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Plano alemão prevê renovação constante da seleção nacional

País quer se tornar a maior potência da história do futebol

Por Jamil Chade
Atualização:

Falar em dominação global ou superioridade é um tabu na Alemanha, diante de sua história. Mas, nos bastidores do futebol alemão, os planos são claros: transformar o país na maior potência da história do esporte e, no espaço de duas décadas, superar definitivamente o Brasil como maior campeão de todos os tempos.

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O novo slogan da seleção alemã que será levado para a Rússia deixa claro a dimensão de sua ambição. “Die Besten ruhen niemals” - os melhores nunca descansam. 

Löw levou a seleção alemã ao título mundial no Brasil Foto: Brian Snyder/Reuters

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Nos últimos dez anos, já foram investidos 1 bilhão de euros para atingir esse objetivo e, enquanto o treinador Joachim Löw busca a melhor formação para a Copa de 2018, seus auxiliares e dirigentes da DFB (a federação alemã de futebol) planejam o que será a próxima década. 

Em mente, três princípios: uma renovação constante, foco total na técnica e jamais permitir que uma equipe dependa de uma ou duas estrelas para garantir resultados. O próprio time alemão que enfrenta o Brasil na terça-feira, em Berlim, é resultado desse plano. Menos de um terço dele esteve em campo ou no banco na vitória histórica da Alemanha por 7 x 1 em 2014, contra o time de Luiz Felipe Scolari. 

Um dos símbolos desse novo time é Leroy Sané, que ganhará uma chance na partida contra o Brasil. Ele acredita que o time da Alemanha de 2018 se desenvolveu em comparação ao de 2014 e que é um dos favoritos para vencer a Copa. “Temos uma boa combinação de atletas mais novos e outros com experiência, o que permite que não se sinta tanta pressão”, explicou. 

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O jogador do Manchester City atende a uma demanda específica de Löw. Desde 2014, ele tem procurado dar mais velocidade ao time. Sané, por sua vez, bateu o recorde de velocidade no Campeonato Inglês e se transformou num dos jogadores mais rápidos da Europa.

Do time que disputou a semifinal contra o Brasil há quatro anos, apenas dois jogadores podem estar em campo: Kroos e Boateng, além de Draxler e Ginter, que estavam no banco em 2014. Emre Can, meia do Liverpool, também foi poupado por conta de problemas físicos.

Ainda que a nova equipe do treinador tenha sido criticada por falta de brilho nos últimos meses, a realidade é que o time não perde um jogo desde julho de 2016. Em dez jogos nas Eliminatórias, marcou 48 gols. Ninguém na federação ousa dizer que a Alemanha vencerá pela quinta vez a Copa, na Rússia. Mas ficar de fora da semifinal já seria considerado como um fracasso. 

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Em 2017, dois torneios indicaram que os planos estariam em bom caminho. Para a Copa das Confederações, Berlim enviou seu time B e, mesmo assim, o jovem Julian Draxler levantou o trofeu. Num espaço de três dias, outro time alemão venceu a Eurocopa Sub-21. Nos últimos anos, a coleção de troféus não deixa dúvidas: campeão em 2014, semifinal na Eurocopa de 2016, campeão mundial Sub-21 em 2009, campeão sub-19 em 2014 e quatro vezes finalistas em torneios sub-17. 

A base do trabalho foi focar a preparação na técnica, desde a infância dos futuros craques. Todos os clubes de primeira e segunda divisão foram obrigados a abrir academias para juvenis. 

300 centros foram criados pelo país, com o objetivo de identificar talentos num país com 80 milhões de habitantes. Neles, 1,3 mil treinadores foram distribuídos. Para esses técnicos, uma estrutura inédita foi criada. 5,5 mil deles hoje possuem licença para trabalhar no mais alto nível, enquanto outros 28,4 mil contam com uma licença B, uma espécie de curso preparatório. Para completar, foi criada a figura do “especialista tático”, com cerca de mil profissionais já certificados. 

Um desses treinadores de jovens é Torsten Beulen, treinador do TuS Chlodwig Zulpich. Para ocupar o posto, ele passou por um curso de 120 horas oferecido pela DFB. “Foram cinco meses de cursos”, disse. “O foco era a técnica”, disse Beulen. 

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Segundo ele, depois do que foi o desempenho da Alemanha na Eurocopa de 2000, com o pior resultado de sua história, a ordem foi de que tudo teria de mudar. Começando pela base. “Era horrível o que víamos em campo. Depois disso, houve uma mudança na filosofia para garantir a técnica no centro das atenções”, explicou ao Estado

No total, 650 mil jovens são acompanhados anualmente, o que torna quase impossível que um grande talento escape dos olhos dos treinadores. O controle de toda a estrutura a partir de uma filosofia centralizada ainda permite que jovens possam logo ter uma chance no time principal. Foi isso o que ocorreu com Leon Goretzka, Joshua Kimmich e Julian Brandt, todos com menos de 23 anos.

Na Bundesliga, a média de idade também caiu. Se em 2002 os jogadores em campo tinham em média 27 anos, hoje ela é de apenas 24 anos. Em menos de 15 anos, o número de alemães jogando nos times principais de cada clube aumentou de 50% para mais de 66%, uma das taxas mais elevadas da Europa.

Problemas

Nem tudo, porém, é sinônimo de tranquilidade para os alemães. Oliver Bierhoff, diretor da DFB, indicou na semana passada que em breve um novo “plano” para o futebol alemão começará a ser elaborado, com vistas aos Mundiais de 2026 e 2030.

Estudos realizados pelos treinadores indicaram falhas na base, com um déficit de atenção no aspecto da técnica dos jogadores entre 9 e 12 anos. “Precisamos relançar os planos”, disse. Os estudos revelaram como houve uma atenção exagerada em questões como a recuperação da bola e não permitir que o outro time possa jogar. Mas o que falta é o foco em inovações táticas e técnicas sobre o que fazer quando a bola estiver nos pés do time alemão. Sua ideia é de que o país não pode e não quer ter “uma geração de ouro”. Mas uma constante renovação. 

Assim, quando o Brasil entrar em campo para sua sonhada revanche contra a Alemanha nesta terça-feira, grupos de garotos estarão no estádio em Berlim, levados por seus clubes. Eles, porém, não apenas estarão acompanhando um dos maiores clássicos mundiais. Mas também são preparados para, em 2026 e 2030, assumir o lugar daqueles que hoje são seus ídolos. E que não farão falta.

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