Liga Saudita começa com 43 brasileiros e mais de R$ 900 milhões em reforços

Campeonato no Oriente Médio inicia temporada com novo limite de estrangeiros e grande investimento

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Por Ciro Campos
Atualização:

O campeonato mais brasileiro do Oriente Médio começa nesta quinta-feira. Com 43 atletas nascidos no país do futebol representados em todos os 16 times participantes, a Liga da Arábia Saudita inicia a temporada com R$ 940 milhões investidos em contratações. A aposta é de que a qualidade dos profissionais do Brasil vai revitalizar o futebol local.

O governo saudita voltou a apoiar os clubes, que contaram também com o auxílio da liga. O limite para estrangeiros aumentou de sete para oito em cada time. A mudança mexeu com os técnicos. Nenhum deles é saudita e dois são conhecidos do futebol brasileiro. O paraguaio Francisco Arce, ex-lateral do Palmeiras, vai dirigir o Ohod. E Fábio Carille, ex-Corinthians, está no comando do time do Al Wehda.

Fábio Carille e os reforços do Al Wehda para a temporada Foto: Instagram/Fábio Carille

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"Nunca tinha tido tanto tempo assim para preparar uma equipe. É o que consideramos ideal, né? Conseguimos fazer alguns amistosos, testes importantes, conhecer bem o elenco, entrosar. Estamos com uma expectativa positiva", disse Carille, que hoje estreia fora de casa contra o Al Hazm após quase três meses de preparação.

Os atletas brasileiros correspondem a 35% dos estrangeiros no Campeonato Saudita. Um dos novos contratados é o meia Giuliano, que deixou o Fenerbahçe, da Turquia, para reforçar o Al Nassr, clube mais popular do país e o que mais investiu. "Posso dizer que me surpreendi com a qualidade técnica do meu time. Ainda não está no nível técnico e tático europeu, mas está em um processo de transformação. O futebol árabe está no caminho da evolução", disse o meia ao Estado.

Para acomodar os estrangeiros, os clubes oferecem boa estrutura. O dinheiro oriundo do petróleo ajuda a construir campos de treinamentos e a organizar a recepção dos reforços. "Em cinco dias na cidade de Riad, já consegui moradia, com excelentes condições, em condomínio fechado. Os estrangeiros moram todos juntos. E já me deram carro para me locomover", afirmou Giuliano.

Os clubes sauditas também contrataram jogadores que disputaram a Copa, como o nigeriano Musa e o marroquino Amrabat. O objetivo com a chegada dos estrangeiros, aliada à participação da seleção no Mundial da Rússia, é marcar o começo de uma nova era no futebol. "Os técnicos são de fora e de muita experiência. Vai ter uma diversidade de culturas dentro de estratégias técnicas e tipos de trabalho nos times. Vai haver um legado para o futebol", disse Arce.

Perguntas para Giuliano, meia do Al Nassr:

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Giuliano trocou o futebol turco pela Arábia Saudita Foto: Divulgação/Al Nassr

Quais os principais atrativos que te levaram a aceitar o desafio de jogar na Arábia Saudita?

Houve uma proposta financeira muito interessante para o Fenerbahçe e, consequentemente, para mim. A Liga Árabe voltou a investir no futebol e eles querem elevar o nível da competição. Por isso eles contrataram vários jogadores estrangeiros, muitos brasileiros, sul-americanos, assim como treinadores europeus. Por isso aceitei esse desafio na carreira. É uma liga que está em evolução.

Por chegar a um clube popular e que está há anos sem títulos, você já sentiu alguma cobrança ou pressão para que a temporada seja positiva?

Houve também muitas contratações na minha equipe e isso gera muita expectativa. A pressão sempre existirá pela grandeza do clube e pelo jejum de títulos nos últimos anos. Mas eu cheguei em um ambiente incrível por parte do torcedor. Isso pode e acredito que será uma grande força para nossa equipe nessa competição. Agora, depende a maneira como nós lidarmos com essa pressão. Sabemos administrar e tornar essa pressão a nosso favor.

