'Eu bebia mais ou menos dez caixas de cerveja por dia', revela Cicinho ao 'Estado'

Em depoimento exclusivo, ex-jogador do São Paulo admite seu problema com o alcoolismo na tentativa de ajudar quem passa pela mesma situação no futebol

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Por Cicinho
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Percebi que estava exagerando quando perdi o prazer de realizar meu trabalho, de jogar futebol. Sempre fui apaixonado por futebol. Quando Deus dá um dom e a gente não sabe administrar, é porque tem algo errado. Não tinha mais prazer em entrar em campo, treinar e concentrar. Eu tinha 30 anos e estava jogando na Roma, em 2010.

Então conheci minha mulher por intermédio de amigos e vi algo diferente. Estava acostumado a viver no meio de pessoas oferecidas. Quando você é atleta profissional bem sucedido, as coisas se tornam mais fáceis. Quando tive o primeiro encontro com minha mulher, notei algo diferente em mim e nela. Ela não dava moral para o meu status, era mais reservada. Vi que era pelo que sou e não pelo que tenho. Ela viu algo que nem eu sabia que tinha. Me despertou conhecer os princípios que ela tinha que eram voltados para a palavra de Deus, e foi assim que tive minha transformação.

Cicinho, ex-São Paulo, afirma que hoje se sente 'realizado' e recebeu um projeto para voltar a jogar futebol Foto: Daniel Teixeira/ Estadãi

Comecei a beber com 13 para 14 anos, quando fui para o Botafogo de Ribeirão Preto. Falaram que cerveja era legal, e eu tomei. Tudo começou com o primeiro gole e fui parar com 30 anos. Quase 20 anos bebendo. Até ir para o Atlético-MG era só cerveja, porque não tinha dinheiro. Depois que comecei a ter dinheiro, passei a beber de tudo. E cigarro eu fumei por 11 anos, de 1999 a 2010. Eu só fumava quando bebia, mas bebia, hein?! Todo dia. É engraçado que quando parei de beber e fumar, abria a lareira, que na Europa tem muito por causa do frio, caía maço de cigarro que estava escondido. Era doideira.

Comecei a beber com 13 para 14 anos, quando fui para o Botafogo de Ribeirão Preto. Falaram que cerveja era legal, e eu tomei. Tudo começou com o primeiro gole e fui parar com 30 anos

Cicinho, ex-jogador

Hoje me sinto realizado. Recebi um projeto para voltar a jogar pelo Vila Nova, de Goías. Mas sou realizado no futebol, estou tranquilo. Não desperta mais esse interesse em mim. O futebol foi uma fase na minha vida. Agora minha fase é mostrar meu testemunho e ajudar as pessoas a não caírem no caminho que caí para não chorarem lá na frente. Dou palestras motivacionais. Não tenho mais condições de jogar, minha mente é de ex-atleta, meu corpo já está acostumado. Se o Vila Nova quiser contar comigo para outra coisa, tudo bem. Mas dentro de campo não consigo mais. Tenho olhado muito o lado extracampo, me vejo com perfil de auxiliar técnico, tenho um perfil apaziguador.

Eu nunca fui um cara baladeiro. Nas casas onde morei, tinha um espaço como se fosse uma boate. Adaptei porque não gostava de me expor muito na rua. A vida que tinha não era uma vida prazerosa. Eu olhei para mim mesmo e falei 'não é isso que gosto, não é isso que Deus quer de mim'. E optei por uma transformação. Esse processo foi quando conheci Jesus.

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Eu bebia mais ou menos dez caixas de cerveja por dia, e no outro dia eu parei de beber completamente. Foi um prazer tão intenso que não tem como explicar. A melhor explicação é olhar o Cicinho de oito anos atrás e o Cicinho de hoje. Minha conduta fala mais do que palavras. Quando a gente tem um encontro com Deus, com a fé que tenho, não existe etapas. Foi da noite para o dia.

Cicinho conta que começou a beber com 13 para 14 anos Foto: Daniel Teixeira/ Estadão

A primeira vez que me expus fui muito criticado. 'Ah, o Cicinho está se fazendo de coitadinho'. Mas quando a pessoa fala abertamente, é porque ela superou todos os traumas. Quando tem trauma, não consegue se abrir completamente. Há oito anos não tenho problema com álcool e cigarro, não traio minha mulher, vivo os princípios que Deus me pede. Espero que as pessoas olhem pelo lado de um auxílio, porque é triste ver grandes atletas do futebol brasileiro e mundial com o poder de influenciar pelo lado bom, mas influenciando pelo lado ruim. Claro que não vou citar nomes. Mas é isso que pretendo: falar o nome de Deus por onde caminhar porque foi o que mudou minha vida e é o que muda a vida das pessoas.

Hoje eu ando e as pessoas falam que foram muito tocadas pelo meu testemunho, e isso é muito gratificante. As pessoas perguntam qual é meu maior gol, e eu costumo falar que foi conhecer Jesus como Senhor e Salvador da minha vida. Muitos acham que foi o gol contra o Palmeiras, mas não foi. Ali eu fiz o gol, mas tinha uma vida que estava caminhando para o buraco, bebendo, não era feliz. Hoje, não. Hoje sou completamente realizado. Parei de beber.

Essa vida é oferecida a todos, acho que é preciso colocar Deus acima de tudo. Tenho uma conduta de vida e faço o que Jesus faria. No momento em que é me oferecido algo, me pergunto o que Jesus faria com aquilo. É assim que vou vivendo, e isso se tornou um hábito. Sou um cara totalmente tranquilo, realizado e meu coração é aberto para falar porque superei todos os vícios que tinha e hoje meu prazer é contar meu testemunho.

O recado que dou é que Deus está acima de todas as coisas. O mundo pode parecer prazeroso, mas são prazeres momentâneos. O conselho que dou é: dê uma oportunidade para ouvir a voz de Jesus. Não tem como convidar um jovem se ele não der ouvido para Jesus falar quais são os planos. O conselho que dou é esse: ouça mais a voz de Deus do que o coração, porque o coração do homem é enganoso. Você pode construir uma história com qualquer profissão, mas, se não tiver um relacionamento com Deus, será mal sucedido internamente.