Milionárias, vendas de revelações ajudam clubes a pagar contas

Mercado brasileiro pode receber só neste ano R$ 1 bilhão por transferências; valor chega a ser 20% da receita das equipes

Publicidade

PUBLICIDADE

Por Ciro Campos
4 min de leitura

A base tem pago boa parte das contas do futebol nacional, e dado um alívio nas gastanças dos clubes. Revelar e vender sempre esteve no DNA dos dirigentes brasileiros. Recentemente, passou a ser uma necessidade. A janela de transferências para o mercado internacional é um dos períodos mais importantes para as diretorias negociarem jovens talentos e, assim, compensarem o excesso de débitos ao longo das temporadas. Apesar de os times diversificarem receitas, negociar atletas ainda é a principal forma de encher os cofres.

+ Rosell vai a julgamento por lavagem de dinheiro

+ CBF marca final da Série D para 4 de agosto

Pelo menos nestes sete primeiros meses do ano, o balanço é bastante positivo para as equipes do País. As transferências feitas de jogadores de até 21 anos rumo a times estrangeiros envolveram a cifra aproximada de R$ 810 milhões. O número é do site alemão Transfermarkt, especializado no mercado de contratações. Grande parte desse montante foi investido em garotos como Rodrygo (Santos), Vinicius Junior (Flamengo) e Fernando (Palmeiras). Ou seja, meninos recém-saídos na base.

Vinicius Junior deixou o Flamengo aos 18 anos para jogar no Real Madrid Foto: Susana Vera/Real Madrid

Como ainda temos mais alguns meses de janela aberta, é possível que 2018 atinja cerca de R$ 1 bilhão injetados no futebol brasileiro – na média, contratações de jovens que tiveram pouco tempo para consolidar seus nomes no País. O atacante Róger Guedes, de 21 anos, partiu para a China quando liderava a artilharia do Brasileirão. Estava no Atlético-MG, que o comprou do Palmeiras meses antes.

Os valores das negociações são significativos principalmente pelo quanto impactam na finança dos clubes. Segundo estudos da agência de marketing esportivo Sports Value, até 20% das receitas dos times dependem da venda de jogadores.

Continua após a publicidade

A fatia pode ser ainda maior caso os cartolas brasileiros consigam valores melhores na hora de negociar. "O jogador é a única receita extraordinária para os clubes. Patrocínio e contratos de televisão, por exemplo, são acordos fechados e combinados para serem estendidos por anos ou períodos. Por isso, vender atleta acaba como uma salvação para as equipes", explica o sócio diretor da Sports Value, Amir Somoggi, que analisa há 15 anos finanças dos clubes.

Rodrygo será uma das próximas revelações do futebol brasileiro a ir para a Europa Foto: Werther Santana/Estadão

As transferências deste ano mostraram uma diferença em comparação às tradicionais saídas de atletas a cada temporada. Os europeus vieram sedentos por menores de idade. O Real Madrid investiu cerca de R$ 330 milhões em Vinicius Junior e Rodrygo, atacantes que tiveram as contratações fechadas antes de completarem 18 anos. Com Paulinho, ex-Vasco, foi parecido. O Bayer Leverkusen teve esperar o menino atingir a maioridade, em julho, para fazer o acerto de R$ 85 milhões.

A situação é bem diferente da vivenciada no Brasil na última década. As maiores revelações da época foram vendidas com mais idade. Robinho, por exemplo, deixou o Santos e foi para o Real Madrid em 2005 aos 21 anos, mesma idade da despedida de Kaká do São Paulo rumo ao Milan, dois anos antes. Neymar também saiu aos 21, em 2013, após o time da Vila Belmiro tentar segurá-lo ao máximo.

Os clubes brasileiros se planejam contando com algumas transferências na temporada. Cuidam do assunto com afinco. Na hora de elaborarem as previsões orçamentárias, citam o valor esperado a ser arrecadado com as vendas. O Corinthians trabalha dessa maneira. No fim de 2017, o time estimou arrecadar cerca de R$ 50 milhões com a saída de atletas ao longo deste ano. O São Paulo apresentou uma meta mais ousada: R$ 90 milhões com as negociações.

"Alguns clubes não sobrevivem sem a venda de jogadores, mesmo que a televisão seja a maior fonte de suas receitas. O dinheiro das transferências ajuda a tapar os buracos nas finanças", diz Somoggi. Mesmo se os times não quiserem negociar, acabam por ceder ao desejo dos atletas que pedem para sair.

Continua após a publicidade

"Não queremos vender ninguém, não estamos precisando disso, mas se o jogador quiser ir, não vamos segurar um atleta descontente. Isso acaba com o grupo. Quem quiser ir embora do clube, que bata na minha porta e fale. Aqui só vamos manter quem queira ficar", disse o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, sobre a perda recente de atletas para o exterior.

MOLDAGEM

Para empresários e dirigentes, essa procura por jogadores brasileiros cada vez mais cedo se justifica pelo planejamento. Clubes da Europa conseguem moldar e adaptar melhor os atletas ao estilo do seu time se já contarem com eles desde cedo. A pressa em contratar um garoto se explica também pela intensa concorrência entre os rivais estrangeiros por bons reforços.