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Racismo: Polícia pede perícia de leitura labial em Rafael Ramos após acusação de injúria racial

STJD pode entrar no caso nesta segunda-feira, depois de presidente da CBF pedir semana passada maior punição aos clubes, com perda de pontos; jogador português do Corinthians está com o time em Buenos Aires

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Por Redação
Atualização:

Um inquérito policial será aberto contra o lateral Rafael Ramos, do Corinthians, para investigar as acusações de supostas injúrias raciais cometidas contra Edenilson, autor da ação. “Eu sei o que ouvi”, disse o atleta do Inter após empate por 2 a 2 pelo Brasileirão, sábado. A polícia pretende pedir leitura labial. O episódio ocorre dias depois de a CBF e a Conmebol se manifestar no sentido de endurecer punições para clubes e envolvidos com esse tipo de comportamento.

A Confederação Sul-Americana de Futebol registrou sete casos de racismo na Libertadores envolvendo brasileiros somente nesta temporada. São 27 nos últimos seis anos. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, disse que os clubes deveriam ser punidos, com perda de pontos. Em junho, haverá um simpósio para discutir o assunto com a própria Fifa.

Rafael Ramos fez uma breve declaração à imprensa após ser liberado pelos policiais no Beira-Rio. Na ocasião, ele afirmou não ter usado termo racista contra Edenilson Foto: MAX BECHERER/DIA ESPORTIVO/ESTADÃO CONTEÚDO

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Rafael Ramos negou as acusações ainda durante o jogo, mas foi trocado pelo técnico Vítor Pereira, português como ele. Após a partida, ele foi preso em flagrante por cometer injúria racial e só foi liberado para embarcar com a delegação do Corinthians para Buenos Aires, onde o time joga pela Libertadores nesta semana, contra o Boca Juniors, depois de pagar fiança de R$ 10 mil. Ramos foi preso ainda no vestiário do Estádio Beira-Rio. Se confirmado o ato, ele pode pegar punição de dois meses ou cinco partidas, além de multa.

Edenilson prestou queixa-crime com o auxílio dos advogados do Inter. Disse ter sido chamado de “macaco”. O atleta corintiano se defendeu alegando “mau entendimento”. O delegado Carlo Vitarelli informou que Ramos foi autuado por injúria e que, por isso, pôde ser liberado após a fiança – crime de racismo é inafiançável. “Estou de consciência limpa. Foi apenas um mal entendido entre mim e o Edenilson. Falei com ele ao fim do jogo e expliquei a verdade, o que eu tinha dito. Ele me disse que tinha receio de passar por mentiroso, mas disse que ele não seria “mentiroso”, apenas entendeu errado o que foi dito. Apertamos as mãos e foi isso”, comentou o corintiano, deixando o local logo em seguida.

Minutos depois, em nota, o Corinthians afirmou que Rafael Ramos foi ouvido e deu versão diferente da apresentada por Edenilson. O clube paulista ressalta que repudia e não compactua com o racismo. Tanto o Corinthians quanto o lateral “continuarão a colaborar com as autoridades, certos de que tudo será esclarecido o mais rapidamente possível”, informou o comunicado.

O árbitro Braulio da Silva Machado relatou na súmula a denúncia de Edenilson. O jogador ouviu um “foda-se, macaco”, mas o jogador do Corinthians afirmou que na verdade disse um “foda-se, c...”. Ainda de acordo com o árbitro, a partida seguiu sem nenhum tipo de punição porque ele não conseguiu ouvir a frase por causa do barulho da torcida e da distância que estava dos atletas.

Nos contratos com os jogadores, o Inter tem cláusula contra o racismo. “O contratado compromete-se a cumprir as normas de ética e conduta do clube, em especial pautando-se pelo repúdio à prática de quaisquer atos discriminatórios ou preconceituosos decorrentes de origem, cor, gênero, religião, classe social, capacidades ou limitações individuais e fica ciente de que a infração à tais normas deverá acarretar em aplicação de advertência, suspensão e/ou rescisão por justa causa.”

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STJD só considera perda de pontos em casos gravíssimos

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) deve entrar no assunto hoje, mas a entidade só considera perda de ponto e mando e exclusão do time em casos que julga ser de extrema gravidade (incisos V, VII e XI do artigo 170 de seu regulamento). O futebol brasileiro registrou 53 episódios de racismo no ano passado, segundo dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

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