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Nem mundial, nem dos campeões, foi título de editorial

´O Estado de S. Paulo´, em sua edição do dia 24 de junho de 1954, criticou a criação do torneio internacional e os critérios de classificação das equipes

Por Agencia Estado
Atualização:

Como a Taça Rio foi disputada há quase 56 anos, são poucos os registros envolvendo a análise da competição. O melhor caminho são os jornais, já que filmes são raros, e as transmissões pelas rádios se perderam com o tempo. Com base nisso e o depoimento de jogadores, o Palmeiras formou seu dossiê que foi entregue à Fifa. O jornal O Estado de S. Paulo, em sua edição do dia 24 de junho de 1954, criticou a criação do torneio e sua qualificação. Abaixo, a reprodução deste texto, publicado na página 17: NEM MUNDIAL, NEM DOS CAMPEÕES O Estádio do Maracanã e o êxito financeiro do Campeonato do Mundo constituíram, como se está vendo, um incentivo poderoso às realizações da C.B.D. em relação ao futebol profissional. Ela corre, porém, o risco de ser mal sucedida em seus propósitos. A disputa da Taça "Jules Rimet", no Brasil, foi, não há dúvida, uma distinção para nós e não se pode negar que ela concorreu, de muito, para que tivéssemos mais um notável centro de esportes, classificado entre os melhores do mundo, no momento e a Confederação Brasileira, em suas incumbências de organização e direção, saiu-se às maravilhas, excetuando-se apenas pequenos senões, como, por exemplo, o cambio negro dos ingressos... Mas não houve falhas com referência à hospedagem e locomoção das delegações visitantes, nem o público esportivo se fez lembrado por expansões impróprias, tão freqüentes nos desenrolar das pelejas futebolísticas. É possível, admitimos, que as atuações dos árbitros, todos eles experientes e experimentados em encontros de importância, não tenham sido perfeitas, mas as pequenas falhas que por ventura se apresentaram foram alheias aos deveres e obrigações da Confederação e, além disso, influíram muito pouco, se é que influíram alguma coisa, nos resultados. Assim, do ponto de vista esportivo-social, bem como do financeiro, dificilmente poderia ter sido maior o êxito alcançado pela disputa do Campeonato Mundial de Futebol. Tecnicamente, todavia, deixou muito a desejar, dado os limitados recursos que a maioria dos concorrentes, inclusive do selecionado italiano, que defendia, no certame, o título que conquistará na França em 1938. Por isso, quando se divulgou a intenção da C.B.D. de realizar, em junho, um Torneio dos Campeões, de que participariam os clubes campeões de vários países e - é claro - o campeão brasileiro, que seria ou pelo menos deveria ser indicado por meio de um certame eliminatório entre os vários campeões estaduais, não aplaudimos o projeto, que, além dos outros inconvenientes, teria, como vai ter, o de perturbar seriamente a marcha dos campeonatos do Rio e de S. Paulo. Além disso, cumpria ter presente que os torcedores não são cegos e não confundir o entusiasmo e o interesse extraordinário que revelaram - resultantes exclusivamente da possibilidade, que se transformou em certeza na serie final dos jogos, da seleção brasileira conquistar o título - com incapacidade de reconhecer o que é bom e o que é mau. É verdade que eles, em geral, são excessivamente otimistas, mas também é certo que os quadros estrangeiros, com exceção do uruguaio, o campeão, e o iugoslavo, que fez uma bonita luta com os brasileiros, não deixaram dúvidas sobre as respectivas possibilidades técnicas, demasiadamente fracas para que fossem ou sejam considerados adversários de classes. De resto, as temporadas internacionais, isto é, as excursões de vários dos nossos quadros à Europa, robusteceram consideravelmente a impressão pouco favorável, naquele particular, que seus representantes deram nos jogos da Taça "Jules Rimet". No entanto, a C.B.D. levou por diante o seu projeto e vai agora, no dia 30, iniciar a disputa do que denomina "Torneio dos Campeões", com a participação do Olimpic (sic.), campeão francês; do Estrela Vermelha, que não é campeão da Iugoslávia, do Sporting, campeão português, da Juventus, que não é campeão italiano; do Nacional, campeão uruguaio; do Áustria, que não é campeão da Áustria e, finalmente, do Vasco e do Palmeiras, que não são campeões brasileiros, e sim carioca e paulista, como não seria possível esclarecer. Realiza-se, pois, o chamado "Torneio dos Campeões", que talvez possa oferecer pelejas interessantes, graças ao concurso dos quadros carioca, paulista, uruguaio e do austríaco, que, segundo se afirma, é adversário de primeira ordem. É admissível, não obstante, o risco do malogro financeiro, pelos repetidos e fáceis revezes de conjuntos europeus diante de adversários brasileiros, em jogos realizados aqui e na Europa. Talvez haja êxito econômico apesar dos pesares. Mas, com ele ou sem ele, é aconselhável, além de honesto, que se mude a denominação do certame, mesmo porque, pelo simples exame da relação dos concorrentes, verifica-se que ele não é dos Campeões e muito menos Mundial...

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