Novo caso de racismo no futebol ocorre no interior de MG

Torcedor ofende lateral do Uberlândia durante partida do Módulo II do Campeonato Mineiro

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Por Fábio Hecico e Rene Moreira
Atualização:

SÃO PAULO - Mais um caso de racismo foi registrado no futebol brasileiro no final de semana - agora em Patos de Minas, no interior de Minas Gerais. Mas, ao contrário do que havia acontecido com os volantes Tinga, do Cruzeiro, e Arouca, do Santos, o agressor, desta vez, foi parar na delegacia.No jogo entre Mamoré e Uberlândia, no último domingo, pelo Módulo II (segunda divisão) do Campeonato Mineiro, o torcedor do time da casa Marcelo Carlos Fernandes, de 45 anos, foi detido após chamar o lateral-esquerdo reserva Francisco Assis, do Uberlândia, de "macaco, negro, safado e fedorento" na hora do aquecimento. Depois que policiais e testemunhas presenciaram os xingamentos, um boletim de ocorrência por ofensa racial foi registrado pela Polícia Militar no próprio local, o estádio Bernardo Rubinger de Queiroz.O acusado alegou que não proferiu palavras racistas, mas teria dito apenas: "safado, vagabundo e pilantra". Após ser ouvido, o torcedor foi liberado no final da tarde de domingo após assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência, registro para infrações menos graves com pena máxima de até dois anos.O episódio teve um desfecho diferente dos dois casos recentes de racismo com jogadores brasileiros, quando nenhum dos agressores havia sido preso. No dia 13 de fevereiro, o volante Tinga, do Cruzeiro, foi ofendido no jogo contra o Real Garcilaso, do Peru, pela Copa Libertadores. Quando o atleta tocava na bola, os torcedores do clube peruano imitavam macacos na arquibancada. Um mês após o fato, a Conmebol não anunciou se vai punir o time peruano.Na última quinta-feira, em Mogi Mirim (SP), o volante Arouca, do Santos, foi chamado de "macaco" após a goleada do seu time por 5 a 2. O estádio do Mogi Mirim foi interditado e o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) vai julgar o caso na próxima segunda. Rivaldo, presidente do clube do interior, prometeu identificar e punir os torcedores, mas ninguém ainda foi detido.PUNIÇÃOO departamento jurídico do Uberlândia vai entrar nesta terça com uma ação na Federação Mineira de Futebol (FMF) cobrando uma severa pena ao Mamoré e ao torcedor Marcelo Fernandes - a ação não foi feita nesta segunda porque os dirigentes do clube participaram de uma reunião na entidade para a definição da tabela da segunda fase do Módulo II."Queremos uma punição digna ao torcedor que xingou o Assis e também o clube (Mamoré). Isso não pode acontecer com um ser humano", disparou José Elias, o Zecão, supervisor de futebol do clube. "Vamos pedir tudo o que tivermos direito na Justiça. Até mesmo a desclassificação do rival", revelou.O dirigente conta que o jogador ficou bastante abalado. Na volta para Uberlândia, estava cabisbaixo e calado. Os dirigentes tentaram reanimá-lo e colocaram uma psicóloga à sua disposição. Depois de uma noite de pouco sono, Francisco Assis resolveu erguer a cabeça e nesta segunda treinou com os companheiros em Uberlândia. "Ele conseguiu fazer um treino normal, mas fica a imagem daquela coisa chata", disse o supervisor.

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