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O bandeirinha que atrapalhou a máfia

Por Agencia Estado
Atualização:

Nelson Souza Góes é diretor do Sindicato dos Vidreiros de São Paulo. E também árbitro há 25 anos, filiado à Federação Paulista desde 86. Góes era o assistente número 1 de Paulo José Danelon no jogo entre Santos e Guarani (0 a 0), na Vila, válido pelo Paulistão, em 10 de fevereiro, e anulou um gol (legítimo) do santista Basílio. O bandeirinha não fazia idéia que Danelon havia ?se vendido? por R$ 10 mil ao apostador Nagib Fayad para ajudar o Santos. ?Não sabia, mas já suspeitava.? Góes foi excluído do quadro de árbitros da CBF e colocado na ?geladeira? da Federação logo após aquela partida. Nunca mais atuou ?na elite?, apenas em três jogos da Copa Federação, torneio menos badalado. Nesta entrevista à Agência Estado, Góes diz que nunca participou de esquema, conta seu drama e acusa: ?O Danelon, assim como o Edílson (de Carvalho, o outro árbitro investigado), também começou a apitar com diploma de escolaridade falso?. Agência Estado - Você se surpreendeu com as denúncias sobre o Danelon? Nelson Souza Góes - Eu já suspeitava. A gente nota coisas diferentes. AE - Como naquele 0 a 0 entre Santos e Guarani? Góes - Sim. Ele expulsou um jogador do Guarani (o volante Serginho) após uma falta que não era nem para amarelo. Foi na minha frente. AE - Você foi afastado do quadro da CBF e entrou na ?geladeira? da Federação. Por quê? Góes - Tenho certeza que foi por causa desse jogo do Santos. Anulei um gol do Basílio, legítimo. Foi um erro. Pedi perdão. Quem não erra? AE - Segundo Danelon, o esquema era para favorecer o Santos. Góes - O Danelon nunca me falou de esquema. Se falasse, eu não aceitaria. Sou honesto, trabalho como árbitro há 25 anos, estou na Federação desde 1986 e estava na CBF desde 1997. Chorei quando perdi o distintivo da CBF! Me chamaram de ladrão, vi meu nome na imprensa e... ninguém faz idéia do que estou sofrendo. Até no trabalho tive problemas, gente me xingando. AE - Qual foi a explicação que deram para o seu afastamento? Góes - O Sérgio Corrêa (presidente do Sindicato dos Árbitros) disse que era uma ordem do Marco Polo Del Nero (presidente da Federação). Desde então, tento falar com o senhor Del Nero. Mas ele nunca me atende. Acho errado que o presidente do Sindicato também faça parte da Comissão de Arbitragem. Quando mais precisei do Sérgio, ele deu as costas para mim. AE - Dizem que a relação do Danelon com a comissão de arbitragem era a melhor possível. Góes - É verdade. Ele sempre ajudou nas reuniões dos árbitros, levava slides, era amigo de todos. O árbitro que disser que não é amigo do Danelon está mentindo. Já o Edílson era fechadão. Danelon sempre teve moral com o pessoal, mas não tinha tanta assim para afastar alguém. Os dois eram os queridinhos da Federação. AE - Membros da comissão de arbitragem estão envolvidos nesse esquema de apostas? Góes - Não sei. Isso eu não posso falar. AE - Mas você acha que eles podem estar envolvidos? Góes - Não sei. Não posso falar. AE - Qual sua relação com Danelon? Góes - Éramos amigos. Uma vez a Federação sorteou um carro entre os árbitros e ele ganhou. Era um Fiat Uno. Falei: ?Danelon, vende o carro e compra uma casa própria, que você ainda não tem?. Ele me ouviu e fez exatamente isso. O que me dói é ver que hoje ele anda com um Fox zerinho e eu ando a pé. E pode escrever aí: ele começou apitando com diploma falso. Ele tinha um contato bom lá na Federação, que arranjou tudo para ele. Depois, trocou pelo diploma verdadeiro. É por isso que hoje é difícil provar. AE - O que você pretende fazer? Góes - Só quero encerrar minha carreira com dignidade. Tenho 43 anos e faltam só dois para me aposentar. Quero parar de cabeça erguida. Na verdade, ainda não sei se vou continuar. É o que gosto de fazer, mas depois disso tudo... não sei. AE - Você deve ser convocado pela PF para depor... Góes - Meu nome foi citado. Vou com prazer, falar tudo o que sei.

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