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Por que não eu?

Em meu delírio, reivindico o direito de escalar a seleção brasileira na Copa América

Por Ugo Giorgetti
Atualização:

É uma vergonha que o Campeonato Brasileiro seja interrompido para a realização dessa insignificante Copa América, que não interessa a ninguém. Desinteresse, aliás, expresso pela ausência e silêncio tumular que cercaram os jogadores ao se apresentarem no local de treinamento. A época dessa Copa não poderia ser mais infeliz, já que o Brasileiro é uma grata surpresa, com vários jogos interessantes, revelação de novos jogadores e treinadores, e um consequente aumento de público, o mais numeroso em anos.

Para nossa sorte foram convocados apenas três jogadores que atuam no Brasil, o que significa que nossos jogadores pelo menos estão protegidos de contusões indesejáveis que prejudicariam a competição depois de terminada a Copa. Dos três convocados, aliás, só um corre risco, uma vez que os dois outros certamente se limitarão a assistir o torneio confinados ao banco de reservas. Talvez essa estatística mostre uma das causas do desinteresse do Brasil real pela seleção.

Ugo Giorgetti. Foto: Paulo Liebert/Estadão

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Para ver mais uma vez rostos que nos recordam derrotas mais do que inesquecíveis, contra Alemanha e Holanda, por exemplo, não há necessidade de escolher uma equipe técnica ou o que quer que seja. Não seriam necessárias nem mesmo as habituais viagens de observação dos jogadores. Era só ler o noticiário dos jornais europeus e chamar automaticamente quem consta nas escalações das equipes. Simples assim. 

Claro que esse procedimento é também uma rendição mais do que costumeira ao que um dia se costumava chamar de primeiro mundo, rendição total, e, pior, aceita com satisfação e com um sorriso obsequioso. Para os jogadores que um dia tiveram a ventura de ser convocados, não há nada mais agradável. Tem assegurado não só um momento na seleção, mas toda uma carreira. Não importa se percam e joguem mal, isso não mais influi em suas vidas, pois têm o futuro assegurado, adquiriram o privilégio de serem vitalícios.

Há jogadores nessa convocação cuja carreira já está além da meia-idade, no entanto estão lá. A seleção, através de seus dirigentes e de sua comissão, parece que adotou o conhecido sistema da Academia Brasileira de Letras ou do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, de lá só se sai para a eternidade. Os jogadores que atuaram ou atuam na Europa são tratados como nunca foram nossos craques maiores. Com uma deferência que jamais se dedicou a um Newton Santos, a um Gylmar dos Santos Neves ou um Gerson, todos esses sujeitos a críticas algumas bem severas.

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Vamos ver no que vai dar essa Copa América, a competição dos humilhados e ofendidos da terra e que, por isso mesmo, podemos até ganhar. Somos todos treinadores aqui no Brasil. Todos os que vivem o futebol têm direito à sua opinião no que diz respeito à seleção. Ainda mais porque diante de nós desfilam nossos craques, os que estão aqui, aqueles que nos acostumamos a seguir, a amar e odiar quando necessário. A maioria dos torcedores não tem como divulgar sua opinião nos grandes jornais. Eu tenho.

Por isso, em nome dos torcedores brasileiros, concordem comigo ou não, reivindico o direito que todos temos de, por um momento, ser treinador do Brasil e, imperialmente, colocar em campo meu time. No auge do meu delírio, meu time para a Copa América seria: Fábio (Cruzeiro), Fagner (Corinthians), Dedé (Cruzeiro), Geromel (Grêmio) e Renan Lodi (Athletico-PR), Bruno Henrique (Palmeiras), Pituca (Santos), Luan (Grêmio), Dudu (Palmeiras), Pedro (Fluminense) e Bruno Henrique (Flamengo). Como treinadores: eu, evidentemente, ou Renato Gaúcho, Fernando Diniz ou Odair Hellman. E olhem que não consegui escalar gente como Vanderlei (Santos), Scarpa (Palmeiras), Everton (Grêmio), Fábio Santos (Atlético-MG), etc. Falta alguém de fora?