Pelo que sentiu nos primeiros trabalhos, o nível do futebol local ainda está muito abaixo do nível europeu ou cresceu?

Recém cheguei, mas posso dizer que me surpreendi com a qualidade técnica do meu time. Ainda não está no nível técnico e tático europeu, mas eles estão em um processo de transformação. Temos um treinador que é uruguaio, que gosta muito dos princípios táticos, e os primeiros passos estão sendo dados. O futebol árabe está em um caminho de evolução. 

Que tipo de cuidados como tradutor, casa ou carro o clube ofereceu para te auxiliar com a adaptação e chegada?

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Dentro do campo, no CT, não tenho dificuldade com o idioma porque o treinador é uruguaio. Mas tem um tradutor que traduz para os árabes. Então, no treino é bastante tranquilo. Fora de campo muitas pessoas envolvidas no clube falam inglês. Em somente cinco dias na cidade já tenho moradia, com excelentes condições, em condomínio fechado onde moram a maioria dos estrangeiros. O Bruno Uvini e o Petros também moram nesse condomínio, então isso facilita. Já me deram carro para me locomover na cidade. Estão me dando a melhor estrutura para que minha adaptação seja o mais rápido possível.

Ser convocado para a seleção brasileira é um objetivo que você continua alimentando?

Eu sou muito realista e sei que a possibilidade de convocação nesse momento diminuiu, mas não quer dizer que desisti da seleção. O futebol é dinâmico e tudo muito rapidamente. Vou continuar alimentado esse sonho. Vou me dedicar, fazer meu melhor para tenha sucesso no meu clube, primeiramente, e depois quem sabe voltar à seleçãa brasileira.

Perguntas para Francisco Arce, técnico do Ohod:

Ex-lateral Arce estava no futebol paraguaio e aceitou convite para trabalhar na Arábia Saudita Foto: Francisco Arce/Arquivo Pessoal

O Ohod tenta se recuperar com potência no futebol local. Quais as expectativas para esta temporada?

O time tem se reforçado muito bem. Aqui aumentou a quantidade de jogadores estrangeiros. A pré-temporada foi muito boa, intensa. Acho que vamos chegar muito bem para o início do campeonato. Tem muita paridade entre os times, apesar de quatro ou cinco terem um orçamento muito grande e terem feito contratações importantes.

O que pesou para a sua ida ao futebol árabe? 

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Vários fatores. Nunca tínhamos saídos do Paraguai em dez anos, fizemos trabalhos importantes nos clubes e duas vezes na seleção abrimos pouco espaço para sair nesses dez anos e agora chegou essa oportunidade. Futebol diferente, tudo para se conquistar, para nós também abrir mercado para os profissionais paraguaios. Desafio grande.

O deverá ser mais difícil no seu trabalho? É o idioma, cultura local, perfil dos jogadores ou clima?

No início está sendo o idioma e um pouco da cultura para se adaptar ao jeito do pensamento profissional para agregar aos investimentos que estão sendo feitos. Tem estrutura, mas temos que ajudar também a dar as ideias nossas pelas nossa experiência de muitos anos no futebol para construir um time mais forte, ter disciplina e ordem.

A Arábia Saudita acaba de disputar a Copa e o futebol local aumentou o investimento em estrangeiros. Acredita que esta temporada vai mudar a forma como a liga saudita é vista no mundo?

Chegou vários jogadores de nível de seleção, com investimentos do tamanho que são feitos na Europa e na China. Os treinadores são estrangeiros e de muita experiência. Vai ter uma diversidade de culturas dentro de estratégias e tipos de trabalho nos times. Vai deixar um legado importante para o futebol

 Qual a estrutura do clube à disposição para o seu trabalho?

Diretoria tem muito respeito e consideração pela gente para que nossa adaptação seja rápida. Estamos felizes trabalhando. A estrutura é boa para se fazer trabalhos.

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