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Pandemia deixa times argentinos inseguros para virem ao Brasil jogar a Libertadores

Para infectologista, o ideal seria evitar o risco e não receber no País equipes estrangeiras enquanto situação não melhorar

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Por Raul Vitor
Atualização:

Os números de casos do novo coronavírus no Brasil têm preocupado nos clubes da Argentina. Isso porque, com a volta da Copa Libertadores, marcada para o dia 15 de setembro, três dos cinco representantes do país que disputam o torneio terão pela frente adversários brasileiros e até mesmo um médico influente na nação vizinha manifestaram publicamente que o ideal seria não permitir a viagem dos jogadores ao Brasil.

Quem se posicionou de maneira contundente foi o infectologista Pedro Cahn, membro do comitê médico de combate à covid-19 da Argentina. "Se eu fosse presidente de clube, no momento atual, não iria jogar no Brasil. Isso é uma opinião pessoal. Pode mudar, é uma situação muito dinâmica, pode mudar em duas semanas. Mas, hoje, me parece utópico", revelou o infectologista, em entrevista à TV argentina ao TyC Sports.

Jogo do Racing com portões fechados em março, por causa da pandemia Foto: Agustin Marcarian/Reuters

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De acordo com Alexandre Naime, professor de infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro titular da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) a alegação do médico argentino não é exagerada. Viagens internacionais para países que possuem uma alta transmissibilidade da covid-19 expõem os atletas a riscos.

"O Brasil é um país em que a transmissão do vírus não é homogênea. Há lugares em que ela está caindo e em muitos outros ela está aumentando. Expor os jogadores em aeroportos, em hotéis, em lugares onde possa ter aglomeração com os próprios atletas brasileiros, que talvez tenham mais contato com o vírus pela alta transmissibilidade, é, sim, algo preocupante", avaliou Naime.

De acordo com o infectologista brasileiro, por mais que os jogadores tenham um bom condicionamento físico e estejam com a saúde em dia, eles não estão livres da possível evolução de um quadro mais grave da doença. Segundo Naime, é por isso que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) teria levado os atletas do país para treinar em Portugal, onde a transmissibilidade do vírus é menor.

Mesmo que seja raro, infelizmente existem chances do vírus evoluir (nos atletas) para um quadro mais grave. Ou seja, não é recomendável que você mande atletas para países onde há alta transmissibilidade

Alexandre Naime, infectologista

"Mesmo que seja raro, infelizmente existem chances do vírus evoluir (nos atletas) para um quadro mais grave. Ou seja, não é recomendável que você mande atletas para países onde há alta transmissibilidade. Tanto que o COB enviou nossos atletas para treinarem em Portugal, onde a transmissão do vírus é baixa", explicou Naime.

Apenas um jogador brasileiro atua no futebol argentino: o atacante Guilherme Parede. Ele passou por Coritiba e Internacional, mas agora defende o Talleres, clube da cidade de Córdoba, que eliminou o São Paulo na Pré-Libertadores do ano passado. Para ele, a demora para o futebol ser restabelecido na Argentina não é um problema. Segundo o jogador é importante que ele seja restabelecido, mas somente quando o governo der o aval para que isso aconteça.

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Guilheme Parede defende o Talleres, da cidade de Córdoba Foto: Divulgação/Racing

"É ruim ficar sem jogar, mas temos que entender que a situação da pandemia é complicada. O futebol está voltando no Brasil, assim como em outros países. É importante que também volte na Argentina, mas cada país tem sua lei e cada governo lida com isso da sua maneira. Estou em um país que não é o meu, então, só tenho que respeitar e entender a situação. Se Deus quiser logo tudo isso vai passar e o futebol irá voltar. Caso não volte, paciência. Temos que entender que é uma situação delicada para todo mundo", disse Parede.

É ruim ficar sem jogar, mas temos que entender que a situação da pandemia é complicada. O futebol está voltando no Brasil, assim como em outros países. É importante que também volte na Argentina

Guilherme Parede, Atacante do Talleres

No entanto, o jogador afirma que a situação fez com que ele cogitasse voltar ao Brasil. Por mais que os números da covid-19 assustem, Parede não teme retornar aos gramados de seu país. Sua mulher está grávida e manter-se perto de sua família seria bom, no momento.

"Não teria medo (de voltar ao Brasil). Até porque, se o futebol não voltar na Argentina eu não posso ficar sem jogar. Tenho que estar apto para desempenhar meu futebol e permanecer ativo, que é o mais importante. Se (o futebol) não voltar (na Argentina) tenho que conversar com o clube, que é detentor dos meus direitos, e ver quais são as possibilidades para voltar ao Brasil", explicou o jogador.

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O River Plate será o primeiro time argentino a pisar em solo brasileiro. A equipe de Buenos Aires enfrentará o São Paulo, no estádio do Morumbi, no dia 17 de setembro. O Estadão tentou entrar em contato com o clube, para saber se o receio de viajar para o Brasil era, de fato, real. Contudo, eles preferiram não falar sobre o tema.

Nesta semana, a Conmebol iniciou uma série de reuniões para apresentar aos agentes envolvidos na realização da Libertadores as medidas de prevenção à covid-19, previstas no "Protocolo de Operações para Reinício de Competições de Clube". A Libertadores será retomada no dia 15 de setembro e a Sul-Americana, em 27 de outubro. 

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