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Marcos quer pensar só no Palmeiras

Por Agencia Estado
Atualização:

Campeão mundial pela Seleção Brasileira, Marcos ainda não teve tempo para desfrutar a conquista. Uma semana após dar a volta olímpica em Yokohama, desembarcou em Teresina para disputar a Copa dos Campeões pelo Palmeiras, uma exigência da diretoria do clube. Neste domingo, ele volta a campo depois de 21 dias para enfrentar o Fluminense, e manda um aviso tanto para seus admiradores quanto para aqueles que o criticam: "Não fico andando para cima e para baixo com a camisa do Brasil. Para mim, a Copa já terminou". O goleiro não quer polemizar, mas ficou irritado com alguns comentários de que teria vindo para o Nordeste apenas para passar férias. Ainda com dores no pé direito, fez questão de treinar em dois períodos nos últimos dias para calar os críticos. Mesmo assim, como na Copa, afirma que vai entrar em campo neste domingo sob pressão. "Será meu primeiro jogo como campeão do mundo. É claro que as atenções estarão voltadas para mim". Em um raro momento em que não estava distribuindo autógrafos no saguão do hotel Rio Poty, Marcos falou à Agência Estado sobre vários aspectos de sua vida pessoal. A entrevista só foi interrompida para que o jogador pudesse entrar ao vivo em um programa de uma emissora de TV local. "Se dou autógrafos, falam que só penso na Seleção. Mas se não der, vão sair por aí dizendo que fiquei mascarado por causa do título. Estou num mato sem cachorro". AE - Você aprendeu a lidar com a fama após o título pela Seleção? Marcos - Sinceramente, não sei o que é fama. Para mim é o reconhecimento de um trabalho, só isso. Recebemos homenagens pela conquista da Copa, foi muito legal, mas aqui em Teresina as coisas não são como em São Paulo. A cidade é pequena, possibilita que eu saia do hotel tranqüilamente. Mas tenho certeza de que daqui a algum tempo ninguém vai lembrar que estava no time da Copa. AE - Assédio, como o que você está sofrendo aqui no Piauí, incomoda? M - Não incomoda, mas tira um pouco da privacidade. Isso é ruim. Mas acontece porque a Copa ainda está quente na cabeça da torcida. Daqui a pouco vai esfriar. AE - Praticamente todos os jogadores que ganharam a Copa estão de férias. Sua vinda para a Copa dos Campeões foi uma prova de seu amor pelo Palmeiras ou isso não existe mais? M - Eu sinceramente gosto do Palmeiras. Quero ajudar sempre o clube que me valorizou, que deu tudo o que tenho hoje. Imaginei que se permanecesse em São Paulo tratando da minha contusão no pé ficaria marcado pela imprensa como um jogador que está fazendo corpo mole. Sou profissional. AE - Esse profissionalismo te levaria a jogar algum dia no Corinthians ou no São Paulo? M - Não sei. Mas talvez jogasse. Faz parte da profissão. Tenho contrato com o Palmeiras até julho de 2004. Pode ser que a qualquer momento apareça um clube e faça uma proposta boa tanto para mim quanto para o Palmeiras. Quem garante que não seria vendido. A chance de uma transferência aparece para todos, quem sabe não apareça para mim. AE - Pretende sair do Brasil agora? M - Se a proposta for boa, estudaria com certeza. Sinto um frio na barriga só de pensar em morar fora do País, mas me acostumaria depois, como tudo na vida. Fico imaginando apenas a dificuldade em aprender uma língua estrangeira. Durante a Copa, por exemplo, não conseguia sequer pedir um sabonete para a camareira do hotel. Fui obrigado a guardar a embalagem do sabonete para mostrar o que queria e não ficar sem tomar banho. AE - Você passa a imagem, principalmente durante as partidas, de ser muito ligado à religião. Essa relação com o lado espiritual é levada para fora de campo? M - Olha, não sou religioso. Acredito muito em Deus, isso sim. E faço questão de agradecer todas as coisas boas que acontecem comigo diante dos olhos do público, nada mais justo. AE - Durante a Copa do Mundo, o Jornal da Tarde quis fazer uma matéria com sua namorada Sônia e você vetou. Por que essa preocupação em resguardar a família? M - Tenho que dividir o Marcos goleiro do Marcos cidadão. Disso não abro mão. AE - Pretende se casar? M - Claro, mas no momento não tenho planos. AE - Já pensou alguma vez em desistir de jogar futebol? M - Não, apesar dos inúmeros problemas que enfrentamos fora de campo. Eu não gosto, por exemplo, de dar entrevistas. Só dou sou porque sei que temos vários