
18 de fevereiro de 2019 | 04h30
Instantes antes de a bola rolar para a decisão da Taça Guanabara, não se sabia se haveria plateia no Maracanã. Vasco x Fluminense sem torcida presente e com recursos na Justiça para que o jogo tivesse, ou não, a presença de público. Reflexo das brigas políticas em ambos os clubes, com os presidentes enfrentando rivais que tentam derrubá-los. Se não lutassem pelo lado direito, o setor sul do Maracanã, seriam alvejados pelos adversários, dentro e fora das agremiações.
Ao mesmo tempo, a Odebrecht, por intermédio de uma de suas empresas, a Maracanã S.A., administradora do estádio, negocia com os vascaínos para que o time da segunda maior torcida do Rio de Janeiro lá atue mais vezes. E duela nos tribunais com os tricolores, tentando se livrar do contrato de 35 anos fechado em 2013. E que, logo percebeu, era péssimo para ela, presenteada pelo governo do Estado com a gestão do palco da final da Copa do Mundo disputada no ano seguinte.
A briga entre Fluminense, Vasco e a empresa responsável pela “arena” pode ser tudo, menos uma tolice, embora o motivo seja pueril. Óbvio, discordamos de tal imbróglio, mas não podemos ignorar o fato de os presidentes dos dois clubes terem ficado expostos a ataques na política interna se não duelassem pelo local ocupado pelos vascaínos desde 1950, e que os tricolores, por contrato firmado há seis anos, teriam o direito de utilizar no clássico deste domingo.
Um conflito que gerou situações patéticas, turbinado pela negociação que corre, paralelamente, entre Vasco e a empresa que possui o estádio nas mãos. Ela já tem o Flamengo atuando lá, está insatisfeita com os resultados financeiros proporcionados pelos jogos do Fluminense e tenta se acertar com o segundo clube mais popular entre os cariocas.
Mas, para isso, é preciso que o lado direito, o disputado setor sul, fique à disposição dos vascaínos. Sempre. Inclusive contra os tricolores.
O jogo terminou com o triunfo do Vasco, mas a briga pelo sul prosseguirá. Porque carrega interesses econômicos e políticos que poderão pesar na sequência dos mandatos dos dois presidentes. O Maracanã começou a receber gente com meia hora de peleja, após muita confusão do lado de fora. Já a empresa que utiliza o nome do estádio articula, segue de olho no melhor negócio possível. Não foi apenas mera tolice.
Há 10 dias, 10 meninos morreram em um incêndio. Tinham entre 14 e 15 anos, dormiam quando pegou fogo o alojamento onde foram instalados, no Centro de Treinamento do Flamengo. Chocada, a sociedade mostrou sua faceta acusatória, com dedos apontados. E parte da imprensa entrou no ritmo.
Como se fosse dado o tiro de largada para uma corrida de 100 metros rasos, redações disparam repórteres em busca de matérias sobre CTs em más condições. Até parece que isso é novidade no Brasil. Já as ditas autoridades percorreram espaços onde vivem milhares de garotos que sonham com o futebol.
O investimento do Flamengo na base é dos maiores e mais crescentes no país, mesmo assim havia absurdas irregularidades, como a inexistência de alvarás e a falta de inspeção nos módulos provisórios que compunham as instalações incendiadas. Não é difícil imaginar como andam outros por aí. Quem se importou até então?
A responsabilidade do clube é óbvia, afinal a tutela dos garotos foi dada pelos pais e responsáveis. E tudo aconteceu dentro da agremiação. Mas de quem (pessoas) é a culpa? Isso cabe à Justiça dizer, após o trabalho da perícia. E não se julga, se aponta o réu sem reais conclusões, que naturalmente são demoradas.
Contudo, a vocação de muitos é pelo julgamento sumário. O que, mesclado ao fanatismo, gera bravatas e gritos por Justiça que escondem reais intenções, mais clubistas do que ponderadas.
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