Náutico voltou ao estádio dos Aflitos e reconquistou a torcida Léo Lemos|Divulgação
Após anos de prejuízo e pouca presença de público, clube resgata Aflitos como casa e recupera apoio popular. O time já está na Série B de 2020
Atualizado
Náutico voltou ao estádio dos Aflitos e reconquistou a torcida Léo Lemos|Divulgação
Sem padrão Fifa. Mas com padrão Náutico. O clube pernambucano adotou essa receita para fazer em 2019 uma temporada marcante dentro dos seus 118 anos de história. O time conquistou acesso para a Série B do Campeonato Brasileiro e disputa a partir de domingo a final da Série C, contra o Sampaio Corrêa (MA). Vai ter como um dos grandes trunfos na campanha o retorno à antiga casa. Ao abrir mão da Arena Pernambuco, feito para a Copa do Mundo, o Náutico volta ao estádio dos Aflitos. Com isso, renasceu no futebol e reconquista a própria torcida.
O ponto de virada nessa trajetória foi no passado. A diretoria intensificou as ações para romper o contrato com a Arena Pernambuco por se sentir descontente no local. O estádio localizado em São Lourenço da Mata, a cerca de 20 km do Recife, havia se tornado a única casa da equipe desde maio de 2014, embora nunca o Náutico tivesse se sentido confortável por lá. A distância, os preços dos ingressos e a falta de tradição atrapalhavam demais. O torcedor não gostava.
Segundo o presidente do Náutico, Edno Melo, a torcida continuou apegada demais à antiga casa. O estádio inaugurado há 80 anos fica em uma região privilegiada no Recife, tem capacidade para 19 mil pessoas e jamais foi esquecido pelo público alvirrubro. "A gente começou a perder torcida, perder identidade com o clube. Quando a gente ia para a Arena Pernambuco, tinha 180 torcedores nos jogos. Isso nunca foi a torcida do Náutico. O mesmo jogo se fosse nos Aflitos daria umas 6 mil pessoas. Estamos provando isso agora. Nosso estádio está decidindo os jogos", disse ao Estado. No último domingo, o time bateu o Juventude na semifinal da Série C diante de 13 mil pessoas.
Foi com emoção, de novo nos pênaltis! E deu Timbu! Estamos na final da Série C! Obrigado, Nação! Mais uma noite inesquecível nos Aflitos. Luta em campo, show na arquibancada. pic.twitter.com/pgGyAFCdbJ — Náutico (@nauticope) September 22, 2019
De 2014 até o fim de 2018, a equipe teve a Arena Pernambuco como o estádio principal e não guarda saudades deste período. De acordo com o dirigente, o público sentia no estádio padrão Fifa um ambiente frio, ao contrário da pressão e da festa comuns ao cenário vivido nos Aflitos. "A gente não se sentia em casa. Não se podia fazer nada. Faixa? Não podia levar. Soltar fogos? É proibido. Não tinha maleabilidade de preço de ingresso. Em vários jogos nós tínhamos prejuízo", contou.
Presidente do Náutico, Edno Melo, explica o processo de retorno do time para o estádio dos Aflitos
O clube decidiu então montar um plano para reformar o antigo estádio e assim voltar para casa. O estádio quase foi demolido para virar um shopping center anos atrás, mas o projeto acabou cancelado. Então, o Náutico traçou um plano para bancar uma reforma do local, com a busca por investidores e o lançamento de uma campanha chamada "Voltando pra casa". Os torcedores tiveram a oportunidade de pagar preços simbólicos e participarem, por exemplo, do replantio da grama.
O encerramento do contrato com a Arena Pernambuco precisou de aprovação dos sócios. O clube convocou uma assembleia geral para apreciar a proposta e teve ampla adesão. O retorno aos Aflitos se deu em dezembro do ano passado, em amistoso contra o Newell's Old Boys, da Argentina. A vitória alvirrubra por 1 a 0 teve a presença de 17 mil torcedores e a maior renda da história do futebol pernambucano: R$ 1,5 milhão.
"O Náutico estava há 13 anos sem ganhar um título. Se você fizesse uma pesquisa se o torcedor queria ganhar um título ou voltar para os Aflitos, garanto que 90% ia dizer que queria voltar ao estádio", comentou o presidente. O clube chegou a ter anos atrás cerca de 1,8 mil sócios torcedores adimplentes. Agora o número saltou para quase 16 mil.
Nesta temporada, o Náutico teve o estádio dos Aflitos como um grande aliado. Em 25 partidas disputadas em casa no ano, foram 16 vitórias, cinco empates e quatro derrotas. Na Série C, o aproveitamento como mandante é de 72%. A força da torcida ajudou a garantir o acesso e rendeu cenas marcantes. Após eliminar o Paysandu neste ano e confirmar a vaga na Série B de 2020, houve uma grande invasão de campo e um torcedor deu um beijo no árbitro Leandro Vuaden, que marcou um pênalti a favor do time nos acréscimos.
No próximo domingo, o Náutico volta aos Aflitos para iniciar uma outra decisão. O time recebe o Sampaio Corrêa pela primeira partida da final da Série C com promessa de grande público e toda a festa tradicional: faixas, foguetório, ruas lotadas na região e um ambiente típico de futebol "raiz".
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25 de setembro de 2019 | 13h00
A arrancada do Náutico na Série C do Campeonato Brasileiro rumo ao acesso está marcada por um personagem que não faz gol, mas virou ídolo da torcida. A diretoria lançou em agosto uma versão nova da mascote do clube e conquistou o apreço dos alvirrubros. O Timbu, espécie de gambá, teve a aparência refeita, ganhou traços de animal enfezado e até recebeu o carinhoso apelido de "Timbu de Chernobyl".
Inspirado por mascotes com cara de bravo, como o Canarinho, da seleção brasileira, e o Santo Paulo, do São Paulo, o Náutico quis elaborar uma versão própria. "Eu quis uma mascote que tirasse a docilidade. O Timbu anterior parecia de festa infantil. Queria uma figura de 'cabra-macho', que instigasse a torcida e fizesse o adversário sentir que o Náutico estava pronto para tudo", disse o vice-presidente de marketing e comunicação do Náutico, Ricardo Mello.
O dirigente afirmou que o conceito do personagem veio do projeto de fazer a torcida recuperar o moral após ter visto o clube amargar resultados ruins recentemente, em especial em momentos decisivos. O intuito foi mostrar que o "novo" Náutico, além do retorno ao estádio dos Aflitos, teria também uma postura mais aguerrida e sem temer os rivais.
Os traços agressivos do Timbu causaram grande impacto, inclusive na imprensa internacional. A primeira aparição dele foi em agosto, já com a criação instantânea do apelido "Timbu de Chernobyl", uma referência à usina nuclear ucraniana que sofreu um grave acidente em 1986. "Ao olhar para o Timbu, a sensação é de um sobrevivente, de um resistente, que passa por tudo e continua lutando. A repercussão fugiu do controle positivamente. Ficamos felizes", analisou Mello.
O Náutico cuidou de treinar um funcionário do clube para atuar como Timbu. O papel dele é entrar em campo, cativar a torcida e fazer pose. Até agora deu certo. Desde a estreia dele, o time não perdeu mais dentro de casa. O presidente do Náutico, Edno Melo, disse que o sucesso da mascote foi inesperado. "Eu particularmente achei o bicho feio, mas o timbu não é um animal bonito. Só que caiu na graça da torcida. O que a gente queria era ter alguém que desse medo", explicou.
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