Ser jogadora de futebol no Brasil não é fácil, ainda mais para garotas na adolescência. Além do preconceito, precisam lidar também com muitos meninos que se irritam por ver alguém do pseudo “sexo frágil” jogando mais do que eles.
É comum ouvir de meninas habilidosas histórias em que elas levaram pancadas ou foram xingadas por garotos após um drible desconcertante. “Tem uns meninos que ficam bravo mesmo, que xingam, mandam você ir lavar louça ou brincar de boneca”, conta Vitória, de 14 anos, que defende o Centro Olímpico do Ibirapuera. “Antes, nem deixavam eu jogar, mas entrava na partida assim mesmo, atrapalhava todo mundo, fazia escândalo. Então eram obrigados a me deixar participar”, lembra, rindo, a zagueira, lateral e volante.
Companheira de Vitória, Giovana, de 13 anos, ainda tenta tirar os meninos do sério. “O que eu mais gosto é de dar caneta. Os moleques ficam bravos comigo e dou risada”, diz. Ela conta ainda que já foi xingada até por pais de meninos. “Durante os campeonatos, falam muitas bobagens. É o tempo todo.”
Com personalidade, muitas garotas conseguem superar o preconceito e acabam revertendo a situação. É o caso da volante Cris, de 13 anos também, que diz ter a fama de ser a craque de sua sala na escola. “Na hora de escolher o time, sempre sou uma das primeiras e o pessoal comenta que sou melhor do que qualquer menino da sala”, provoca.
A rivalidade entre os sexos acaba sendo mais comum entre os 13 e os 17 anos, segundo professores e técnicos das escolas. Para alguns meninos, perder a disputa para uma garota é motivo de vergonha. “Sempre que dou um drible, não me batem, mas os meninos ficam tirando sarro de quem foi driblado”, conta a atacante Sabrina, de 14 anos.