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O Majestoso, sua mística e a direção do trem

Estádio da Ponte Preta, que já foi um dos mais imponentes do País, se prepara para a primeira partida da final estadual

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Foto do author Gonçalo Junior
Por Gonçalo Junior e de Campinas
Atualização:

Boa parte dos torcedores da Ponte Preta no estádio Moisés Lucarelli vai dividir a atenção entre o gramado e a linha de trem, que pode ser vista das arquibancadas. Para muitos, os trens de carga influenciam nos jogos. Se o trem vai em direção a Jundiaí, as chances de vitória da Ponte aumentam. Se ele for na direção contrária, o time perde ou empata. O palco da primeira final do Paulistão ajuda a explicar a história e a mística do time mais antigo do Estado.

“A ferrovia faz parte da história da Ponte Preta”, explica o professor José Moraes dos Santos Neto, historiador do clube.  Quando foi construída, em 1872, a ferrovia fechou a passagem do Bairro Alto ao centro. Para resolver o problema, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro construiu uma ponte de madeira, que foi enegrecida com piche para durar mais. Uma ponte preta. A região virou o bairro da Ponte Preta, a manjedoura do futebol em Campinas. Hoje, ela foi substituída por um viaduto. A função viária se perdeu e ficou apenas a dimensão afetiva para a torcida. 

Moisés Lucarelli, estádio da Ponte, é um dos mais antigos e tradicionais de São Paulo Foto: Amanda Perobelli/Estadão

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Nos anos 1960, a linha do trem virou arquibancada. Quem não tinha dinheiro para o ingresso via as partidas dali, mas a vista é parcial, só dá para ver metade do campo. 

A Associação Atlética Ponte Preta surgiu em 1900 no bairro onde moravam negros, imigrantes, operários e ferroviários. A casa própria do time demorou a sair. Incomodado com as chacotas dos amigos, o comerciante e industrial Moysés Lucarelli (a grafia era com “y” e não com “i”, como o estádio) comprou a chácara Maranhão no início dos anos 1940. Dono da fábrica de fogões elétricos Dako, Moysés investiu bastante, mas não sozinho. “Quem não tinha dinheiro poderia doar tijolos”, conta o jornalista e historiador Stephan Campineiro, especialista na história do time campineiro. 

O estádio não teve uma construtora. Não precisou. Ao longo de quatro anos, um mutirão de até duas mil pessoas colocava a mão na massa – e nos tijolos e nas barras de ferro. Foi inaugurado em 1948. Embora supervisionado por arquitetos e engenheiros, o acabamento não ficou perfeito, afinal, gente de todas as profissões trabalhou ali. Até hoje é possível encontrar tijolos desalinhados em uma das paredes do banheiro masculino, em uma das poucas áreas originais. 

A mítica linha de tremque pode ser vista das arquibancadas Foto: Amanda Perobelli/Estadão

O apelido Majestoso se deve à capacidade de 30 mil, que só era menor que a do Pacaembu e a de São Januário (o Maracanã ainda não havia sido construído). Hoje, a arena deve receber cerca de 17 mil pessoas. “O estádio é nosso orgulho”, admite o torcedor Douglas da Silva, que armou uma barraca na frente do Moisés Lucarelli para garantir seu ingresso dois dias antes da abertura das bilheterias. 

O cantor sertanejo Marcelo Perfeito acha que toda aquela energia dos mutirões da construção permaneceu ali dentro do estádio. “É um templo sagrado que dá força para o time”, diz o filho de Alfredo Perfeito, ponta da Ponte nos anos 1980. 

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No Majestoso, a Ponte venceu o Santos (duas vezes) e o Palmeiras. Perfeito cita duas vitórias do time nas quais o trem passou na direção certa.

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