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¿Qué pasa, Corinthians?

Por Antero Greco
Atualização:

Não há como pegar leve agora com o Corinthians, após a desclassificação ridícula, na Libertadores, com duas derrotas para o inexpressivo Guaraní. Até alguns anos atrás, ainda haveria atenuantes para fiascos do gênero, como a ansiedade pela falta do título sul-americano, e o complexo de inferioridade que advinha disso, além do desespero da torcida, etc, etc. Tudo superado em 2012, com a conquista continental e com o Mundial. O Corinthians saltou da condição de coadjuvante para a de ator principal. Nesse período, ganhou status internacional, estádio de última geração, patrocínio generoso, verbas e exposição especiais da tevê. Tem estrutura de ponta e elenco de qualidade. Não se pode aceitar como natural a eliminação para rival que tem folha de pagamentos equivalente, talvez, ao salário de um jogador corintiano. Vá lá que a magia do futebol também esteja no fato de proporcionar surpresas como a de anteontem, em que o mais frágil derruba favoritos, em que Davis abatem Golias com frequência. Chavões gastos, usados como consolo ou como forma de fantasiar a realidade. Não é hora para amenidades, nem para a ação de bombeiros da mídia amiga, que afaga o Corinthians em nome da audiência. O momento requer coragem e reflexão, bom senso e autocrítica, transparência e maturidade. E isso inclui atacar pontos delicados. Em primeiro lugar, vem a situação financeira. Não cometeria a leviandade nem sequer insinuar que os atletas fizeram corpo mole. Seria desrespeitoso com profissionais, ao mesmo tempo em que poderia ser maneira de suavizar o fracasso deles, uma fuga. Mas é certo que atrasos mexem com as pessoas, interferem na rotina. Qualquer um que já enfrentou situação semelhante sabe o quanto abala ir para o trabalho sem receber. Não vale alegar que “jogador ganha milhões” e não lhe pesa no bolso a falta do contracheque. Sejam de 100 reais ou de 2 milhões, os acertos devem ser honrados. Sem salários cai a produção de todos. A diretoria tem culpa. Não venha alegar o mau momento da economia, a falta de naming rights no estádio, queda de publicidade, de sócios-torcedores, ou o diabo a quatro. Empresa séria faz planejamento financeiro e a ele se adequa para não entrar no vermelho. O Corinthians embalou-se no discurso do ex-presidente, de que se transformaria numa das mais poderosas agremiações do mundo em curto prazo. Dormiu nos louros de ter casa própria regalada supostamente com generosidade do dinheiro público, gastou além do possível em contratações e agora vêm as contas para pagar. Não se jogam impunemente 15 milhões de euros num investimento como o de Pato. Pesam acordos como os 21 milhões de reais divulgados pela imprensa e previstos em três anos de contrato para Christian, frequentador do banco; só para ficar em dois exemplos. Há papagaios do Itaquerão a vencer, renovações em curso - Guerrero pede 7 milhões de dólares - e custos habituais. Soam como fanfarronices as previsões de liderança do ex-presidente. Manchester, Barça, Bayern não têm problemas do gênero, porque se planejam de fato, não vão na conversa fiada, da boca pra fora. Segunda questão: empáfia. O Corinthians tem bom time, seria incoerência e injustiça rebaixá-lo a fraude. Mas não é a superequipe que alguns enxergaram, com exagero. Subiu no salto e tropeçou feio. Quando se soube que pegaria o Guaraní, um diretor agradeceu o presente dos céus. Guerrero esnobou Palmeiras e Santos, finalistas do Paulista, ao dizer que o Corinthians só se interessava por torneios grandes. Jogou mal em Assunção, viu-se perdido em casa. Foi o cavalo paraguaio. A estratégia também entra no bolo. O esquema de controle de bola, de segurança na defesa, de firmeza de propósitos falhou e foi neutralizado. De que adianta ser forte na retaguarda e impotente na hora em que são fundamentais os gols a favor? Como dizem os gringos: “?Qué pasa, Corinthians?” Reinicie tudo.

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