PUBLICIDADE

Publicidade

Narrações esportivas tradicionais se reinventam para se aproximarem do que fazem Gaules e Casimiro

Record e Band apostam em transmissões mais descontraídas; Henrique Pereira ganha destaque na Copa do Nordeste

Por Josué Seixas
Atualização:

"Esse narrador é p..." Foi assim que o streamer Casimiro Miguel definiu o alagoano Henrique Pereira, que vem se destacando nas transmissões da Copa do Nordeste, tanto na plataforma própria quanto no TikTok, onde a competição se tornou pioneira, como também na Rádio CBN Maceió e como apresentador da Band Nordeste.

A mudança do panorama das narrações esportivas de futebol vem sendo uma tônica nesta temporada. Na transmissão do Mundial de Clubes, por exemplo, a Band criou duas faixas de transmissão para a final: uma que seria mais sóbria, com comentaristas isentos e mais bem alinhados com as palavras, e outra com torcedores do Palmeiras, que garantiriam um tom mais divertido e humorado.

Equipe da TV Record é capitaneada pelos humoristas Bola e Carioca e contacom os jornalistas Márcio Canuto (ex-Globo) e Zé Luiz e, claro, pelo narrador Silvio Luiz Foto: Antonio Chahestian /Record TV

PUBLICIDADE

A Record também saiu com essa. Detentora dos direitos do Campeonato Paulista, a emissora se fez transmídia, com o uso da TV e da Internet para criar ainda mais proximidade com seus espectadores. Ou tentar. A emissora, inclusive, já conquistou a liderança das transmissões com esse formato em algumas ocasiões, capitaneada pelos humoristas Bola e Carioca, pelos jornalistas Márcio Canuto (ex-Globo) e Zé Luiz e, claro, pelo narrador Silvio Luiz.

O investimento das emissoras nas novas formas de se fazer transmissões esportivas também é sentido conforme o conteúdo é passado. No caso do NordesteFC, detentor da Copa do Nordeste, foi criada uma central de transmissão dedicada à estreia da disputa, entre CRB e Sport, que foi transmitida em três mídias: TV, aplicativo e TikTok, cada uma com suas características.

Acostumado a um tom mais leve, Henrique conta que conseguiu brincar ainda mais com a transmissão naquela rede social. Ele imita sons que viralizam, manda recados para colegas pessoais e até apela para referências do cotidiano, como o Big Brother Brasil ou um possível react de Casimiro na Twitch, para se divertir com sua audiência. A linguagem é totalmente desprovida de qualquer enredo. Fala-se o que vem na cabeça, e talvez essa seja a nova sacada para prender quem está acompanhando em casa.

“Eu sempre curti uma linguagem mais descontraída desde que me propus a narrar jogos, até porque sei que minha voz não é a “típica voz” de locutor. Sempre tive como referências caras que eram clássicos, mas que traziam um pouco de irreverência. Então, quis aliar as duas coisas, até porque cada vez mais o entretenimento anda junto da comunicação. Mas sem esquecer de passar credibilidade, claro”, diz.

Para jornalistas mais tarimbados no meio, o novo modelo causa certas preocupações. No caso do lendário Silvio Luiz, que está com 87 anos e décadas de transmissão, havia o receio de que a repercussão fosse negativa. Ele driblou o sentimento e aceitou o desafio do Campeonato Paulista e espera continuar fazendo dar certo.

Publicidade

“Gosto de novos desafios, mas no começo fiquei um pouco preocupado com a repercussão. Mas me disseram que o público gostou, que foi boa! Agora, continuamos trabalhando para acertar ainda mais o caminho a fim de atingir um público jovem, que vive na internet. É esse o nosso norte”, conta.

Agora, pare e pense em uma voz marcante, cheia de alegria, quase aos gritos, entrando em sua casa diariamente. Foi assim que Márcio Canuto, sempre com bom humor, direcionou a sua carreira durante 57 anos de ‘trabalho intenso’, como ele próprio define. Ele havia decidido se aposentar para viajar, mas a pandemia estragou os planos e trouxe consequências piores ao jornalista alagoano, ex-Globo.

“Eu fiquei frustrado. Inquieto, impaciente. Tive crise de ansiedade.Aí surgiu, na hora certa, este convite da Record TV. E com ele aquela dúvida: estou em condições físicas para enfrentar o sobe e desce da arquibancada, consciente de que não ia mais desfrutar do fim de semana? E seria capaz de manter o entusiasmo nesta minha volta aotrabalho?”. A resposta está no ar, nas transmissões dos jogos do Estadual.

