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Novo presidente do Vitória tenta reorganizar clube e promete metas grandes

Eleito em dezembro, Ricardo David quer brigar por vaga na Copa Libertadores

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O Vitória passou por momentos difíceis em 2017, dentro e fora de campo. Dentro, o clube se salvou do rebaixamento apenas na última rodada do Campeonato Brasileiro pelo segundo ano consecutivo, graças a resultados de outros times. Fora, o presidente Ivã de Almeida renunciou após a sua gestão ser considerada temerária para as finanças e uma nova eleição teve que ser organizada menos de um ano após a anterior. Eleito, Ricardo David tenta reorganizar o clube e promete metas grandes: brigar por Copa Libertadores no Brasileirão.

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Como o clube estava nos aspectos financeiros e administrativos quando você assumiu?

Eu assumi o Vitória no dia 14 de dezembro e elegemos três prioridades: levantamento da situação financeira, renovação com os atletas que estavam no elenco e a contratação de novos atletas para a temporada 2018. A situação financeira: nós encontramos o clube com um déficit operacional relativamente importante, com algumas obrigações com atletas e comissão técnica em atraso, o que é muito desconfortável. Não é bom você manter qualquer funcionário do clube, mas principalmente jogadores e comissão técnica em atraso. Com obrigações do ponto tributário também em atraso, o que poderia conduzir pra questões complicadas do ponto de vista do Profut que nos impediria de ter as certidões negativas de débito, principalmente para efeito de patrocínio. Por exemplo, nós temos aí o patrocínio da Caixa e também fazer operações bancárias. A situação financeira era uma situação um tanto quanto crítica e nós sabíamos que teríamos aí esse desafio de curto prazo que foi sanado com a venda de um dos nossos atletas, o David, que foi vendido para o Cruzeiro.

Ricardo David após vencer eleição para presidente do Vitória. Foto: Maurícia da Matta/ EC Vitória

A venda de atletas foi só para o curto prazo?

Só a do David. Já a venda do Tréllez para o São Paulo nos deu um oxigênio para que a gente possa efetivamente formar um elenco competitivo para os desafios que a gente tem esse ano, Campeonato Baiano, Copa do Nordeste, duas competições que nós temos ambição de sermos os vencedores, e também Copa do Brasil e Brasileiro de série A, que pretendemos chegar em níveis bem mais elevados do que nos últimos anos.

Quais você considera que foram as principais mudanças que você já realizou no clube?

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A primeira coisa é a própria mudança da gestão do clube. Todos os diretores hoje do Vitória, incluindo presidente e vice-presidente trabalham em regime integral. Isso faz com que todos aqueles que estão no Vitória estejam dedicados exclusivamente ao nosso projeto. Foi reformulado todo o setor de comunicação do clube, o setor jurídico, nós estamos agora reformulando o setor de patrimônio. O setor financeiro também passou por uma reforma.Tudo para que esses departamentos pudessem estar nas mãos de profissionais mais adequados ao nosso modelo. Passamos também a dar um sinal claro de valorização da nossa base. Um clube como o Vitória, que tem a história de ser um grande clube formador, precisa ter investimentos concretos no futebol de base. Para se ter uma ideia, o Vitória não disputa uma competição internacional na base há 14 anos. Em 2018, vamos voltar aí a disputar competições internacionais, já temos uma que vai acontecer agora em março em que nos faremos representar. Nós temos uma oportunidade de mostrar o nosso produto, valorizar nossa marca dentro de uma concepção de internacionalização. A gente precisa estar voltado para o mercado lá fora, não só para levar os nossos, mas também tirar de lá atletas que nós identifiquemos como úteis ao nosso projeto e que eles possam se integrar ao elenco do Vitória.

E para o futebol, foram feitas mudanças?

Trocamos o departamento de futebol, e um novo diretor foi escolhido, o Erasmo Damiani, principalmente por ser um profissional com grande experiência em divisão de base. Ele foi por dois anos diretor da CBF e traz consigo o título da medalha olímpica inédita no Brasil, o que dá a ele também uma experiência também com atletas mais experientes que estavam naquela seleção.

Haverá mais mudanças nas categorias de base?

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Nós vamos aumentar a quantidade de observadores no sentido de poder formar essas categorias com jovens mais qualificados. Vamos aumentar o número de participações dessas categorias em competições, elas precisam estar o tempo todo sendo testadas. Nós vamos criar protocolos de transição. O que é um protocolo de transição? É você preparar os atletas da base para virarem jogadores profissionais. Porque não é só o talento individual, você precisa ter uma maturidade tática, física e, principalmente com jovens dessa idade, uma maturidade psicológica.

