'Na massa, o indivíduo abdica de seus próprios conceitos'

Especialista explica que em algumas situações o comportamento não reflete os princípios das pessoas

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Foto do author Almir Leite
Foto do author Raphael Ramos
Por Almir Leite e Raphael Ramos
Atualização:

Psicólogo esportivo e presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, João Ricardo Cozac considera estar ocorrendo um crescimento da agressividade nos estádios e comportamentos racistas e homofóbicos é reflexo disso. Ele alerta, porém, que quando fazem parte de um grupo, as pessoas acabam deixando a individualidade de lado em detrimento do comportamento coletivo. Com isso o indivíduo, em algumas ocasiões, pode deixar seus próprios princípio em segundo plano e ter atitudes que não fazem parte de sua cultura e conceitos. Cozac defende punições duras contra os atos de intolerância, mas também aconselha: “É preciso prevenir, fazer o que eu chamo de alfabetização emocional, para que os torcedores não prejudiquem o clube nem a si mesmos’’.Comportamentos racistas e homofóbicos podem ser atribuídos ao conceito de que tudo é permitido em um estádio de futebol?O que acontece é uma fusão emocional de pessoas que torcem para um clube. Essa simbiose pode gerar em alguns casos comportamentos violentos e homofóbicos.Como assim? O indivíduo, quando está na massa, tem a sua identificação dissipada pela identificação do grupo. Nesse caso, ele deixa de agir de acordo com seus próprios princípios. Por algumas horas, abdica de seus próprios conceitos. Isso leva a pessoa a ter atitudes que normalmente não teria? O discurso da Patrícia (Moreira, a torcedora do Grêmio que chamou Aranha de macaco) comprova isso. Ela disse não ser racista, mas teve uma atitude de racismo no calor do envolvimento com a massa.Não está havendo exagero? Está se perdendo um pouco as características das arenas, porque começa a haver um abuso no comportamento. O movimento de abdicar do eu em favor do grupo tem mostrado um crescimento da agressividade.As punições são caminho eficaz para controlar o problema? Eu acho que tem de ser severo nas punições. Mas também é preciso fazer a prevenção, informar as pessoas. Fazer o que chamo de alfabetização emocional do indivíduo para que os torcedores não prejudiquem o clube nem a si mesmos.

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