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Opinião|O que pode acontecer com Abel Ferreira e Hernán Crespo em caso de eliminação na Libertadores?

Treinadores vivem, claro, a expectativa da classificação e sabem o que ela representa para suas carreiras no Brasil, mas conhecem o dissabor da queda diante de um rival

Foto do author Robson Morelli
Atualização:

Abel Ferreira e Hernán Crespo travam um duelo particular no Allianz Parque. São dois bons treinadores que tentam se firmar e fazer história no futebol pentacampeão do mundo. Não é pouco para eles. Sabem também o que significa uma eliminação na noite desta terça-feira na Libertadores, sobretudo do ponto de vista de serem dois vencedores e cheios de apetite como suas respectivas torcidas. Apenas um deles estará classificado para a semifinal da competição, com nova cota de premiação, o que quer dizer mais dinheiro em caixa para o patrão, e mais perto do título que ambos almejam.

O fracasso significa uma semana tensa com os torcedores, queda na confiança para a sequência da temporada e mais cobranças. O Palmeiras ainda não ganhou nada em 2021. O São Paulo já tem o Campeonato Paulista. O time de Crespo ainda está vivo na Copa do Brasil. O Palmeiras foi eliminado diante do CRB. A equipe de Abel persegue o líder do Brasileirão, o Atlético-MG, e até outro dia estava na ponta da tabela. O São Paulo se enrosca na competição nacional desde que ela começou e se viu em algumas ocasiões dentro do grupo que será rebaixado.

Palmeiras de Abel Ferreira precisa reagir no Brasileirão após série negativa Foto: Cristiane Mattos/Reuters

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Abel Ferreira está mais pressionado, embora seja o atual campeão do torneio sul-americano. Esperava-se que o Palmeiras fosse ter mais facilidade na temporada e que também ganhasse torneios e taças que não conseguiu. As maiores derrocadas foram a final do Paulistão e a eliminação precoce dentro de sua casa para o CRB na Copa do Brasil. Os pecados foram colocados também na conta do treinador. Nem precisava. Ele mesmo assumiu sua parcela de culpa, o que não tira de Abel a condição de bom treinador. Não há qualquer perspectiva de trocar de comando mesmo com a eliminação do Palmeiras na Libertadores. Isso não passa pela cabeça da diretoria nem da torcida. Ele confia no seu elenco. "Os jogadores sabem o quanto eu confio neles e o quanto nos preparamos mentalmente", disse Abel após a derrota para o Atlético-MG pelo Campeonato Brasileiro. Ele disse ainda que fez algumas alterações no time em Minas já pensando no jogo com o São Paulo. O treinador também garante a volta do goleiro Weverton, que se machucou no Mineirão. "Num primeiro momento, ele ficou com a visão um pouco turva e tonto (no choque). Mas já está recuperado e bem. Podemos contar com ele para o jogo."

Se acontecer o pior, Abel terá apenas o Brasileirão para salvar a temporada, com semanas livres para treinar e um caminho para correr atrás do líder Atlético-MG. São cinco pontos que separam as duas equipes na classificação. O Palmeiras perderia ainda a possibilidade de se juntar ao grupo dos tricampeões da competição, ao lado de Grêmio, Santos e do próprio São Paulo. O Palmeiras foi campeão em 1999 e 2020. O São Paulo teria a chance de ganhar sua quarta Libertadores.

Uma derrota do Palmeiras também poderia antecipar projetos de 2022, como a reformulação do elenco. Não se trata de mudanças radicais nem mesmo da troca de muitos jogadores. A diretoria, aliada à comissão técnica, tem feito acertos pontuais no elenco nas últimas temporadas, e antecipado suas reformulações. Felipe Melo, por exemplo, termina seu compromisso com o clube neste ano. Não terá seu contrato renovado. Sem a Libertadores, algumas rescisões podem ser adiantadas. Lucas Lima é outro cujo contrato deverá ser rescindido. Ele não joga, está nas mãos da diretoria e não tem aval da torcida. É baixa certa. 