Como ficará o programa de sócio-torcedor?

Estamos em fase de reestruturação do nosso plano de sócio-torcedor. Precisamos dar mais benefícios. A percepção de vantagem pra que o nosso torcedor se associe tem que ser mais clara. Programa de sócio-torcedor não pode ser apenas um programa de ingressos. Temos um estádio próprio, e temos uma oportunidade de oferecer essa propriedade para o torcedor. Mas nós já verificamos que pra ele virar sócio, ele precisa ter uma percepção maior, então vamos criar uma rede de vantagens e benefícios que vamos lançar em breve, dentro de um ou dois meses. Estamos preparando a base dessa mudança e vamos fazer uma reativação muito forte do programa sócio-torcedor, o que vai motivar um maior engajamento, a gente precisa trazer o torcedor pra dentro da administração.

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Haverá alguma mudança no Barradão?

O Barradão é nossa casa. O Vitória tem o privilégio de ter o seu próprio estádio, privilégio que hoje clubes grandes como o Flamengo, Cruzeiro e Atlético Mineiro não tem. Ele vai passar por algumas reformas, visando dar um maior conforto ao nosso torcedor. Nós temos consciência de que o nosso estádio não é um estádio adequado às modernas exigências, porque nós tivemos uma Copa do Mundo recentemente e o torcedor brasileiro acostumou a frequentar essas arenas mais modernas, então temos como objetivo de requalificar o nosso Barradão, colocando uma cobertura, cadeiras, uma setorização que permita um ingresso mais barato. Futebol precisa disso, precisa ser um vetor de propiciar também o indivíduo de baixa renda o acesso ao estádio. Não podemos ter um futebol elitizado, precisamos que essa reforma no Barradão contemple isso.

O Vitória pretende jogar na Fonte Nova também?

Jogos na Arena Fonte Nova são possíveis sim, eu não tiro essa hipótese, mas serão muito pontuais e obviamente atendendo a algum objetivo, como uma reforma ou outro interesse nosso que o Barradão esteja incompatível, o que é muito raro. Enfim, nossa intenção é jogar todas as partidas no Barradão sim, mas nós vamos qualificá-lo e pra qualificar obviamente que eu vou precisar jogar fora a Arena Fonte Nova é o palco para o qual será transferido

Você mencionou os torcedores. Como pretende levar a relação com eles?

Com os torcedores nós vamos implantar um programa onde nós vamos conversar direto. Torcedor precisa ouvir diretamente, precisa conhecer mais o que se passa dentro de um clube de futebol. Ele precisa compreender quais são as lógicas com quais um presidente decide, porque senão pensa o seguinte: tá aqui fora como torcedor, ele enxerga uma coisa, quando vira presidente ele muda? Não é que muda, é que ao ser presidente, temos p conhecimento de lógicas que o torcedor normal não acessa. Eu pretendo levar essa informação para o torcedor, pretendo discutir com ele. Por exemplo: o torcedor chega hoje e diz "não tem problema o clube se endividar não, ele tem que ganhar campeonato". Ele tem que entender que com a nova regulamentação, principalmente aí do Profut, o clube tem obrigações, e as obrigações, se não forem cumpridas, podem resultar em penalidades, não só para o clube como para o seu dirigente também. Durante a campanha eu fiz isso, eu levei isso diretamente com os torcedores, e percebo que quando são esclarecidos, quando a informação chega limpa e transparente para eles, a compreensão é imediata.

E com as organizadas?

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Com as torcidas organizadas, tem que se reconhecer o papel delas no teatro do futebol. É importante a participação delas mas obviamente que essa relação tem que ser uma relação transparente, uma relação que seja de igualdade, você não pode privilegiar uma em relação às outras e tem que ter critérios de como essa relação vai ser desenvolvida, sempre baseado em posturas éticas tanto de um lado quanto do outro.

Na questão financeira, como estão receita, despesas e déficit?

Nós herdamos um 2017 com um déficit bastante significativo. Nós estamos concluindo o balanço do ano que passou, vamos publicar no nosso site oficial, sem dúvida nenhuma vai se verificar. Mas com as medidas que já estamos tomando, reduzindo os custos, com a venda desses dois atletas, David e Tréllez, o torcedor do Vitória pode ter certeza, que nas competições que nós estamos, campeonato baiano, copa do Nordeste e início da Copa do Brasil vamos atuar de uma forma bem competitiva. No Campeonato Brasileiro da série A, onde vamos buscar outras fontes de receitas, para se qualificar mais ainda, já que por se tratar de uma competição de longo prazo, nós precisamos de um elenco não só de qualidade mas também de quantidade para suportar a jornada.

