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Portugal aposta em um confiante Cristiano Ronaldo para enfrentar a Espanha

Atacante português inicia nesta quinta-feira, contra um rival ainda abalado, a trajetória para a conquista do título inédito

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Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan e Sochi
Atualização:

A um dia de estrear na Copa do Mundo, Cristiano Ronaldo exibe uma felicidade plena. Parece o dono do mundo. Na tarde desta quinta-feira, quando a seleção de Portugal fez seu último treino antes de enfrentar nesta sexta-feira, às 15 h (de Brasília), a Espanha, o atacante brincou com os colegas e, nos 15 minutos de atividade liberados para a imprensa, demonstrou um pouco do que sabe fazer de melhor: dar chutes certeiros em direção à meta. Sem nenhum tipo de privilégio ou mesmo deferência por parte dos companheiros, CR7 treinou normalmente.

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O menos avisado nem desconfiaria se tratar de um dos maiores jogadores da história.

Cristiano Ronaldo é um dos grandes nomes do Mundial. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Aos 33 anos, Cristiano Ronaldo esbanja confiança – ao voltar nesta quinta para a concentração, o atacante descia do ônibus quando notou a presença de um repórter do jornal espanhol Ás, amigo fraterno. Cristiano driblou a segurança russa e lhe deu um abraço carinhoso. Apesar dos afagos, Cristiano disparou: “Amanhã (hoje), vamos ganhar”. E abriu um sorrisão.

Mesmo em tom de brincadeira, o atacante falou sério. Possuidor de cinco Bolas de Ouro – incluindo a última –, Cristiano Ronaldo entra em campo como expoente máximo do time português e em busca da última taça que lhe falta, a de campeão do mundo pela seleção. Dono de 26 títulos na carreira, contando cinco taças da Liga dos Campeões e quatro do Mundial de Clubes, ele é, de longe, a maior estrela de uma seleção mediana.

E, acima de tudo, o craque mantém um fôlego invejável. Com técnica e chute impressionantes, o jogador do Real Madrid costuma ser enaltecido por sua liderança. “É um extraordinário capitão, todos vocês conhecem bem. É uma influência sempre decisiva, quer seja em jogo ou em treino”, afirma o técnico português, Fernando Santos. O comportamento do atacante é de um atleta comum numa seleção modesta.

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Impossível, no entanto, ser “mais um” quando se trata de Cristiano Ronaldo. Se, dentro do gramado, sua habilidade impressiona, fora de jogo o atacante português tornou-se um símbolo sexual. Mesmo com trajes de jogo, ele mantém sua impecável estampa. Conhecido pelo cuidado com que trata a própria beleza, CR7 já figura na lista dos jogadores mais vaidosos do Mundial. A ponto de provocar comentários irônicos – em entrevista ao jornal português Diário de Notícias, o jornalista inglês Roger Bennett, especializado em moda, foi enfático: “Há apenas um Ronaldo, um jogador superiormente talentoso, mas tão obcecado consigo mesmo que parece marcar só para poder tirar a camisa e exibir os seus abdominais ao mundo”.

O foco do craque na Rússia é conquistar a que será a principal taça de sua coleção. A vitória na Eurocopa de 2016 com Portugal fez o craque ter mais esperança do que há quatro anos, quando o time acabou eliminado na primeira fase na Copa no Brasil. “Não somos favoritos, mas nada é impossível”, disse, antes do embarque à Rússia. O capitão do time tem dado poucas entrevistas. Mesmo que chegue ao Mundial com o status de atual campeã europeia, Portugal não está entre as cotadas para disputar o título. Nada que incomode os portugueses. “É normal que os outros sejam considerados favoritos por tudo o que conquistaram e por toda a sua história. Somos campeões da Europa, mas isso não nos dá o direito de sermos favoritos na Copa. Somos candidatos”, considera o meia João Moutinho.

Já o debate sobre quem é o melhor jogador do mundo, Messi ou Cristiano Ronaldo, provavelmente nunca terá fim. Os dois costumam jogar perto da perfeição e são decisivos. O que alimenta a discussão são os números alcançados a cada jogo.

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O português chega à Rússia com números modestos em Copas: até aqui, marcou só três vezes. Mesmo assim, a partir desta sexta, Cristiano Ronaldo terá a chance de igualar uma marca só alcançada por Pelé e pelos alemães Seeler e Klose: o de marcar pelo menos um gol em quatro Mundiais consecutivos. Afinal, o craque português anotou nos Mundiais da Alemanha (2006), África do Sul (2010) e Brasil (2014).

Colega no Real Madrid e um dos responsáveis em tentar parar o português no jogo em Sochi, o espanhol Sergio Ramos resume o que terá pela frente. “Prefiro tê-lo no meu time, não contra. Cris é um grande atleta e leva constante perigo. Com ele, o alarme tem de ficar permanentemente ligado.”

ESPANHÓIS SIMULAM TRANQUILIDADE

O clima simulava tranquilidade – no último treino antes da estreia na Copa do Mundo, nesta quinta à tarde, os jogadores da Espanha tentaram transparecer um ambiente pacificado. No gramado do Fisht Stadium, em Sochi, todos procuraram dar sorrisos e não pouparam cenas de abraços durante os 15 minutos de treino aos quais os jornalistas tiveram acesso. Antes disso, o capitão Sergio Ramos procurou dar o tom que a “Fúria” espera após as turbulências dos últimos dias. “Não foi um episódio agradável, mas a Espanha deve estar acima de qualquer nome próprio. O técnico Hierro é idôneo e nada deve nos desestabilizar no torneio. Nada vai mudar a nossa ilusão. Isso é página virada”, disse o atleta.

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A página anterior, na verdade, narrava outro clima: o de crise. Na manhã da quarta-feira, a Federação Espanhola de Futebol comunicou a demissão do técnico Julen Lopetegui que, no dia anterior, anunciou que acertara contrato com o Real Madrid, clube que assumiria depois da Copa. Para seu lugar, assumiu o então diretor de seleção Fernando Hierro. Isso a dois dias da estreia no Mundial, contra Portugal, jogo marcado para as 15h (Brasília) desta sexta.

A fim de abafar a crise, a equipe buscou mostrar serenidade. “Somos a seleção, representamos um escudo, umas cores, um grupo de torcedores, um país. A responsabilidade e o compromisso estão conosco e por vocês. Ontem, hoje e amanhã, juntos: #VamosEspanha”, escreveu o zagueiro Sergio Ramos em seu perfil do Twitter.

Para o técnico de Portugal, Fernando Santos, independentemente de quem estiver à beira do gramado, a seleção espanhola será um adversário difícil a ser batido. “A Espanha tem jogadores de qualidade e uma forma de jogo há anos consolidada. Eles jogam da mesma forma há pelo menos dez anos”, considera. Resta saber se a mesma forma terá os resultados de antes ou de depois de Lopetegui, que assumiu o comando do poderoso Real Madrid. “Quarta-feira foi o dia mais triste da minha vida e hoje (quinta-feira), o mais feliz”, disse o treinador.

Segundo a imprensa espanhola, veteranos da seleção (como Ramos, Iniesta, Piqué e Busquets) tentaram convencer o presidente da federação, Luis Rubiales, a não demitir o treinador, mas o dirigente foi irredutível. Especula-se que, agora, esse grupo mais experiente é quem vai comandar de fato a seleção na Rússia. Sobre os seus planos contra Portugal, Hierro não foi profético. “É impossível mudar algo em dois dias, mas tenho plena confiança no trabalho que fizemos nos últimos dois anos”. E arrematou: “Espanha será a mesma de sempre”.