Canuto ressalta estar se sentindo, de novo, um adolescente. Para dar conta das novas demandas, porém, ele teve de preparar a sua própria saúde, já que os 75 anos de idade exigem mais cuidado. Ele intensificou a rotina de exercícios físicos e ganhou fôlego para estar nas arquibancadas. “O pouco juízo que tenho disse que sim, que seria capaz. A empolgação que encontrei no encontro com o Antonio Guerreiro e o Clóvis Rabelo, amigos e gestores do jornalismo da Record, foi determinante. Eles me motivaram. Acrescente-se a isto minha saudade do futebol e do contato com o povo. Adoro esta convivência popular. Uma coisa que me emociona é a recepção das torcidas. Nos jogos que trabalhei, só recebi manifestação de carinho, de apreço e alegria. Espero que continue assim", disse.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

MAIS ESPECTADORES

As transmissões de eventos esportivos também ganharam novas nuances com streamers, à exemplo de Casimiro Miguel, que tem acordo com o Campeonato Carioca, e Gaules, o primeiro do mundo a realizar transmissões oficiais da NBA na Twitch, em 2021. O último também transmitiu a prova de Interlagos da Fórmula 1 do ano passado e tem acordo com a Stock Car Pro Series em 2022. Essas transmissões no Twitch fazem sucesso, fala diretamente com a molecada e já arrastou para dentro de sua plataforma personalidades como Neymar e Ronaldo, dono do Cruzeiro. 

De acordo com Bruno Maia, CEO da Feel The Match e executivo de inovação no esporte e autor do livro "Inovação é o Novo Marketing”, o caso de Casimiro é um dos que mais chamam a atenção entre os atuais, especialmente pela potencialidade atingida pelo streamer. "O Casimiro é um gênio no que faz e da sua geração. A essas pessoas é dado o dom de traduzir o zeitgeist em atitudes, obras, criações. O que ele tem feito é nos ajudar a visualizar o tempo que já nos cerca, as mudanças que já aconteceram e como elas dão nova forma ao mundo que vivemos. Ele faz tudo isso tanto pelo aspecto cultural do que produz quanto pela estética que apresenta, mas também fazendo o mercado de comunicação se dar conta de onde estamos chegando com a forma que conduz sua carreira com as escolhas que tem para si”, analisou.

Publicidade

No caso da Record, a proposta de ser transmídia de conteúdos já vinha ocorrendo em alguns casos. Segundo a Diretora de Conteúdo Digital e Transmídia da Record TV, Beatriz Cioffi, a ideia é que os programas sempre ultrapassem a grade da TV, ‘oferecendo uma experiência completa, 24 horas, com apoio dos seus produtos digitais’. A emissora entende que a transmissão do futebol é o que há de mais precioso.

“O principal produto digital do Campeonato Paulista precisava estar também baseado na transmissão. E para diferenciar do que já estava previsto para a TV, nada como entregar ao público uma linguagem que é a cara da internet, repleta de humor e com memes ao vivo, criados chute a chute, e mais: junto com quem está assistindo”, diz.

Segundo Cioffi, as conversas para essas transmissões surgiram desde a decisão da compra dos direitos do Campeonato Paulista. Os processos ainda estão em andamento, sob a possibilidade de criar um conteúdo melhor e em cocriação com o público, que comenta a transmissão nas redes a partir da hashtag #PaulistãoNaRecord.

“Conduzir uma transmissão com os comentários dos humoristas Carioca e Bola é certamente uma experiência engraçada. O clima te envolve! Sem contar que Silvio Luiz é muito divertido e abraçou o projeto. A química deu certo e o resultado foi muito espontâneo. As gargalhadas, como estão aí os vídeos virais do Bola para mostrar, são consequências naturais. Temos acompanhado os comentários nas plataformas digitais e o público tem gostado bastante de conhecer esse lado do locutor que é referência em narração para tantos brasileiros”, disse.

Sob a tendência das novas transmissões, Guilherme Figueiredo se tornou fundador e diretor executivo da NSports, primeira plataforma brasileira de streaming esportivo. Segundo ele, há um elemento muito brasileiro nisso, que é o fenômeno dos grandes streamers transmitindo esportes e obtendo recordes de audiência.

“No exterior, dois formatos chamaram a atenção recentemente: a Nickelodeon fazendo uma transmissão da NFL específica para crianças com efeitos visuais, explicações do jogo e repórteres infantis, e também os irmãos Manning fazendo uma transmissão do Monday Night Football quase em um formato talk show com convidados ilustres do passado, mas também com atletas do presente comentando”, analisou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.