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Na pandemia, a responsabilidade dos jogadores para o futebol continuar

Pode comício, avião cheio, bar lotado e o futebol tem que parar?

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Por Mauro Cezar Pereira
Atualização:

Times mutilados, técnicos fora de combate ou sem saber como escalar seus times diante de inúmeros desfalques. Aos contundidos e suspensos, somam-se os infectados pelo novo coronavírus, na realidade atual do futebol.

Vozes clamando pela interrupção das competições, dos jogos, não faltam. Basta que um atleta a mais apareça com o vírus que os defensores do #ficaemcasa incondicional ressurgem com força e engajamento.

O jornalista Mauro Cezar Pereira é colunista de Esportes do Estadão Foto: Helvio Romero/Estadão

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Como se o único problema fosse o futebol. Como se não tivéssemos bares cheios, festas, raves, restaurantes lotados, aglomerações em elevadores, aviões decolando e pousando com lotação máxima. Hipocrisia que chama, é?

Curioso como alguns defendem que a bola não role e os mesmos não se manifestem, indignados, ante a reunião de centenas ou milhares de seres humanos em comícios. Ou reagem com fúria dependendo do candidato?

Não, esse não é um texto negacionista. Tampouco defensor da política adotada pelo governo federal para encarar a pandemia, com ministros demitidos, Ministério da Saúde sem titular e incentivo à reunião de pessoas sem máscara. Apenas parece ser razoável observar o cenário de maneira mais abrangente após oito longos meses. Afinal, o futebol contribuiu com a luta contra o novo coronavírus ao paralisar seus certames em março, por quase todo o mundo.

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Desde o retorno da bola rolando na Bundelisga, os alemães mostraram o caminho, logo seguido pelas demais ligas europeias. No Brasil as pelejas também voltaram, mas a quantidade de profissionais infectados tem sido maior.

Será “culpa” do futebol? Em maioria, os atletas e demais integrantes dos departamentos de futebol profissional dos clubes brasileiros seguem regiamente as regras, os protocolos? Ou em alguns casos se deixam infectar por falta de cuidado?

Se for isso, basta que um ou outro encontre o vírus para que o mesmo seja levado ao ambiente de trabalho. Interromper as competições novamente, sabe-se lá até quando, seria solução de quê? Para quê?

É óbvio que os protocolos poderiam ser melhores, que partidas poderiam ser adiadas diante de um determinado número de infectados, mas os clubes também não quiseram isso. O mesmo vale para os profissionais.

Jogadores de futebol raramente se manifestam a respeito. Quando o Flamengo acelerou a volta, o que se viu? Atletas demonstrando satisfação pela retorno às atividades, mesmo em meio a muita polêmica.

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Adiante, quando os rubro-negros encaravam um surto de covid-19 no elenco e dirigentes tentaram adiar a peleja diante do Palmeiras, integrantes do time paulista reagiram contra o Sindicato dos Atletas. Uma nota chegou a ser emitida por eles.

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Diante da tentativa da entidade de impedir, na Justiça, a realização da partida contra o time carioca repleto de infectados, atletas palmeirenses a desautorizaram. E reiteraram o interesse em jogar.

O comportamento dos jogadores é pouco debatido. Mas após cerca de 100 dias sem futebol, quando os elencos começaram a voltar aos clubes para testes e depois treinos, havia grupos com muitos infectados.

Em determinado momento, 23 de 33 atletas do Corinthians testaram positivo, ou seja, 69% do elenco. Já o Vasco tinha 19! O questionamento raramente feito: esses profissionais cumpriram seus papéis. Se isolaram, como deveriam, em quarentena?

 humanidade não pode se isolar por tempo indeterminado. É preciso seguir, com responsabilidade, limites, cuidados e ajustes necessários. Se a bola parar de vez, astros ricos seguirão bem, mas milhões que dependem, direta ou indiretamente, do futebol sofrerão consequências. Infectados, ou não.

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