Juízes têm poder, mas vacilam com a polêmica regra da mão na bola

Lances de toque de mão dentro da área são interpretativos e juiz deve decidir se dá ou não o pênalti, mas muitos ignoram os critérios

PUBLICIDADE

Por Wilson Baldini Jr
Atualização:

Os pênaltis assinalados a partir de um toque de mão continuam criando muita polêmica no futebol brasileiro. Isso porque alguns juízes consideram o lance como mão na bola; outros, entendem como bola na mão e nada marcam. Várias decisões são confirmadas ou reformadas após o árbitro de campo ser alertado pelo VAR e rever as imagens. Mas não há o que encerre a discussão.

Polêmica recente ocorreu no último domingo, no jogo entre São Paulo e Ituano, pelo Paulistão. Um chute de Igor Henrique explodiu no braço de Gabriel Sara na área e o árbitro Salim Fende Chavez marcou o pênalti. A contestação são-paulina foi porque o braço do meia estava próximo ao corpo e o chute foi à queima-roupa. Não adiantou. Sorte do Tricolor que o goleiro Jandrei defendeu a cobrança.

Jandrei defende o pênalti no jogo com o Ituano; são-paulinos reclamaram que lance foi bola na mão. Foto: Rubens Chiri/São Paulo

PUBLICIDADE

O ex-árbitro Arnaldo Cesar Coelho, um dos nomes mais respeitados da arbitragem no Brasil, discorda da marcação da penalidade. “O chute foi forte e muito próximo do zagueiro. Não houve intenção. O jogador não pode atuar com os braços para trás. O movimento dos braços é importante para o equilíbrio do atleta. Você não vai ver ninguém quebrando recordes de salto em altura ou em distância com os braços presos”, analisou.

COMPLEXIDADE

O gaúcho Anderson Daronco não comenta a jogada de São Paulo x Ituano, mas apresenta algumas dicas de como se pode analisar um lance de “bola na mão ou mão na bola”. “Num chute muito rápido, é preciso ver a posição dos braços do zagueiro. O jogador tem pleno domínio do corpo. Eles sabem que estão ampliando seus espaços e podem interceptar um chute ou cruzamento. Ninguém quer que os caras cortem os braços ou joguem com os braços para trás, mas joguem com os braços em uma posição adequada e normal para aquele tipo de movimento que estão fazendo. Ninguém pula com os dois braços lá em cima. Todo mundo pula e busca o equilíbrio.”

Mas o que diz a regra? De acordo com a International Board, nesse tipo lance, com auxílio de tecnologia ou não, o que tem de prevalecer é a visão do árbitro. Em um texto de 12 páginas, o órgão aponta que a decisão das jogadas deve ser feita por intermédio da sensibilidade dos árbitros em campo e também dos analistas do VAR. “Eles vão determinar a validade da posição da mão/braço em relação ao movimento do jogador naquela situação específica”, diz a Board. “Como a interpretação dos incidentes de mão na bola nem sempre tem sido consistente devido a aplicações incorretas da lei, os membros (da International Board) confirmam que nem todo toque da mão/braço de um jogador com a bola é infração.”

'Num chute muito rápido, é preciso ver a posição dos braços do zagueiro', aconselha Anderson Daronco. Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras

ÁRBITRO É SOBERANO

Publicidade

Em seguida, é dada a orientação que mantém o poder e a responsabilidade do árbitro. “Em relação ao critério de a mão/braço tornar o corpo de um jogador ‘anormalmente maior (aberto ou esticado)’, está confirmado que os árbitros devem continuar a usar seu julgamento. Eles vão determinar a validade da posição da mão/braço em relação ao movimento do jogador naquela situação específica”, completou a International Board.

Daronco fala da reação que acontece dentro de campo. “Não tem problema de interpretação dos lances, pois os conceitos estão muito claros para nós. O problema é a visualização dentro de jogo. Quando o árbitro consegue ver o lance, as decisões são corretas.”

Ele pondera que inúmeros fatores podem contribuir para uma tomada de decisão e que nunca um lance é igual ao outro. “Este é o grande problema. Imprensa, jogadores, público querem colocar tudo na mesma balança. Posição inicial do braço, distância, velocidade da bola, direção da bola... Não tem fórmula mágica, receita de bolo. É uma soma de fatores que leva a tomar uma decisão de ser pênalti ou não.”

Segundo Arnaldo, o futebol vai seguir, em breve, o modelo do futebol americano (NFL), onde os árbitros informam pelo microfone para o público as decisões mais polêmicas adotadas durante as partidas. Será mais uma tentativa de pelo menos amenizar as polêmicas sobre os lances de toque de mão dentro da área.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.