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Pela pandemia, futebol completa um ano sem torcida nos estádios brasileiros

Na parte financeira, esse primeiro ano causou a perda de R$ 450 milhões com bilheteria para os 34 principais times brasileiros

Por Ciro Campos
Atualização:

O futebol brasileiro completa neste fim de semana a triste data de um ano sem receber torcida. A pandemia da covid-19 motivou a realização de jogos com portões fechados para evitar aglomerações e tem como consequência para os clubes um problema tão doloroso quanto o silêncio dos estádios. Na parte financeira, esse primeiro ano causou a perda de R$ 450 milhões com bilheteria para os 34 principais times brasileiros, segundo estudo feito pela Pluri Consultoria.

O mesmo levantamento indica também que de março de 2020 até agora a falta de jogos com torcida causou cerca de R$ 330 milhões em impacto entre receitas vindas de sócios e ações de marketing. Os clubes, hoje, vivem uma situação muito pior em comparação a 14 de março do ano passado, quando pela primeira vez os estádios brasileiros não tiveram cadeiras cheias, catracas em atividade e as lanchonetes com fila.

Família Diniz quer levar governança para o futebol. Foto: Felipe Rau/Estadão

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Mais do que lamentar, as equipes agora discutem maneiras para minimizar as perdas. As soluções são necessárias porque o cenário da pandemia é preocupante, alguns Estaduais estão até suspensos e a volta da torcida aos estádios parece bastante distante. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) defende que os portões só sejam reabertos quando a população for vacinada. “A volta do público é algo que na nossa avaliação está muito acoplado à vacinação”, disse o secretário-geral da entidade, Walter Feldmann.

Em 2019, as receitas com dias de jogos fizeram os 20 principais times brasileiros arrecadar R$ 950 milhões, segundo levantamento feito pela E&Y. A quantia representa em média 17% do total de entradas. Porém, agora essa fonte de recurso secou e até mesmo o time mais vitorioso da temporada, o Palmeiras, admite dificuldade. “A situação financeira é bem sensível. Perdemos ao redor de 30% das receitas em 2020. E o quadro tende a se repetir para 2021”, comentou o presidente do clube, Mauricio Galiotte. O Palmeiras fechou o último ano com o prejuízo de R$ 151 milhões.

Para mudar esse quadro, as equipes querem inovar. “Acredito que a gente vai ter de se organizar em relação ao futuro, com novas possibilidades de receitas, com canais digitais através de criação de conteúdos exclusivos, a questão dos games e novas formas de patrocínio que se abrem, como casas de apostas”, explicou ao Estadão o presidente do Inter, Alessandro Barcellos.

Os clubes também levarão alguns anos até desenvolverem novas estruturas de negócios que cheguem perto de fazer frente ao que ficou pra trás

Bruno Maia, especialista em inovação

A equipe gaúcha tem apostado em aumentar as vantagens para os participantes do sócio-torcedor, para que mesmo à distância os colorados se sintam participantes desse momento. “É uma forma de buscar no torcedor um sentimento de pertencimento ao momento que a gente está vivendo e fazer com que ele sinta que passou por essa fase junto com o clube”, disse Barcellos. Várias outras equipes intensificaram também a venda de produtos oficiais em lojas virtuais.

Para quem acompanha o setor, uma boa saída é fortalecer a criação dos canais de vídeo no YouTube para valorizar patrocinadores e atrair o público. “É possível acelerar algumas iniciativas de inovação para que já comecem a dar frutos, mas normalmente elas vão levar algum tempo de maturação para dar todo o resultado que podem dar”, disse André Monnerat, diretor de negócios da Feng, especializada em programas de sócios, engajamento de torcedores e gestão em redes sociais.

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Na opinião do especialista em inovação Bruno Maia, a pandemia coincide também com um delicado momento de transição na parte dos direitos de TV, com a saída da Rede Globo de alguns torneios. “Os clubes também levarão alguns anos até desenvolverem novas estruturas de negócios que cheguem perto de fazer frente ao que ficou pra trás”, avaliou Maia.

Rogério Caboclo, presidente da CBF, no Maracanã para a final da Libertadores. Logo abaixo, torcedores de Palmeiras e Santos. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

LIBERTADORES FOI EXCEÇÃO

A final da Copa Libertadores no Maracanã, em 30 de janeiro, foi a única exceção ao longo desse último ano entre os principais torneios de futebol que tiveram jogos no País. Enquanto em todas as outras competições as partidas foram realizadas sem público, o jogo decisivo entre Palmeiras e Santos reuniu quase 5 mil pessoas.

Porém, não houve venda de ingressos. Apenas estiveram no estádio convidados dos clubes, patrocinadores, dirigentes, jornalistas e membros da Conmebol. A entidade exigiu dos presentes a apresentação de testes negativos para covid-19 realizado dias antes.

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Apesar disso, os cuidados não foram suficientes para evitar aglomerações. O público ficou concentrado em um mesmo setor do estádio e em alguns momentos muitos não usaram máscaras. Houve até abraços entre os presentes para comemorar o gol do título palmeirense.

A política de não vender ingressos e de exigir credenciamento e documentação de todos os presentes não impediu também outras irregularidades. Os clubes encontraram na internet tentativas de golpes com a falsa promessa de venda de credenciais para acesso ao estádio. Alguns anúncios chegavam a prometer por R$ 3 mil a entrada no Maracanã. Os golpistas até fizeram montagens para tentar reproduzir nos anúncios as credenciais falsas.

TRÊS PERGUNTAS PARA...

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Renê Salviano, especialista em marketing esportivo 

1. É possível recuperar o que foi perdido financeiramente com a falta de receita vinda do público?

R: Claro que sim. Obrigatoriamente, os clubes devem ter uma gestão altamente profissional e com a sua estratégia bem definida e, a partir daí, gestores e equipes capacitadas em cada pilar da gestão. Isso não importa se é associação, clube-empresa ou S/A. Em qualquer modelo, isto deve ser obrigatório e não há outro caminho para se preparar e planejar para momentos como este que estamos vivendo.

2. Como os clubes podem fazer para conseguir a recuperação no aspecto econômico?

R: Enxergo duas frentes principais. A primeira com um trabalho entre financeiro, marketing e comercial na busca de parcerias para redução de gastos como alimentação, planos de saúde, água, suplementação, dentre outros vários gastos existentes. A segunda na venda de patrocínios e criação de novos projetos sem risco ao clube, analisando a jornada do torcedor e o que acontece fora do futebol. Podemos ter vários exemplos para este movimento, existem dezenas de projetos de sucesso no mundo corporativo.

3. Redes sociais, sócio-torcedor e muita criatividade podem ser um caminho?

R: Sim, são fontes de receitas existentes, mas é neste momento que os profissionais desta área nos clubes devem sair da caixa e todos gestores tem de estar muito conectados. Em 2018, trabalhava no Cruzeiro e batemos recordes de público no estádio e diversas frentes foram estudadas e criadas para obtenção de novas receitas, mas em 2019 e 2020 passamos por crises e uma pandemia mundial, mesmo assim batemos recordes consecutivos em prospecção de parceria para redução de custos e venda de patrocínios da história do clube.

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