Mesmo sob investigação, Del Nero se fortalece na Fifa

Presidente da CBF coloca vários aliados em cargos estratégicos da entidade máxima do futebol mundial

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Por Jamil Chade e correspondente em Genebra
Atualização:

Marco Polo Del Nero está sob investigação da Fifa. Mas enquanto uma decisão sobre seu futuro não é tomada, ele fortalece sua influência nos órgãos de controle e de gestão da entidade. Vários de seus aliados estão posicionados em setores estratégicos da organização.

O presidente da CBF aproveitou o primeiro ano da gestão de Gianni Infantino para colocar gente de sua confiança na Fifa. Oficialmente, é a Conmebol que prepara uma lista de candidatos da região e a submete à Fifa. Mas, com a influência do Brasil na América do Sul, os nomes propostos pela CBF são considerados como uma ordem na Conmebol.

Marco Polo Del Nero não deve ser banido do futebol enquanto estiver no Brasil Foto: Wilton Junior/ Estadão

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Hoje, há dez brasileiros em diferentes comitês da Fifa ou aguardando para assumir cargos. Além de passagem e hospedagem pagas, cada um ganha US$ 250,00 por dia como contribuição. Mas é o status e a influência dentro do poder do futebol que mais contam. E todos são ligados à CBF e, por extensão, a Del Nero.

Um deles é Carlos Eugênio Lopes, diretor jurídico da CBF e que, na Fifa, faz parte do Comitê de Assuntos Legais. Foi ele que, em dezembro passado, rejeitou pedido de uma ala oposicionista da CBF que fosse feita investigação interna na entidade contra Del Nero.

Reinaldo Carneiro Bastos, que sucedeu Del Nero na presidência da Federação Paulista, também foi indicado a cargo na Fifa. Ainda não assumiu. Seu nome aguarda sinal verde do departamento que verifica a “ficha limpa” de cada um dos dirigentes.

O presidente da Federação Mineira, Castellar Guimarães Neto, já ocupa cadeira no Comitê do Status dos Jogadores. Ele foi escolhido depois de ter sido convidado para desenhar a reforma da CBF. O posto na Fifa foi um “agrado” da cúpula do futebol brasileiro. Ao ter seu nome confirmado, na semana passada, o dirigente comemorou dizendo que a nomeação “é uma conquista de todos os mineiros”.

No Comitê de Mídia da Fifa, o representante brasileiro é Marcelo Pinto, ex-diretor da TV Globo. Fernando Sarney, vice da CBF, está no Comitê de Organização da Copa do Mundo.

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Rinaldo Martorelli, que foi alvo de críticas do Bom Senso FC, é outro nome brasileiro na Fifa. Em 2015, ele adotou uma posição similar a de Del Nero quando, na capacidade de presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf), indicou que a ideia de uma liga era “ilegal e afeta direitos dos jogadores”. As declarações, na época, foram divulgadas pelo próprio site da CBF. 

Marta, finalista do prêmio de melhor do mundo, foi outra que passa a ocupar um cargo na Fifa, depois de indicada pela CBF. Questionada pelo Estado sobre sua opinião sobre as suspeitas de corrupção na entidade, ela evitou comentar.“Nosso trabalho é entrar em campo da melhor forma. Eu não trabalho na polícia. Sou atleta”, disse. Para ela, uma solução “tem de partir da CBF”. “Não posso interferir nisso. É indiferente”, afirmou. 

Outro que não quer tratar do assunto em público é Cafu, capitão do Penta e também indicado para um cargo em 2017 na Fifa. Questionado também sobre a situação de Del Nero, o ex-jogador preferiu não criticar. “Ele (Del Nero) é muito meu amigo. É uma situação ruim. Mas a decisão final é sempre dele. Ele sabe o momento que ele deve ficar ou sair ou não. O momento de nomear outra pessoa ou não. Ele é muito meu amigo e a decisão que ele tomar, vamos apoiar”, disse. 

Wilson Seneme, ex-instrutor de árbitro da CBF, também é outro que fará parte da Fifa em 2017. 

Procurada, a CBF, por meio de sua assessoria, disse que “as indicações são atribuição da Conmebol’’. Explicou que a CBF indica representantes para várias comissões da Conmebol e cabe à entidade sul-americana recomendar os nomes que considera pertinentes à Fifa.