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Presidente que não preside, coronel Nunes vira figura decorativa na CBF

Dirigente de 80 anos não toma decisões de peso na confederação, embora tenha mandato até abril

Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan
Atualização:

À espera da posse oficial de Rogério Caboclo na presidência da CBF, o que só ocorrerá em 9 de abril, o futebol brasileiro tem hoje um presidente que não preside. Oficialmente no comando desde 15 de dezembro de 2017, o coronel Antônio Carlos Nunes de Lima não tem sido visto na entidade nos últimos meses. Com problemas de saúde e isolado pela cúpula da confederação desde a Copa da Rússia, ele se mantém presidente apenas no papel. Ocupa o cargo desde que Marco Polo del Nero foi afastado do futebol acusado de corrupção. Como era o vice mais velho, o cargo lhe caiu no colo, com o aval do ex-chefão.

A ausência de Nunes em eventos esportivos, inaugurações ou em reuniões de trabalho se intensificou nos últimos meses. Um dos motivos é a saúde do coronel de 80 anos, que em novembro passou por uma cirurgia em São Paulo para a retirada de um tumor. Desde então, por orientação médica, ele tem evitado viagens. Retornou para o Rio apenas há duas semanas, tem ido à CBF, mas não participa de decisões importantes.

Coronel Nunes é o atual presidente da CBF. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Aliás, desde que assumiu o posto, o coronel no máximo usou o caneta para assinar despachos do impedido ex-presidente ou de seu sucessor, o atual CEO Caboclo. É figura quase decorativa. Para o presidente da Federação Cearense de Futebol, Mauro Carmelio, a gestão do coronel Nunes foi de transição. “Ele manteve a linha do que vinha sendo realizado. O trabalho dele foi de estabilidade e segurança institucional ao futebol brasileiro”, considerou.

Mas, nas poucas vezes em que procurou demonstrar a autonomia que, em tese, seu cargo oferece, Nunes fez estragos. Em junho do ano passado, votou na candidatura do Marrocos como sede do Mundial de 2026. A CBF havia se comprometido com a Conmebol a apostar em bloco na candidatura tríplice de EUA, Canadá e México.

Há quem diga que o voto no Marrocos tenha sido orientado por Del Nero, por mera afronta. De qualquer forma, a postura de Nunes irritou a cúpula da Conmebol, que considerou o voto uma traição, e causou abalo na relação da CBF com a entidade e com a própria Fifa.

A partir daí, Nunes passou a ser isolado. Começou a andar sempre monitorado por assessores e secretária e deixou de participar de reuniões decisórias na CBF e na Conmebol. E a renovação de contrato de Tite após o Mundial da Rússia foi toda negociada por Caboclo.

A data da posse oficial do novo presidente foi escolhida a dedo: trata-se da véspera do início do Congresso da Conmebol, que acontecerá no Rio a partir de 10 de abril. Ele, porém, há muito já despacha como mandatário da entidade. É visto em praticamente todos os eventos da CBF. É avesso a entrevistas, mas se demonstra solícito em conversas e é recebido por cartolas do País e do exterior como se já fosse o presidente. Ninguém duvida que seja.

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