PUBLICIDADE

Luxemburgo promete título neste ano

Por Agencia Estado
Atualização:

Vanderlei Luxemburgo é vaidoso e ambicioso. Isso ele jamais escondeu. Mas é também competente, o que poucos contestam. Por essas características, inicia a segunda temporada no comando do Real Madrid com a obstinação de conquistar seu primeiro troféu na aventura espanhola. "Não passarei em branco", afirmou Luxemburgo, em entrevista na terça-feira, após a apresentação de "Real, o filme", longa-metragem que tem o clube espanhol como tema. "Não fico dois anos sem ganhar um título." Sete meses depois de ter aceito convite para assumir um dos cargos mais importantes do futebol mundial, Luxemburgo se mostra à vontade no Real. Circula com desenvoltura entre a cartolagem do clube de Madri, chama jornalistas locais pelo nome, brinca com assessores e não se incomoda com escorregões na hora de falar espanhol. Agência Estado - O senhor já se deu conta da importância de dirigir o Real Madrid? Vanderlei Luxemburgo - Isto é primeiro mundo. Aqui não sou apenas treinador. Também participo de ações de marketing, como o lançamento do filme, e preciso estar atento às estratégias do clube. Os treinadores brasileiros devem preparar-se para ampliar seu raio de ação e não ficar apenas nas atividades dentro de campo. Sempre preguei isso no Brasil e era criticado, por acharem que esnobava. AE - Será seu ano decisivo? O senhor sabe das cobranças que há aqui. Luxemburgo - Fui bem na primeira parte, porque cheguei no fim do ano, com uma situação ruim e reagimos. O desafio agora é remontar o time, pois uma fase está passando e começaremos a construir uma equipe nova. AE - Mas o Real Madrid não ganha nada há dois anos... Luxemburgo - Eu sei disso. Mas sei também que não passarei em branco esta temporada. Não fico dois anos sem ganhar um título. AE - Há jogadores que estão de saída. Figo é um deles? O relacionamento continua estremecido? Luxemburgo - Não há problema algum com o Figo. Não é fácil chegar e pôr um astro como ele no banco. Mas achei que devia fazer aquilo, num determinado momento, e ele evidentemente não gostou. Voltamos das férias normalmente, nos falamos e não sou do tipo que guarda ressentimento. AE - Mas ele pode ir embora. Pelo menos é o que se tem falado. Luxemburgo - Se houver proposta boa para ele e para o Real Madrid, não há como segurá-lo. Num clube como este, que é uma empresa, é preciso levar em conta custo e benefício na relação com qualquer jogador. AE - Falou-se que o senhor não tem todo o elenco nas mãos. Luxemburgo - Quem disse isso!? O que pode acontecer é que algum jogador fique aborrecido com a reserva ou pelo fato de ser menos aproveitado. Isso é normal. Eu não tenho como escalar todo mundo. Escalo quem acho que está bem. AE - E as contratações também são por sua conta? Ou prevalecem os interesses do clube e dos dirigentes? Luxemburgo - Tudo é feito em conjunto. Indico jogadores, ouço as propostas do clube. Discuto tudo com o Arrigo Sacchi (ex-treinador italiano e agora responsável pelo departamento de futebol do Real) e com o Emilio Butragueño (ex-jogador espanhol e diretor de futebol do clube). Posso não concordar com algum nome e sou ouvido. Agora, se o presidente quiser contratar alguém, tem autoridade para isso. AE - Se o presidente contratar, o senhor tem de escalar? Luxemburgo - Não! A decisão de colocar alguém em campo é minha. Agora, na contratação, como disse, levamos em conta custo-benefício. O Pablo Garcia, uruguaio que acabou de chegar, veio a custo baixo e é boa opção de elenco. AE - O Robinho seria investimento de grande retorno? Luxemburgo - Sim, pois se trata de um jovem de muito potencial. Tem tudo para crescer. Mas prefiro nem falar sobre ele, porque vão falar que estou pressionando e não quero me indispor com ninguém. AE - Mas ele vem ou não, afinal? Luxemburgo - Depende do Marcelo (Teixeira, presidente do Santos). Eu espero que venha, pelo menos há meses estamos nessa negociação. AE - Dirigir um elenco com tantas estrelas não lhe dá trabalho? Luxemburgo - De forma alguma. São todos muito profissionais. A única coisa que estranharam foi o fato de eu ter optado por concentração na véspera das partidas. Antes, todos se apresentavam só no dia do jogo. AE - Algum jogador o surpreendeu? Luxemburgo - O Beckham. É um excelente profissional, educado, pontual, grande sujeito, dentro e fora do campo. Quando tem de viajar ou precisa atender a um compromisso pessoal, me consulta, pede dispensa. Não dá problema. AE - E Zidane? O senhor o considera um grande jogador? Luxemburgo - Ele joga demais. À distância, a gente vê que ele sabe muito. Mas, ao lidar com ele no dia-a-dia, dá para perceber que é bom demais. Tem uma técnica excepcional, visão de jogo extraordinária. Pena que acabe. AE - Como assim? Ele não tem contrato por mais dois anos? Luxemburgo - Tem e espero que fique conosco. Estou até fazendo um trabalho especial de motivação com ele. O problema é que a idade chega, mesmo para craques como ele, como Pelé, e precisamos nos preparar. AE - Por falar em preparação, o Real parte para uma excursão aos Estados Unidos e na Ásia. Isso não atrapalha? Luxemburgo - Não vai atrapalhar. Em primeiro lugar, como impedir que um clube que investe milhões de euros jogue fora a possibilidade de ganhar uns 15 milhões numa viagem como esta? Nos preparamos para isso. Fizemos exercícios durante esta semana, viajamos na quinta-feira e na volta teremos três dias de descanso. Depois, ficamos 15 dias na Áustria e teremos mais 15 dias de treino aqui. No Brasil, eu tinha dez dias apenas e conseguia! AE - Vejo que, durante nossa conversa, nenhum jornalista lhe pediu entrevista. Como o senhor tem lidado com isso? Luxemburgo - Muito bem. Aqui falo uma, duas vezes por semana, e estou gostando. Quando a gente começa a falar demais, dá bom dia a cavalo. É melhor assim.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.