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Os rumores da venda do Manchester United são falsos. Por enquanto...

Para os Glazers, que sofreram ataques durante a maior parte de seu período como donos, vender uma parte minoritária do clube pode fazer sentido: o preço das ações do United, que está listado na Bolsa de Valores de Nova York, sugere que o clube vale US$ 2,23 bilhões (R$ 11,54 bilhões)

Por Tariq Panja
Atualização:

O Manchester United não está à venda. Mas de certa forma está, da mesma forma que tudo está à venda se a proposta for alta o suficiente. Os rumores começaram na semana passada com um tweet, uma piada de mau gosto de um bilionário que ele rapidamente encerrou a história. Mas assim que Elon Musk saiu de cena, os tubarões estavam circulando na água.

O bilionário britânico Jim Ratcliffe foi o primeiro a aparecer, dizendo que estaria interessado em comprar o clube caso esse estivesse, de fato, à venda. Uma empresa americana de private equity, Apollo Global Management, estaria em negociações sobre a aquisição de uma participação minoritária no clube. Dinheiro não seria um problema. Ratcliffe é um dos homens mais ricos do mundo.

Cristiano Ronaldo se mostra incomodado na goleada do Brentford sobre o Manchester United pelo Campeonato Inglês. Foto: Action Images via Reuters/John Sibley

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Mas no meio de um turbilhão de reportagens sem muitos detalhes sobre a história parecia haver um aviso importante: o Manchester United não estava realmente à venda. Ou estava?

Estes não parecem ser os melhores momentos do Manchester United no mercado. A equipe largou em último lugar no Campeonato Inglês, no pior começo de temporada em mais de um século. O elenco de jogadores simboliza mais o ridículo do que admiração. Seus torcedores agora realizam protestos semanais contra os donos do time, a família Glazer, dos Estados Unidos. No entanto, apesar de seus problemas internos, pode não haver uma equipe esportiva mais cobiçada em qualquer lugar do mundo do que o Manchester United.

É um dos maiores times em qualquer lugar que pode ser de propriedade total de um dono. Joga na liga de futebol mais popular do mundo. Seu alcance se estende a todos os cantos do planeta. Ou seja, existem poucas marcas em qualquer setor tão poderosas quanto o Manchester United.

Mas ativos raros são notoriamente difíceis de avaliar seu valor pelos fundamentos tradicionais de mercado. O preço das ações do United, que está listado na Bolsa de Valores de Nova York, sugere que o clube vale US$ 2,23 bilhões (R$ 11,54 bilhões), um valor bem abaixo do recorde de US$ 3 bilhões (R$ 15,5 bilhões) que um grupo liderado pelo fundo californiano Clearlake pagou recentemente pelo Chelsea.

Torcedores do Manchester United protestam contra a família Glazer, dona do clube. Foto: REUTERS/David Klein

Mas o Chelsea, definitivamente, não é o Manchester United. Sim, o time londrino vem de sucesso recente e conta com alguns dos melhores jogadores do mundo. Mas em termos de alcance global, popularidade e poder da marca, o Chelsea não se compara ao United. O que o preço de venda do clube de Londres provou, no entanto, é que, quando se trata de avaliações de clubes de futebol de elite, o que está no balanço financeiro raramente conta.

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O Chelsea perdeu mais de US$ 1 milhão (R$ 5,1 milhões) por semana sob seu ex-proprietário, o oligarca russo Roman Abramovich. O clube precisa de um novo estádio e exigirá dezenas de milhões de dólares a mais em gastos a cada temporada para manter seu elenco competitivo. Seu preço de compra seguiu um leilão que atraiu o interesse de todo o mundo.

Para o Manchester United, a lista de interessados será ainda maior e ainda mais pública. Ratcliffe pode ter sido o primeiro, mas não será o último. A abordagem de Ratcliffe é talvez a mais provável do que pode acontecer no futuro. Ele parece não ter feito nenhum esforço para entrar em contato diretamente com os Glazers, ou mesmo entrar em contato com seus banqueiros. Em vez disso, ele foi direto falar com a imprensa e sugeriu que estaria aberto a comprar até mesmo uma parte das ações do United, com o objetivo de um dia adquirir tudo.

"Estamos interessados no clube, se estiver à venda", foi tudo o que um porta-voz de Ratcliffe estava disposto a dizer ao The New York Times. A tática desencadeou uma onda de apoio de torcedores e acumulou uma nova série de críticas aos atuais proprietários.

Para os Glazers, que sofreram ataques durante a maior parte de seu período como donos, vender uma parte minoritária do clube pode fazer sentido. Isso pode permitir que eles diminuam a crescente hostilidade dos torcedores - muitos nunca perdoaram os Glazers por endividar o clube, anteriormente livre de dívidas, em sua compra alavancada (leveraged buyout) por 800 milhões de libras, em 2005. (Nota: o “leveraged buyout” é uma prática em que se contrai um empréstimo e o dinheiro obtido é usado justamente para comprar um ativo, que passa a ser responsável por essa dívida). A Premier League está tentando agora tornar esse tipo de compra de clube uma prática ilegal - ao mesmo tempo em que aumenta a valorização do clube.

A família Glazer, dona do Manchester United, é alvo de constantes protestos e críticas da torcida do clube. Foto: REUTERS/Phil Noble

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Apesar de quase uma década de resultados ruins, o Manchester United ainda ganha mais do que quase todos os outros times no futebol mundial. A receita triplicou sob os Glazers, atingindo uma alta de 627 milhões de libras (R$ 3,9 bilhões) em 2019. Se o Chelsea vale US $ 3 bilhões (R$ 15,5 bilhões), o United, por causa de sua fama mundial, seu potencial de ganhos e seu status, vale muito mais, talvez até o dobro, afirmam alguns especialistas.

Ao mesmo tempo, não dá para minimizar o sentimento negativo dos torcedores do Manchester United em relação à família Glazer. Por mais de uma década, os torcedores protestaram contra os donos do clube em partidas e nas ruas; uma vez, eles até queimaram uma efígie do falecido patriarca da família, Malcolm Glazer. E quando o clube flertou com a adesão à proposta da Superliga Europeia no ano passado, os torcedores do United invadiram o estádio do time e protestaram em campo.

No momento, os Glazers, como fazem há duas décadas, não proferiram uma palavra publicamente sobre seus planos. Um porta-voz do Manchester United se negou a comentar o assunto. E agora, pelo menos oficialmente, o Manchester United não está à venda. O banco dos Glazers, o Rothschild & Co., de 200 anos e com sede em Londres, não está ouvindo propostas.

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É muito provável que as coisas aconteçam dessa forma no Manchester United. Vai chegar o momento e o preço certos para os proprietários mais impopulares da história do futebol inglês ganharem ao sair de cena com o que será considerado um dos negócios mais lucrativos da história do esporte.

Já custou ao Manchester United mais de um bilhão de libras (R$ 6 bilhões) – em juros, pagamentos de dívidas e dividendos – pelo direito de ser propriedade da família Glazer. A maioria dos torcedores considerará até perder bilhões a mais, mas desta vez na forma de um cheque final, um preço que vale a pena pagar para se livrar dos donos.

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