profissionais que precisam das minhas declarações, que trabalham em cima do futebol. Seria ótimo se minha vida fosse apenas jogar bola. Sair direto do vestiário após as partidas e voltar para casa. AE - Como você define o Marcos como pessoa? M - Sou uma pessoa simples, com forte personalidade. AE - Já sabe em quem irá votar para presidente da República? M - Não, ainda estou analisando os candidatos. Procuro acompanhar as propostas de todos eles para escolher o que melhor se adapte aos meus interesses, independentemente do partido a que pertença. AE - Qual a maior tristeza da sua vida? M - Sinceramente, não tive nenhuma grande tristeza. Talvez ainda não tenha realizado tudo o que gostaria, até pela falta de tempo. Infelizmente a profissão me obriga a passar a maior parte do tempo agradando aos outros. AE - Você está satisfeito com o que já ganhou? M - Nossa, mais do que satisfeito. Tenho tudo o que mereço. Na vida, jamais planejei alguma coisa, tudo aconteceu naturalmente. Se não pensasse assim, você acha que teria agüentado passar mais de oito anos da carreira na reserva até chegar a ser titular do Palmeiras? AE - Poucas pessoas sabem que você tem um filho, o Lucca, que está com três anos. Gostaria de falar dele? M - Claro. Brinco muito com ele, principalmente quando estou de folga e viajamos para Oriente (cidade natal do goleiro). É maravilhoso quando ele fala: "Papai, me leva para andar de bicicleta". Procuro fazer programas mais caseiros para valorizar os momentos que passamos juntos. AE - Você já está rico? M - Não. As pessoas têm a imagem de que jogador de futebol é milionário. Mas sobre o meu salário incide um desconto de 27% de imposto de renda. Eu ajudo demais a minha família. É claro que não sou hipócrita de imaginar que qualquer trabalhador comum ganha o mesmo que eu, mas não guardo tudo o que recebo. AE - O dinheiro mudou a sua vida? M - Mudou como? Não compro roupas de grife nos shoppings. Não gasto nada com relógios, correntes de ouro ou similares. Só compro praticamente CDs. Não tenho tempo para gastar o que ganho por causa do futebol. Ah, antes que me esqueça, boa parte do meu orçamento é destinada para colocar gasolina no carro. AE - É verdade que em praticamente todos os jogos das Eliminatórias você se apresentou usando o mesmo terno por não ter outro? M - Sim, é verdade. Eu tinha até a preocupação de trocar sempre a camisa de baixo para ninguém perceber. Só agora, depois da Copa, é que comprei mais dois ternos. AE - A tristeza por ter falhado na decisão do Mundial Interclubes de 1999 entre Palmeiras e Manchester foi compensada com o título da Copa do Mundo? M - A falha de 1999 já havia sido esquecida há muito tempo. Mesmo na Copa, ou em qualquer partida que dispute, estou sujeito a errar. AE - Você criticou a maneira como a questão da educação é tratada no Brasil. Pensa em voltar a estudar quando encerrar a carreira? M - Infelizmente interrompi os meus estudos antes de concluir o segundo grau por causa do futebol. Mas não priorizo retornar à escola quando parar com a bola. Aliás, nem imagino quando isso vai acontecer. AE - Você tem inimigos? M - Não, nenhum. Aliás, o que não me falta são amigos. Tenho medo de esquecer alguém, mas não dá para não falar do Vampeta, do Dida, do Sérgio (goleiro reserva do Palmeiras), e agora, do Lúcio e do Roque Junior, com quem convivi por quase dois meses na Copa do Mundo. Também não posso esquecer da turma de Oriente. Quando vou para lá, queimamos um boi inteiro. AE - Quem é o melhor treinador com quem já trabalhou? M - Todos que conheci foram bons, não gostaria de citar algum em especial. O Luxemburgo e o Felipão são ótimos. Mas até com o Celso Roth, tão criticado pela torcida do Palmeiras, eu aprendi. Ele armava a equipe muito bem taticamente. AE - A fama e o dinheiro trouxeram muitos amigos de ocasião? M - Não sei. Para mim, todos são amigos até prova em contrário. Não gosto de julgar sem conhecer. Encostar em mim não significa apenas interesse. AE - Para terminar, qual a maior lembrança que ficou da família Scolari? M - A de um grupo muito unido. Se soubesse que iríamos ganhar a Copa do Mundo, teria aproveitado muito mais o tempo no Japão e na Coréia. Aquele negócio de um jogador visitar o quarto do outro, de se dobrar para ajudar no que fosse preciso foi muito gostoso, eu jamais vou esquecer.

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