Pelé: ?É justo Robinho ir embora?

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Por Agencia Estado
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Até Pelé se rende às evidências e admite pela primeira vez que Robinho deve deixar o Brasil e tentar a sorte no exterior. O Rei do Futebol afirmou, em entrevista exclusiva para a Agência Estado, considerar correto que o astro do Santos acerte sua vida no Real Madrid, que tem praticamente fechado acordo para levá-lo da Vila Belmiro. "Gostaria que ele fizesse o pé-de-meia no Santos, como aconteceu comigo", declarou o maior jogador da história. "Mas são outros tempos e é justo ele fazer a vida fora, mesmo que isso seja uma grande perda para o nosso futebol." Pelé chegou à Alemanha no começo da tarde desta segunda-feira, para ver a final da Copa das Confederações e para divulgar a marca de cartão de crédito da qual é garoto-propaganda. Afável, sempre disponível, apostou na seleção para o jogo desta quarta-feira no Waldstadion, faz projeção otimista para a geração que Parreira tem nas mãos, elogiou o trabalho dos alemães nos preparativos para o Mundial de 2006. Foi centro de atenções no luxuoso Hotel Steigenberg Frankfurter Hof, saiu numa imponente limusine preta, cercado de assessores e discreta segurança. Agência Estado - O Robinho está de saída. Como o senhor vê isso? Pelé - Será uma pena, uma grande perda para o futebol brasileiro. Ele é um menino simpático, bacana, que está criando carisma enorme e trazendo nova torcida. E não só de fãs do Santos. Todo mundo no Brasil gosta dele. AE - Mas, em sua opinião, ele deve ir embora? Pelé - Gostaria que ele fizesse o pé-de-meia no Santos, como eu fiz. Era outra época, a diferença de dinheiro já era grande, mas eu estava bem no Santos e acho que o mesmo poderia acontecer com ele. Mas, para ser honesto, acho justo ele fazer a vida lá fora. Um médico pode trabalhar, se quiser, até os 80 anos. O jogador tem a carreira até 38, no máximo 40 anos. E, se não se ajeitar na vida, mais tarde ninguém vai se lembrar dele. Tem um monte de ex-jogador que passa necessidade e ninguém quer saber. AE - O Santos tem como segurá-lo? Pelé - No começo do ano, o presidente Marcelo Teixeira prometeu que iria segurar o Robinho, que uns empresários iriam apoiar o projeto, mas isso não foi adiante. Estou preocupado. AE - Então, não há o que fazer agora? Pelé - Dias atrás, estava numa reunião com o Juan Figer, que quer ter os direitos da marca Pelé, e conversei com o Vágner (Ribeiro, empresário de Robinho). Ele estava no telefone com o Luxemburgo e ouvi ele dizer. ?Então, está certo? Posso dizer que está certo?? Quando desligou, eu falei: ?Vagner, o que é isso?? E ele respondeu. ?Já fechamos. Depois da Copa, ele está indo para lá. Ele acha que é melhor não perder a oportunidade.? AE - Em sua época, o senhor também teve propostas... Pelé - Tive mais de dez, do Milan, do Real Madrid, da Juventus. O Real ficou me perturbando, perturbando. Como falei que não ia, levou o Didi e depois também o Canário, que jogava no América. A Juventus queria me dar até ações da Fiat para eu ir. AE - A transferência do Robinho vai enfraquecer o futebol brasileiro? Pelé - Claro. Com isso, os campeonatos ficam cada vez mais fracos, perdem entusiasmo. No meu tempo, também saía muita gente, mas não sentíamos tanto. Foram embora Mazzola, Chinesinho, Dino Sani, Julinho Botelho, Nenê, Sormani, Evaristo, o Jair, mas os clubes não sofriam desfalque como tem agora. Hoje, eles levam os melhores. AE - Temos hoje uma grande geração? Pelé - Sim. Tivemos uma em 58/62, depois em 70 e a última grande fase foi em 82, com Zico, Cerezo, mas infelizmente não foi vencedora. Esta geração agora parece que é vencedora. O Parreira tem um grande problema pela frente para escolher quem levar na Copa. É um problema quando não há jogadores e um problema quando tem jogadores bons demais. AE - Brasil e Argentina, quem levará o título? Pelé - Acho que o Brasil ganha. O jogo na Argentina foi difícil, como sempre é quando os dois se encontram. Além disso, não é normal fechar o primeiro tempo com 3 a 0, como foi lá. O Brasil depois reagiu. Então, espero que a seleção comece jogando como naquele segundo tempo. AE - A Argentina não terá o Saviola. É desfalque importante? Pelé - O Saviola toca a bola, mas ele faz poucos gols. Se o Tevez entrar, vai dar até mais trabalho, porque é chato, brigador, vai para cima, nunca desiste de ganhar a bola. Ele é muito bom. AE - Essas duas seleções podem chegar à final do Mundial da Alemanha em 2006? Pelé - Podem e têm tradição. A Alemanha tem time novo, o Klinsmann está mudando o jeito dela jogar, dá liberdade aos jogadores, gosta do ataque. Não se pode desprezar a Alemanha. Em 2002, por exemplo, ninguém esperava que chegasse à final e foi lá. Há surpresas, também, mas as principais são Brasil, Argentina, Alemanha, Espanha e Inglaterra.

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