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Há um 'senão' no meio desse caminho para Abel Ferreira, que é a troca de comando no clube. O presidente Mauricio Galiotte deixa a presidência no fim do ano, quando o Palmeiras terá novas eleições. A principal candidata é a conselheira Leila Pereira, dona da maior patrocinadora do time desde 2015. Nas últimas temporadas, a Crefisa investiu mais de R$ 200 milhões no futebol. Seria a primeira mulher a comandar o Palmeiras. O futebol geralmente fica à margem do processo de sucessão. Pelo menos até o fim da temporada. Tudo isso está em jogo na partida que o time vai fazer nesta terça com o São Paulo.

Abel deixou o jogo de ida com a certeza de ter nas mãos um time competitivo. "As melhores oportunidades da primeira etapa foram nossas. Conseguimos ter bola, conseguimos desmontar nosso adversário. Depois do gol sofrido, mantivemos a calma, o foco e fomos capazes de fazer com toda justiça o gol do empate. Na minha opinião, se fosse para ter um vencedor, teria de ser o Palmeiras", comentou. "Mostramos uma grande capacidade mental"

TRICOLOR

Hernán Crespo também tem seus objetivos nos 90 minutos ou pênaltis, caso o placar do Morumbi de 1 a 1 se repita no Allianz Parque. O São Paulo nunca perdeu para o Palmeiras em Libertadores, mas essa história é do passado. O presente mostra dificuldades para a equipe do Morumbi, que só quebrou jejum de conquistas com o Paulistão deste ano. Sem dinheiro, o elenco fez contratações pontuais e teve na chegada do treinador argentino, escolhido pelo coordenador Muricy Ramalho, sua maior aposta. Até agora tem dado certo. O São Paulo está vivo em três competições e ganhou uma em 2021.

A Libertadores já foi obsessão para o são-paulino. De anos para cá, o que o elenco queria era apenas erguer uma taça. Uma derrota para seu rival Palmeiras terá consequências mesmo assim. O Estadual não é parâmetro para medir o trabalho de Crespo. A Libertadores sim. Ele ganhou a Sul-americana com o Defensa y Justicia. Sabe disputar torneios sul-americanos como bom argentino que é. Mas só isso não basta. Está em desvantagem e vai enfrentar o atual campeão dentro de sua casa. E ainda com a vantagem do empate sem gols. Crespo terá de montar um São Paulo para atacar. Terá de correr riscos.

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Crespo dando treino no CT da Barra Funda. Foto: Rubens Chiri/SaoPauloFC.Net

Se depender da confiaça do treinador, o São Paulo será um rival duro. "Jogamos contra o último campeão da América, um jogo muito equilibrado. Passamos em vantagem, tivemos a possibilidade de fazer o segundo gol. Libertadores é assim. Estou convencido de que vamos chegar no Allianz Parque para fazer história. Como campeão da América e o elenco, eles são os favoritos, mas acreditamos. Temos um elenco com gana, vontade de ganhar."

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Crespo apostou num time misto diante do Grêmio no Brasileirão e deu certo. Poupou jogadores para dar tudo na Libertadores. Um fracasso jogará novamente o grupo para baixo, como tem sido nas últimas edições. O São Paulo tem batido na trave. Crespo também não corre risco de perder o emprego em caso de derrota, a não ser que ele queira sair, o que nunca foi ventilado. Mas será cobrado. Tirar o time do buraco do Nacional passará a ser seu maior desafio. O São Paulo nunca caiu no Brasileirão. E terá de apostar tudo também na Copa do Brasil. Recentemente, ele comentou sobre a falta de tempo para treinar. Sem a Libertadores, passará a ter semanas mais livres. Mas não é isso o que ele quer.

Diferentemente do que pode ocorrer com o Palmeiras, a queda do São Paulo não deve apressar qualquer processo de reformulação no elenco, até porque o clube vem fazendo isso gradativamente desde a eleição do presidente Julio Casares. O último a sair foi Hernanes. Existe ainda a discussão dos pagamentos de Daniel Alves, que tem mais dois anos de contrato e já disse para pessoas próximas que quer ficar até o fim do seu acordo. Seu desafio é voltar a disputar uma Copa do Mundo, e vai usar suas apresentações no Morumbi para convencer Tite a levá-lo para o Catar.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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