Palmeiras investe alto, mas vê reforços fracassarem em 2019

Clube gastou cerca de R$ 140 milhões, atrás apenas de Flamengo, e corre o risco de terminar temporada sem ter conquistado algum título

Publicidade

PUBLICIDADE

Por Guilherme Amaro
5 min de leitura

Clubes mais ricos do Brasil, Palmeiras e Flamengo foram os que mais investiram em contratações para a temporada. Enquanto o Rubro-negro desembolsou cerca de R$ 180 milhões e viu os reforços corresponderem em campo, com o título do Campeonato Carioca, a liderança do Campeonato Brasileiro e com a equipe na semifinal da Libertadores, o Alviverde gastou quase R$ 140 milhões, caiu em todos os campeonatos e teve poucos atletas que se firmaram como titulares. Alguns, inclusive, já deixaram a equipe.

A falta de resultados do Palmeiras deixou a torcida insatisfeita com o elenco e principalmente com o diretor de futebol Alexandre Mattos, que passou a ser alvo da maior organizada do clube. Há menos de três meses do final do ano, o Alviverde vê seu projeto esportivo para a temporada indo por água abaixo.

Diretoria já planeja mudar perfil do elenco para 2020 Foto: Cesar Greco//Palmeiras

Mesmo com a irregularidade apresentada em campo durante a temporada, Mattos continua com prestígio dentro do clube. Entre os cartolas mais próximos à presidência, a avaliação é de que Mattos errou, mas o projeto proposto por ele para o Palmeiras é vencedor. Dessa forma, ele é peça fundamental na sequência do segundo mandato do presidente Maurício Galiotte, que termina no final de 2021. 

Internamente, os dirigentes ainda falam que o planejamento para a próxima temporada terá “correções e alinhamentos” para que o que for considerado como erro em 2019 não se repita nos próximos anos. A ordem para Mattos, para o gerente de futebol Cícero Souza e para o técnico Mano Menezes é trabalhar.

Publicamente, Mattos admitiu que uma mudança no perfil dos próximos reforços “uma hora vai acontecer”. De acordo com o diretor, a ideia é melhorar o elenco com contratações pontuais para 2020. Nesta temporada, por exemplo, muitas apostas foram em jogadores pensado a médio prazo, para os próximos anos. 

“O Palmeiras, talvez por planejamento, por estruturar isso, gera expectativa e somos cobrados um pouco acima do normal. O que pagamos hoje para os jogadores os outros também pagam. Se você for no Inter, Cruzeiro, Grêmio ou Flamengo, eles pagam a mesma coisa e estão de parabéns. As equipes estão se organizando e temos que parabenizar todas”, disse Mattos, após a eliminação do Palmeiras na Copa Libertadores da América.

Continua após a publicidade

Dos dez jogadores que demandaram investimento do Palmeiras para esta temporada, dois já estavam no elenco alviverde. O clube comprou os laterais-direitos Marcos Rocha e Mayke, que estavam emprestados pelo Atlético-MG e Cruzeiro, respectivamente. 

Dos outros oito jogadores, os que podem ser considerados titulares são apenas os zagueiros Gustavo Gómez e Vitor Hugo. O meia Zé Rafael chegou a assumir a posição com o técnico Luiz Felipe Scolari, mas tem sido reserva com Mano Menezes. O volante Matheus Fernandes e o atacante Carlos Eduardo não têm espaço, enquanto o meia colombiano Angulo vinha alternando entre o time sub-20 e o elenco profissional. Os atacantes Felipe Pires e Arthur Cabral deixaram o clube no meio desta temporada.

Em relação aos jogadores que foram contratados “sem custos”, o meia Ricardo Goulart já retornou ao Shandong Luneng, da China, o volante Ramires faz trabalhos para ficar 100% fisicamente, o atacante Henrique Dourado nem sequer estreou e, por fim, Luiz Adriano assumiu a posição de titular como centroavante.

“Achar que está tudo errado? Não. Vamos fazer manutenção de elenco e melhorar. Ou contratamos caras para jogar de imediato, outras vezes por oportunidade de mercado, outros para preparar para o futuro, outro para criar desconforto no titular. Algumas vezes é para o cara crescer depois, com o tempo. É óbvio que tem que melhorar, não acho que a manutenção do elenco tem sido um erro”, defendeu Alexandre Mattos.

O caso de Luiz Adriano é um que serviu como crítica para a diretoria palmeirense. Após a saída de Gabriel Jesus, no fim de 2016, o clube demorou para achar um jogador para a posição. Borja e Deyverson foram contratados, mas não se firmaram. No início deste ano, o Palmeiras foi ao mercado e contratou o jovem Arthur Cabral em vez de um centroavante que já chegasse para ser titular. Ao todo, a diretoria gastou quase R$ 60 milhões até contratar Luiz Adriano no meio desta temporada sem custos, arcando “apenas” com salários e comissões, enquanto o Spartak Moscou da Rússia, permaneceu com 50% dos direitos econômicos do atacante.

Com exemplos próprios e também no Flamengo, que foi ao mercado em busca de jogadores pontuais, o Palmeiras espera acertar nas escolhas para a próxima temporada. Mattos diz que ainda não é hora de pensar em 2020, mas a diretoria já trabalha com a comissão técnica comandada por Mano Menezes para suprir as necessidades apontadas neste ano. Um atacante de lado de campo deve ser prioridade do Palmeiras na próxima janela de transferências.

Continua após a publicidade

Análise: Pedro Daniel, líder de esportes da consultoria Ernst & Young

"O Flamengo e o Palmeiras são os mais ricos do Brasil por motivos distintos. São planejamentos também distintos. O Flamengo é o maior faturamento com cota de televisão e está nesse ciclo virtuoso há algum tempo. O clube passou por uma reestruturação de 2013 pra cá e foi potencializado por boas vendas de atletas, como o Vinícius Júnior e o Paquetá. Tudo isso deu um fluxo de caixa para investir e ter essa vantagem em relação aos outros clubes.

O Palmeiras entrou em um ciclo virtuoso porque é quem mais fatura com bilheteria no Brasil e tem também o maior patrocínio (a Crefisa). O clube ainda teve algumas vendas nesses últimos anos.  Por esses motivos, Flamengo e Palmeiras são os dois clubes que têm vantagens competitivas em relação aos outros. Fica claro pelo que é gasto nas janelas de transferências e pelo custo do departamento de futebol dos dois que tem um patamar diferenciado. É porque tem receita para fazer esse investimento.

Sobre se a diferença pode aumentar ou diminuir, como todo mercado no mundo, ocorreu uma concentração de renda nos clubes brasileiros. Aqui não existem mais 12 clubes disputando o Campeonato Brasileiro. Fica muito claro que são no máximo seis clubes. E Flamengo e Palmeiras são favoritos por terem esse custo mais alto que tende a trazer melhor performance. Esse cenário já vem acontecendo há alguns anos. Para os outros clubes, é possível alcançar um patamar desse, mas Palmeiras e Flamengo largaram na frente, e o mercado não espera.

O Flamengo já tem uma gestão financeira que consegue ser pontual e trazer com menos riscos, jogadores mais conhecidos, que já foram testados. Os jogadores mais conhecidos acabam trazendo retorno em publicidade. Com um titular da seleção brasileira, como o Filipe Luis, você ganha mercado. Com um treinador que já trabalhou na Europa, como o Jorge Jesus, também ultrapassa fronteiras, como a venda de jogos para transmissão em Portugal. O clube fica mais atrativo comercialmente, e isso faz parte desse ciclo virtuoso."