Contratação de Neymar pelo Paris Saint-Germain tem fins políticos para o Catar
Emir tenta demonstrar que regime continua a operar em normalidade apesar de embargo imposto ao país
Por Jamil Chade e CORRESPONDENTE EM GENEBRA
Atualização:
Na última sexta-feira, mesmo dia em que o Catar apresentava ao mundo sua nova joia, o atacante Neymar, vestido com as cores ocidentais de um time francês, o Paris Saint-Germain, a diplomacia do minúsculo país árabe lavava aos tribunais da Organização Mundial do Comércio seus vizinhos por conta de um embargo imposto sobre o país. Os dois eventos, ainda que ocorressem no mesmo dia por coincidência, eram dois lados de uma mesma moeda.
Acusado de financiar o terrorismo e de desestabilizar o golfo, o Catar vive sua pior crise política. O abastecimento foi dificultado pelas medidas tomadas pelos países vizinhos, que passaram a fazer exigências para acabar com o bloqueio contra o regime de Doha.
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Para diplomatas, não foi por acaso que o Catar mandou uma mensagem clara a todos no comando do PSG, clube sob seu controle direto: não economizem na publicidade ao apresentar Neymar ao mundo. A ordem era de que duas mensagens subliminares deveriam ser passadas.
A primeira era de que, apesar do bloqueio, o emir no Catar quer demonstrar que o regime continua a operar em uma normalidade e que não irá ceder. Sede da Copa de 2022, o Catar insiste que o bloqueio não tem afetado as obras para o Mundial. Mas precisam garantir que o mundo mantenha uma imagem positiva do país e que a rixa com os vizinhos árabes não afete sua credibilidade no Ocidente.
Veja como foi o dia de Neymar como novo jogador do PSG
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Estádio
Neymar foi apresentado oficialmente no PSG na manhã desta sexta feira, 04/08. O atacante concedeu entrevistas e tirou fotos no estádio do clube, o Par... Foto: Lionel Bonaventure / AFPMais
Desde cedo
Neymar saiu do lugar onde está hospedado e foi para o clubecedo, já vestido com a roupa que utilizou na coletiva. Foto: AFP
Fila
Torcedores fizeram fila para comprar a camisa do atacante nas lojas oficias do clube. Foto: AFP
Exclusiva
Antes de falar com os repórteres da imprensa internacional, Neymar concedeu entrevista exclusiva para a TV do PSG. Foto: Twitter / PSG
Coletiva
Neymar concedeu longa entrevista coletiva, em quenegou que dinheiro ou busca por protagonismotenham sido as razões de sua saída do Barcelona. Foto: Lionel Bonaventure / AFP
Camisa
Após a entrevista, o craque posou com a camisa do clube na sala de imprensa. Foto: Lionel Bonaventure / AFP
Habilidade
Já no estádio, Neymar aproveitou para demonstrar sua intimidade com a bola e fez algumas embaixadinhas na apresentação. Foto: Lionel Bonaventure / AFP
Parças
Depois, posou com os "parças" que o acompanham em quase todo lugar que vai. Foto: Philippe Lopez / AFP
Família
Não poderia faltar a foto com a família no novo clube. Foto: Christian Hartmann / Reuters
Multidão
Uma multidão compareceu aos arredores do Parc des Princes para tentar ver o brasileiro. Foto: John Schults / Reuters
Para ver o craque
Alguns "sofreram" um pouco para ver a nova estrela do PSG. Foto: Kamil Zihnioglu / AP Photo
Ultras
Os ultras (torcida organizada) também apareceram para a apresentação do brasileiro. Foto: John Schults / Reuters
Comemoração
Os torcedores fizeram uma bela festa para comemorar a chegada do craque, com bandeiras esinalizadores. Foto: Kamil Zihnioglu / AP Photo
Saída
Neymar saiu para cumprimentar os torcedores que compareceram ao estádio nesta manhã. Depois, se direcionou para o centro de treinamento do clube. Foto: Benjamin Cremel / AFP
Para ajudar nessa campanha, o espanhol Xavi Hernandez publicou um vídeo pedindo o fim do embargo comercial contra o Catar, quanto Pique e Busquets viajaram até Doha para visitar uma academia de futebol local.
Mas nada se equipara ao impacto que foi criado com o desembarque de Neymar em Paris. Para diplomatas consultados pelo Estado, o investimento faz parte de uma estratégia que poderia ser equivalente a um “seguro de vida” para o regime do Emir.
E é ali que está o segundo recado, camuflado na pompa e grandiosidade da apresentação do jogador: por mais que se acuse o Catar de financiar o terrorismo, é do país árabe que vem hoje os recursos quem abalam as estruturas do esporte mais popular do ocidente.
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O futebol, que há anos havia sido escolhido como instrumento de poder e influência do Catar pelo mundo, uma vez mais voltou a ser usado e com Neymar como uma nova plataforma. Se para o mundo do futebol 222 milhões de euros (R$ 824 milhões) é muito dinheiro, na política esse valor tem uma outra dimensão.
Neymar quebra o recorde das maiores transferências do futebol
1 / 10Neymar quebra o recorde das maiores transferências do futebol
Neymar
Do Barcelona para o PSG por 222 milhões de euros (R$ 823 milhões) Foto: Albert Gea / Rerters
Pogba
Da Juventus para o Manchester United por 105 milhões de euros (aproximadamente R$ 390 milhões, na cotação atual). Foto: Andrew Couldridge / Reuters
Bale
Do Tottenham Hotspur para o Real Madrid por 100milhões de euros (R$ 371 milhões). Foto: Carl Recine / Reuters
Cristiano Ronaldo
Do Manchester United para o Real Madrid por 94 milhões de euros (R$ 348 milhões). Foto: Jon Nazca / Reuters
Higuaín
Do Napoli para a Juventus por 90 milhões de euros (aproximadamente R$ 394 milhões). Foto: Giorgio Perottino / Reuters
Suárez
Do Liverpool para o Barcelona por 81,7milhões de euros (R$ 303 milhões). Foto: Albert Gea / Reuters
Di María
Do Real Madrid para o Manchester United por 75 milhões de euros (R$ 278 milhões). Foto: Phil Noble / Reuters
James Rodriguez
Do Monaco para o Real Madrid por 75 milhões de euros (R$ 278 milhões). Foto: Heino Kalis / Reuters
Zidane
Da Juventus para o Real Madrid por 72,5 milhões de euros (aproximadamente R$ 269 milhões). Foto: Andreas Comas / Reuters
Ibrahimovic
Da Inter de Milão para o Barcelona por 69,5 milhões de euros (R$ 257 milhões). Foto: Gustau Nacarino / Reuters
“Com essas ações, o Catar está no fundo fazendo um seguro de vida”, admitiu um negociador de Doha, na condição de anonimato. Se Emmanuel Macron, presidente da França, comemorou oficialmente a chegada do brasileiro em seu país, a lógica do Catar é de que, se a família real for um dia ameaçada, retrucaria com o fim dos investimentos que hoje garantem o orgulho “nacional” francês de poder disputar em pé de igualdade com os rivais os trofeus mais cobiçados do mundo.
E Neymar seria apenas a ponta de um ice-berg de dezenas de investimentos do Catar pela Europa. Mas, a partir de agora, talvez seu maior trunfo público e midiático para influenciar a comunidade internacional de que ter o Catar como parceiro pode trazer benefícios mútuos.