Como será realizado esse aumento de receitas, além do sócio-torcedor já mencionado?

Estamos em contato com vários patrocinadores e desenvolvendo alguns patrocínios que não posso revelar porque está no meio da negociação. O torcedor do Vitória vai ver alguns bem criativos, estamos buscando identificar de que maneira nós podemos ativar com a nossa torcida o produto do patrocinador. Estamos construindo uma maneira de estabelecer essa relação patrocinador-clube de forma que os dois saiam ganhando com esse processo, para não ser relação fria, de estabelecer um valor para o nome dele estampado na nossa camisa. Além de que, nós estamos desenvolvendo outras modalidades de patrocínio, não só de camisa, de utilizar nas nossas redes sociais. Daí virão novas receitas para a qualificação do elenco.

Como foi traçado o planejamento do futebol em 2018? Qual perfil de reforços foi buscado?

Nós tivemos uma grande vantagem, que foi a decisão de manter a comissão técnica que encerrou 2017. Se olharmos o desempenho do Vitória no segundo semestre de 2017,foi uma campanha de pré-Libertadores. Então, é um trabalho que veio sendo feito de maneira satisfatória. Para 2018, sentamos com essa comissão que tem o Vagner Mancini como treinador, um profissional altamente competente, e traçamos todo um planejamento do elenco. Para começar agora, essas duas competições, a utilização da espinha dorsal do último semestre, então mantivemos e renovamos com alguns atletas que encerraram a competição, que, em linguagem de bola mesmo, entendem o que o treinador quer; mesclar esta equipe com jogadores da base, porque é importante dar essa oportunidade nesse início de temporada, já que enfrentamos, teoricamente, adversários de menor qualidade, e é uma boa hora pra fazer um processo de transição com nossos atletas de base. Iremos reforçar mais a partir de março, abril, para que tenhamos no Campeonato Brasileiro uma equipe mais qualificada.

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Quais posições precisam ser reforçadas?

Precisamos reforçar a lateral-direita, precisamos de mais um zagueiro e isso já estamos em vias de contratação, e principalmente, meias, aquele meia de ligação que é uma peça rara no futebol brasileiro. Não temos hoje mais meias no elenco porque não queremos, mas porque há uma dificuldade para encontrá-los. Partimos agora também para monitorar o mercado principalmente sul-americano, com o objetivo de identificar atletas que se encaixem no modelo do treinado. Além de que nós perdemos agora no início todo nosso ataque. Nós tivemos David, Tréllez e Kieza, os três saíram e obviamente já estamos repondo mas são áreas ainda vamos precisar qualificar.

Como você pretende tratar os outros esportes do clube, como o basquete?

Vamos continuar investindo nisso. Nós escolhemos um novo diretor de esportes olímpicos cuja principal missão é buscar a autossuficiência, para que não precise migrar recursos do futebol profissional para esses esportes. Existem recursos disponíveis no Ministério do Esporte e em outras instâncias que vamos estruturar para buscar. Somos único clube na Bahia com investimentos na área do esportes olímpicos e entendemos que esses esportes podem trazer maior exposição à marca do Vitória e de seus patrocinadores. Além disso, também pensamos que esses esportes promovem inserção social, permitindo que o jovem esteja vinculado a uma atividade esportiva e não às drogas, por exemplo. Por isso, vamos manter o basquete, onde tivemos ótimo resultado na NBB, terminando em quarto no ano passado, o remo, modalidade muito tradicional dentro do clube, vôlei, futebol de salão, entre outros.

Quais metas vocês estabeleceram para o ano? Títulos ou vagas para competições internacionais, por exemplo?

Campeonato Baiano ou Copa do Nordeste eu não posso almejar outra coisa a não ser o título. Nós temos a hegemonia recente do Campeonato Baiano e somos os maiores vencedores da Copa do Nordeste. Um clube com essa história não pode almejar outra coisa a não ser levantar a taça das duas. Na Copa do Brasil, o mais à frente onde nós pudermos ir, e pelas atuais regras do Campeonato Brasileiro, que acho que brigar por uma Libertadores não está longe do nosso sonho não. Nós vamos brigar sim por uma Libertadores.

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