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Onda de investimentos toma conta do futebol brasileiro

Várias empresas do país criaram departamentos específicos com o objetivo de investir em jovens jogadores

Por Andrew Downie
Atualização:

Recentemente, numa tarde de segunda-feira, funcionários de uma empresa analisavam no seu escritório os jogos de futebol do final de semana, apontando os melhores jogadores. Um indicava um zagueiro talentoso; outro um jogador que vem marcando regularmente num dos principais times da segunda divisão, enquanto o diretor estava ansioso por assinar com um jogador da defesa, ainda adolescente, cujo contrato venceria logo. Poderia ser uma escalação de futebol nos Estados Unidos, mas estas transações são absolutamente reais. Este é o escritório da Traffic, uma empresa brasileira que cuida de uma nova e controvertida onda de investimentos no futebol do país. Com R$ 20 milhões próprios (cerca de US$ 12 milhões) e R$ 20 milhões que espera conseguir dos investidores, a Traffic está comprando os contratos de jovens jogadores de todo o Brasil. A companhia pretende emprestar os meninos para algum time que lhes pagará um salário, permitindo ao mesmo tempo que eles exibam seus talentos. Se forem contratados por um grande time europeu, a Traffic e seus sócios receberão a maior parte da taxa de transferência. O jogador, em geral, recebe o pagamento de luvas na hora da assinatura, e freqüentemente, um salário considerável. "Em vez de investir na Bolsa ou em imóveis, estas pessoas investem na compra dos direitos federativos dos jogadores de futebol", disse Júlio Mariz, presidente da Traffic. Iniciativas semelhantes em investimentos em atletas foram discutidas recentemente no beisebol nos EUA e no futebol na Grã-Bretanha, mas nenhuma delas decolou como aconteceu no Brasil. Este tipo de negócio é questionável; a federação internacional de futebol proibiu o envolvimento de terceiros nestas transações. Entretanto, sem investimentos de fora, muitos clubes brasileiros iriam à falência. No ano passado, surgiram várias empresas como a Traffic e algumas das maiores companhias brasileiras - até mesmo supermercados - criaram departamentos de futebol para investir em jogadores jovens, à espera de um dia mandá-los para clubes europeus que estão com a mão no talão de cheques. "Investimos US$ 10 milhões ao ano, mas o negócio está crescendo rapidamente porque existe a possibilidade de lucros consideráveis", disse Thiago Ferro, sócio do Departamento de Investimentos em Futebol do Grupo Sonda de supermercados. "Proporcionamos retornos de 150% ao ano". Antigamente, os clubes eram donos dos direitos federativos de um jogador contratado pelo time. Quando outro time queria contratar o jogador, tinha de pagar ao clube atual uma taxa de transferência, além de acertar as condições com o jogador. Mas nos últimos anos, o jogador livre vem se firmando no futebol. Embora os contratos dos jogadores estejam nas mãos dos times, conforme estipulam as normas internacionais, os investidores estão se envolvendo cada vez mais diretamente. O novo modelo é muito atraente para os investidores, porque uma grande venda pode garantir retornos espetaculares. A Traffic prevê lucros de 30% anuais, segundo Mariz. O Grupo Sonda espera retornos maiores ainda, porque está interessado em alguns grandes negócios e não em vários jogadores de nível médio, como a Traffic. Os retornos projetados pelo Grupo Sonda são mais altos porque a estratégia é mais arriscada. A Traffic paga dividendos semestrais, graças às negociações dos jogadores. Quando um jogador é negociado, os investidores dividem a taxa de transferência com os clubes, de acordo com as respectivas participações. Os clubes brasileiros adotaram o novo modelo porque, desse modo, podem levantar dinheiro sem ter de negociar seus jogadores rapidamente e com maior freqüência. E quando, inevitavelmente, precisam negociá-los, as somas enormes, que podem chegar a US$ 50 milhões, garantem a sobrevivência dos clubes. "Se quisermos um time decente, precisaremos de ajuda financeira", disse Carlos Augusto Montenegro, vice-presidente de futebol do Botafogo, que tem pelo menos seis jogadores contratados por empréstimo por estes fundos ou por investidores. "Sabemos que eles nos usam como vitrine, mas isto é bom para o jogador, bom para o empresário e bom para o Botafogo. Se houvesse outra alternativa, iríamos atrás dela, mas por enquanto é o que temos, e funciona", assinalou.

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