilizar nos jogos. O problema é que a maioria dos lances é interpretativa e interpretação é algo pessoal.
Não há o que fazer. Hoje, os jogos têm câmeras dos mais variados ângulos e que mostram tudo. Lembra do pênalti do Júnior Baiano em que todo mundo queria matar o árbitro (na Copa de 98, o árbitro marcou uma penalidade do defensor brasileiro em jogo contra a Noruega)? Depois de alguns dias, apareceu um vídeo que mostrava o Júnior Baiano puxando o norueguês. Isso não acontece mais, a gente vê tudo o que acontece em campo, então os erros dos árbitros ficarão sempre mais evidentes. Não precisa que eles usem a tecnologia para errar mais.
Talvez, só que os erros que acontecem são tão graves quanto os erros que ocorriam sem o vídeo. E, pior, o árbitro perder a importância e respeito em campo, pois, em todos os lances, os jogadores vão ficar pedindo para ver o vídeo. Futebol fica chato desse jeito. As falhas vão continuar, pois estamos lidando com ser humano, não com máquinas. Além disso, podem acontecer alguns problemas de postura também.
Não vou nem citar nomes de árbitros da atualidade para evitar polêmica, mas vou te dar um exemplo. Está lá o Pierluigi Collina (chefe de arbitragem da Fifa e considerado por muitos anos o melhor árbitro do mundo) apitando um jogo e na sala de vídeo está um “qualquer”. Aí o Collina marca um pênalti, o cara do vídeo diz que não foi. E aí? Quem é o cara para falar que o Collina está errado? E se a decisão muda e muda errado? A culpa será de quem? É complicado. O árbitro tem que assumir a responsabilidade sozinho.
Eu tenho a preocupação sobre quem vai usar o vídeo. A Fifa tem muito dinheiro para fazer isso, mas e o resto do mundo? No Paulistão, no Brasileirão, na primeira divisão da Espanha ou da Inglaterra, dá para colocar isso, mas e na segunda divisão, na Série C da Itália ou em um estadual de pequeno porte aqui no Brasil? É preciso ter igualdade de recursos.
Ele tem ido muito bem. Eu sou um crítico do trabalho dele, mas admito que o Sandro está sendo muito firme e mostrando personalidade. Ele tem sido um dos melhores da Copa e acho que é forte candidato a apitar a decisão caso o Brasil não esteja nela.
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