Nas peneiras do Palmeiras, todos querem ser Gabriel Jesus

Meninos que querem entrar na base do Palmeiras se inspiram no artilheiro

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Por Gonçalo Junior
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Kellison bem que tentou disfarçar o choro quando foi escolhido na peneira do Palmeiras. Usou o indicador e o polegar para pressionar os olhos e abaixou a cabeça. Inventou que tinha de levantar o meião, mas o elástico frouxo, meio desbeiçado, não segurava mais nada. O menino de 16 anos fez tudo isso na beirada do campo, em pé, na frente de 30 meninos de 16 a 19 anos que dariam a vida para trocar de lugar com ele. Em vão. Só Kellison e mais dois goleiros foram selecionados no teste. Começava ali o seu sonho de ser o novo Gabriel Jesus.

“Meu sonho é ser como ele. O Gabriel Jesus tem uma coisa que eu gosto muito que é tentar driblar, ir para cima do zagueiro. Eu quero fazer as coisas que ele faz no Palmeiras”, diz o menino, morador da Vila Maria.

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Dos 30 garotos que participaram da peneira na quinta-feira no campo Maria Felizarda, do Grêmio Esportivo Campo Grande, zona sul de São Paulo, 26 deram respostas parecidas com a de Kellison, a de querer ser como Gabriel Jesus. As notas dissonantes vieram obviamente dos goleiros, do zagueiro Wesley Ivan, que apontou o beque Victor Hugo como seu modelo, e do meia Lucas Lima (sim, o mesmo nome do jogador do Santos), que escolheu Arouca, mas citou o atacante palmeirense como plano B no reflexo do seu espelho. Os outros foram unânimes em apontar Jesus como o caminho, independentemente da posição em que atuam. “Eu admiro a raça dele. É um jogador que briga pela bola e isso me motiva também”, diz o lateral Kayque Maciel.

Peneira é o termo mais comum, aquele que todo mundo sabe o que é, mas não é o mais correto. Os profissionais do Palmeiras preferem “avaliação”. Com essa quantidade e diversidade de candidatos, são realizadas apenas quatro por ano. Por isso, Kellison Ferreira da Silva chorou. “Eu não vou desistir. Não posso perder a autoestima”, diz Gustavo José Guilherme, eliminado pela quinta vez. No caso de Gustavo, ter Gabriel Jesus como espelho é obrigatório. “Ele é o melhor atacante do Brasil hoje. É aonde eu quero chegar”, diz o atacante.

Vários fatores explicam esse fascínio por Jesus. O primeiro é seu sucesso no clube. Em 2016, Gabriel Jesus confirmou a expectativa que os torcedores cultivam desde as categorias de base do Palmeiras, quando ele marcou 37 gols em 22 jogos em 2014 e quebrou o recorde do Campeonato Paulista sub-17. Hoje, é o artilheiro do Palmeiras no Brasileiro com 12 gols. Jesus fez tudo isso também na seleção. Conquistou a vaga de titular e se tornou um dos rostos marcantes da recuperação da equipe, agora sob o comando de Tite. Com cinco gols em seis partidas, é o palmeirense com melhor início no time brasileiro. Também foi protagonista da conquista do inédito ouro olímpico no Rio.

Jogadores ouvem avaliadores do Palmeiras Foto: Helvio Romero

Existe um aspecto subjetivo que o aproxima dos meninos da peneira. Gabriel Jesus gosta de reafirmar suas origens, que estão próximas das raízes desses garotos que passaram pela avaliação. Na semana passada, ele divulgou uma foto nas redes sociais ao lado de um muro que foi pintado em sua homenagem no Jardim Peri Peri, onde nasceu.

No mês passado, distribuiu chuteiras no campinho de terra onde começou a jogar futebol. “Fico mais animado porque a gente mora em lugares próximos. Também sou da zona norte”, comemora Kellison.

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O departamento de Captação do Centro de Formação de Atletas do Palmeiras também tem Gabriel Jesus como uma das referências. A área passou por uma grande reformulação recentemente, aumentou o número de avaliadores e dirige foco específico por categorias, do sub-11 ao sub-20. O objetivo é aumentar a integração entre a base e o profissional palmeirense.

Kellison foi o único jogador de linha aprovado no teste Foto: Helvio Romero

Hoje, quatro captadores (antigo olheiros) percorrem o Brasil inteiro atrás de novos Gabriéis. Mas buscam um diferencial. “Já faz parte da tradição do Palmeiras a procura por jogadores ofensivos. Na base, seguimos esse padrão. É preciso jogar para a frente, com organização e intensidade”, diz Jorge dos Santos, da área de Captação do clube.

“Torço para que a gente encontre um novo Gabriel Jesus, outro Vitinho, Augusto... Acredito que o diferencial do Palmeiras é colocar os garotos da base no profissional. A procura dos atletas pelo Palmeiras aumentou muito com essa aproximação”, diz seu Jorge, como é conhecido.

No mês de dezembro estão previstas avaliações, com formatos variáveis, em Conchal (SP), Maringá (SP), Itajaí (SC), São Carlos (SP) e Codó (MA). Esse trabalho já vem dando frutos. No Campeonato Paulista, as categorias sub-11, sub-13 e sub-15 do Palmeiras estão na final. O sub-17 foi vice-campeão mundial perdendo para o Real Madrid nos pênaltis e o sub-20 está na semifinal do torneio estadual.

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