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Pandemia causa incerteza entre jogadores nas categorias de base

CBF quer organizar torneios das categorias inferiores neste ano, mas clubes são pessimistas e atletas mostram ansiedade

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Por Guilherme Amaro e Raul Vitor
Atualização:

Enquanto os campeonatos profissionais começam a ser retomados pelo Brasil, os torneios de base ainda estão longe de ser definidos. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informou ao Estadão que pretende realizar todas as competições inferiores, estendendo-se para o calendário do ano que vem, assim como acontecerá com o Brasileirão. Clubes ouvidos pela reportagem, porém, não acreditam que seja possível a organização dos jogos por causa do investimento em testes para coronavírus e outras medidas contra a pandemia.

Sem atividades presenciais, os jovens jogadores recebem treinos via internet dos clubes. Alguns garotos relatam a ansiedade causada pela indefinição sobre o futuro da carreira e também com a suspensão de pagamentos dos times, que dizem estar respaldados pela lei e aguardam decisão das entidades responsáveis pela organização dos campeonatos e da Saúde para marcar data viável a fim de retomar o trabalho nas base. Neste momento, está tudo parado.

Valdenílson, atacante do sub-20 do Palmeiras, faz treinamento físico no clube Foto: César Greco / Ag. Palmeiras

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O atacante Valdenilson, sub-20 do Palmeiras, aproveitou a paralisação para acompanhar o nascimento do filho, Brayan Miguel. Ele viajou ao Maranhão e, no dia 29 de junho, viu sua mulher Fabíola, na mesa de parto.

“Fiquei com bastante medo de um de nós pegar o vírus. Rezei, conversei com Deus para que não deixasse isso acontecer. Ela precisou de mim nessa quarentena e fiz de tudo para cuidar dela. E foi algo recíproco porque também tive o apoio dela nessa paralisação do futebol. Pensava: ‘se a pandemia não passar, como vou mostrar meu futebol?’. Isso ficava na minha cabeça por muito tempo, mas tive total apoio dela”, afirmou Valdenilson ao Estadão. Ele já retornou a São Paulo para ser avaliado nos treinamentos com o elenco principal do Palmeiras.

Também no grupo de apoio e por causa da retomada das atividades comandadas pelo técnico Vanderlei Luxemburgo com o time, o lateral-esquerdo angolano Ramiro não conseguiu ficar ao lado dos familiares durante a pandemia. Ele preferiu permanecer no Brasil e divide quarto de hotel com outro companheiro estrangeiro, o equatoriano Erick Pluas. Sua família vive em região pobre na cidade de Luanda e ele preferiu ficar.

“É um ano praticamente sem jogos, né? Isso atrapalha um pouco no desenvolvimento de qualquer atleta. A comissão técnica tem dado o melhor a nós em relação aos treinos, mas não temos a oportunidade de trabalhar conceitos técnicos e táticos na prática, já que não estamos reunidos nem no campo. Eu ainda tenho mais um ano no elenco sub-20 e estou otimista quanto ao retorno dos treinos presenciais e jogos da base ainda neste ano”, disse Ramiro.

Valdenílson voltou ao Maranhão durante pandemia para estar presente enquanto sua mulher, Fabíola, dava luz ao filhoBrayan Miguel Foto: Arquivo Pessoal

APOIO PSICOLÓGICO

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Não é apenas a parte física ou técnica que preocupa os clubes do Brasil em relação aos jovens da base. Os times estão atentos ao aspecto psicológico dos atletas neste momento de incerteza. Muitos oferecem apoio a distância.

Ex-técnico das categorias de base da seleção brasileira e atualmente no comando do sub-20 do Bahia, Carlos Amadeu destacou a importância de os jogadores receberem apoio psicológico por causa da covid-19 e da parada. Na visão dele, os mais afetados são os mais velhos, que estão perto de estourar o limite de idade da base.

“É um momento diferente, que exige muito cuidado e aprendizado. É natural que os atletas que estão no último ano sintam uma pressão psicológica maior. Criam-se dúvidas, incertezas e medos. Portanto, esse peso psicológico é inevitável. É por isso que os profissionais que trabalham com esses jovens devem ficar atentos. Aqui no Bahia nós procuramos saber as condições de cada um. Qualquer observação a mais nós passamos para o setor de psicologia do clube”, afirmou.

Duas perguntas para Valdenílson, atacante da base do Palmeiras

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1. O que fez durante a pandemia do coronavírus? Fiquei com minha família no Maranhão. Costumava acordar cedo para treinar, mas antes passava um café para todos na casa. Os treinos online com o sub-20 eram geralmente de manhã, mas também havia atividade à tarde em alguns dias. Costumava deixar a televisão ligada em canais de esporte, noticiários e também nas novelas à noite. Assistia também a filmes de ação no Netflix, vídeos no YouTube, jogava videogame online com meus amigos do Maranhão... Tudo para passar a hora mais rápido.

2. Como você avalia a importância da família nesse momento? Todos os familiares me aconselharam bastante, não me deixaram desanimar com essa situação. Tenho o sonho de um dia trazê-los para São Paulo e dar uma vida melhor para todos eles.

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