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Pelé será homenageado em Cannes

Por Agencia Estado
Atualização:

Cidadão do mundo, Édson Arantes do Nascimento vive de malas prontas, viajando pelo mundo, aonde o leva Pelé. É curioso vê-lo falar do atleta do século na terceira pessoa, como um alter ego. Édson/Pelé está embarcando para a Grécia, onde participa de um evento, e na seqüência segue para Cannes, onde o festival de cinema mais importante do mundo lhe rende uma homenagem no dia 18, exibindo à noite o documentário Pelé Eterno, de Anibal Massaini, numa sessão na praia. A intermediação foi feita pelo pessoal do Festival do Rio, que articula outros eventos do Brasil no festival que começa na quarta, dia 11. Pelé está preocupado com a violência que atinge os jogadores de futebol. Agora mesmo, a mãe de um jogador foi seqüestrada. "Esse menino ainda nem conseguiu formar um patrimônio no futebol. Não terá condições de pagar um resgate. É um absurdo o que estão fazendo com ele." Pelé lembra um episódio de sua passagem pelo Ministério dos Esportes, durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Foi uma das maiores emoções da minha vida. Vi aquela foto que saiu no Estado sobre uma invasão feita pelos sem-terra. Eles haviam invadido o terreno ao redor de um campo de futebol. Montaram suas barracas sem invadir o campo. Levei ao presidente, dizendo para ele - invista em educação e esporte que o senhor estará ajudando a resolver o problema da exclusão no País." Ao colega Adib Jatene, da Saúde, ele disse: "O meu ministério é o da Saúde. O seu é o doença." Foi aplaudido pelos colegas ministros. Os estudos que Pelé encomendou no ministério apontam para uma renda média muito baixa dos jogadores de futebol, algo em torno de 3 salários mínimos. "Existem as exceções, os jogadores que ganham muito e viram astros. Não se pode nivelar a média pelas exceções. Os jogadores de times pequenos e do interior ganham pouco." A violência o preocupa, mas não a ponto de cercar-se de seguranças. "Tenho dois. Jesus Cristo, que me acompanha à frente, e Deus, atrás." Tão bem protegido, acredita Pelé, quem será contra ele? O Rei sabe que a vida toda foi alvo de comparações com Garrincha. Lembra que a seleção nunca perdeu uma partida em que Garrincha e ele tenham atuado juntos. Não eram amigos, exceto nos encontros na seleção. Sempre moraram em cidades diferentes, tiveram vidas distantes. Mesmo assim, muita gente lhe cobrou uma atitude na fase final de Garrincha. Muitas vezes sentiu-se injustiçado nas comparações. "O brasileiro identifica-se mais com o perdedor. Seu sentimento é pelos caídos." Pepe, o amigo e assessor, ao seu lado, acrescenta: "Brasileiro tem dificuldade para aceitar o sucesso dos outros. Faz de tudo para denegrir." A atual argentinização do futebol brasileiro não preocupa o Rei. "Sempre houve argentinos no nosso futebol", ele observa, acrescentando que eram encrenqueiros. O recente episódio envolvendo Tevez e Marquinhos, segundo ele, não pode ser avaliado isoladamente. "Insere-se numa tendência que não é só nacional nem latina, mas mundial. Há hoje uma explosão incontrolável de violência. Parece que ninguém mais tem paciência para soluções pacíficas." Ele lembra Maradona. "É um ídolo dos argentinos, que fazem de tudo para justificá-lo. No Brasil, já teria sido massacrado." Quem é o Pelé da atualidade? "Nunca haverá outro Pelé", diz Pepe. O próprio Pelé concorda, falando na terceira pessoa. Mas ele tem suas preferências no esporte atual. Admira Zidane pela permanência. Diz que Ronaldinho, o Gaúcho, é a grande estrela do futebol brasileiro e não se esquece de Robinho. Lembra que foi ele quem avaliou o jogador para o Santos, prevendo uma grande carreira. "Robinho ainda vai dar muita alegria à torcida brasileira." O futebol continua sendo opção atraente para jovens pobres, mas eles logo viram celebridades e terminam descartados na mídia, porque há sempre alguém novo pedindo para brilhar. "Isso tem sido prejudicial para muitas carreiras, para o próprio futebol. É preciso persistência, o que a maioria dos atletas não tem, hoje", conclui o Rei.

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