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Noitadas e bebida quase derrubaram Celsinho, ex-Portuguesa, sósia de Ronaldinho

Atacante foi para a Rússia com 16 anos, ganhou bom dinheiro e começou a beber acima da média. Conselho da avó o salvou

Por Daniel Batista
Atualização:

SÃO PAULO - Promessa do futebol brasileiro em 2005 e comparado a Ronaldinho Gaúcho - pelo futebol e pela fisionomia - o meia Celsinho, da Portuguesa, era o sonho de consumo de clubes do Brasil e do exterior. Mas uma transferência para o futebol russo e as facilidades do mundo da bola fizeram com que a carreira promissora se tornasse uma decepção. O vilão disso tudo: o álcool. Em entrevista exclusiva ao Estadão, o jogador de 23 anos, que atualmente defende o Targu Mures, da Romênia, confessa que a bebedeira estragou parte de seus sonhos e conta de seu passado melancólico, prometendo ser um novo homem. Por isso, resolveu abrir o jogo e espera servir de lição para os mais jovens.Como você foi parar na Romênia?Eu tinha também propostas da Arábia Saudita, da Inglaterra e da França, mas fiquei com receio de não dar o retorno esperado para esses clubes por ter jogado pouco em 2010, por causa de lesões e por ter ficado um tempo sem clube. Optei pela Romênia para dar um passo atrás para depois dar vários à frente. Em junho estou livre para jogar onde quiser.Fez muitas escolhas erradas na carreira?O meu maior erro foi ter saído do Brasil com 16 anos para ir jogar no Lokomotiv. A Rússia é um país totalmente diferente. Fui bem lá profissionalmente, mas pessoalmente foi péssimo ter saído tão jovem e ainda tendo inúmeras propostas de outros clubes. Que propostas você tinha? E porque então optou pelo Lokomotiv?Cruzeiro, São Paulo, Porto, Manchester United, um clube da França que não lembro o nome... Foi difícil a escolha, mas eu olhei só para o lado financeiro. Dois dias antes de viajar para a Rússia, o Porto fez uma proposta ainda melhor, mas o Lokomotiv foi e cobriu. Tudo isso mexeu com a sua cabeça?Demais. Tinha de sustentar cinco famílias e tudo estava na minha mão. Vi que aceitar a proposta do Lokomotiv era boa financeiramente para a minha família, por isso fui. Agradeço a Deus, mas cometi muitos erros. Absorvi tudo e hoje me tornei alguém diferente do que era.Quais foram os erros?Me perdi no mundo de facilidades que jogador de futebol tem, principalmente se você ganha bem. Me perdi em carros, bagunça, balada... Coisas que em Americana (cidade do interior paulista onde nasceu) eu não tinha. Era muito dinheiro e tudo muito fácil. Ganhava 10 na Portuguesa e passei a ganhar 500 no Lokomotiv. Imagine você com 16 anos nessa situação? Você se perde mesmo. Exagerou nas bebidas e com as mulheres?Mulheres não, porque eu já namorava a minha atual mulher, mas em relação a balada, virava a noite várias vezes, bebendo direto. Foi nessa loucura dos 16 aos 19 anos, mais ou menos.Chegou a treinar bêbado?Algumas vezes. Já teve situações de eu chegar em casa umas 8 horas porque tinha de estar no CT às 9. Ia direto para o treino, sem dormir. Chegava bêbado e isso me atrapalhava no treino. Ia para balada umas quatro, cinco vezes por semana, mas drogas nunca usei, embora vivesse cercado delas. Ia com quem? Com outros jogadores brasileiros?Com amigos. De vez em quando me encontrava com alguns jogadores brasileiros. Mas só eu e o Fininho (ex-lateral do Corinthians) éramos os mais ligados na noite. Os outros iam, mas sabiam o limite.Nunca sentiu vergonha?Na época não. Pelo contrário, achava lindo. Contava com o maior orgulho que eu ia trabalhar bêbado. Achava que estava sendo "o cara". Hoje sei o quanto é constrangedor saber que já falei desse assunto "me sentindo o cara". Isso é ridículo.No clube ninguém falava nada?Não. As broncas que eu levava era por não render em campo. Mas não rendia por causa das baladas. E sua família. O que te dizia?Todo mundo me dava bronca, mas eu achava que podia fazer tudo, porque tinha o controle da situação e era o dono da razão.O que fez você mudar?Em 2010, quando estava na Portuguesa, saiu uma matéria que deu grande confusão na minha vida (foi acusado de fazer festa até altas horas da noite com som alto, bebedeira e mulheres). Aí, dona Maria, minha avó, falou algo que pegou no ponto: "Filho, você chegou ao fundo do poço. Maravilha! Do fundo do poço você não passa, então se erga e volte para cima". Foi duro ouvir isso. E depois?Resolvi que não queria mais essa vida. Queria voltar a jogar futebol e ser o Celsinho que todo mundo esperava. O nascimento do meu filho (Felipe Gabriel, que tem 5 anos atualmente) foi a coisa mais abençoada que Deus me deu. Ele me dá força. Eu hoje não trabalho para o Celsinho, mas sim para o Felipe. Por causa dele, não posso e não vou mais fraquejar, porque, se eu fizer isso, ele vem junto comigo. Surgiram muitas amizades oportunistas?Aprendi uma coisa: não faça amizade depois que você vira jogador. Se você tem uma situação financeira melhor, brotam amizades. Mas os verdadeiros amigos são aqueles do passado, que ralaram com você quando você não era ninguém. Até hoje tenho problemas de falsas amizades. Tive problemas com carros, empréstimos que a pessoa fez com meu nome e isso acabou atrapalhando minha vida. Que recado você pode dar para um garoto que está entrando no futebol?Cuidado. Não caia em tentação, porque o único derrotado será você. Tenha dignidade e saiba aproveitar o dom que Deus lhe deu. Quando você entra no mundo da bola, tudo que parecia distante começa a aparecer com facilidade: baladas, mulheres, fama... Mas tudo vai embora com uma velocidade impressionante se você não souber cuidar da sua vida. Quais os planos para carreira?Tenho contrato com o Targu até junho e aí estou livre para jogar onde quiser. Quero voltar para o Brasil e limpar minha imagem. Estou preparado para fazer aquilo que sei, que é jogar futebol. Com a cabeça de um novo Celsinho. Um Celsinho homem, um pai de família.

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