Eu acho que essas decisões sobre o futebol deveriam ter sido tomadas semanas atrás. Sou favorável de que todas as atividades que não sejam absolutamente essenciais sejam suspensas. A gente está próximo a um colapso. Dificilmente as medidas anunciadas agora vão evitar essa situação, porque nós perdemos o melhor momento para implementar todo esse pacote de cuidados ainda no ano passado.
Como o colapso é quase inevitável, qualquer medida que gente tomar, como no futebol, servirá para salvar uma parte das vidas. Acredito que a gente ainda perderá muitas pessoas. O futebol sempre mobiliza várias pessoas, com viagens, delegações inteiras. Essa atitude é muito mais para apontar a gravidade da situação do que na prática vai mudar alguma coisa. Mas se tivesse comércio fechado e o futebol funcionando, seria talvez um sinal ruim para as pessoas.
É claro que isso tudo tem influência na vida econômica, porque o futebol emprega muita gente. Mas o que nos espera é muito grave. Assim como tivemos uma crise e imagens muitos fortes em Manaus semanas atrás, podemos ter o mesmo em São Paulo. Parar o futebol mostra o quanto é importante seguirmos as recomendações de ficar em casa.
O futebol tem uma rotina de testes e um controle, mas isso não é uma garantia total de segurança. Mesmo quem testa negativo pode ter o vírus e transmitir. É uma atividade em que as pessoas viajam, compartilham espaços. Então não dá para garantir a segurança. Viajar agora para outros Estados não é recomendado, pois pode contribuir para a transmissão da doença.
* PROFESSOR DE INFECTOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP)