PUBLICIDADE

Publicidade

Reforço do Corinthians, Andressinha relembra preconceito: 'Me chamavam de menino'

Jogadora contou ao 'Estado' como deu a volta por cima e hoje é vista como referência em sua cidade no interior do Rio Grande do Sul

Por João Prata
Atualização:

A meia Andressinha, de 24 anos, é o principal reforço do Corinthians para a temporada do futebol feminino. Ela chega ao Parque São Jorge com a responsabilidade de ajudar a equipe a manter o alto nível mostrado no ano passado, quando bateu recorde mundial de vitórias consecutivas, venceu a Libertadores, o Campeonato Paulista e terminou com o vice do Brasileiro.

A jogadora estava desde 2015 nos Estados Unidos. Revelada pelo Avaí/Kindermann, foi para o exterior cedo, jogou pelo Houston Dash e em 2018 foi para o Portland Thorns. Na última temporada, ficou um tempo parada por causa de uma lesão no joelho e terminou a competição na reserva.

Andressinha voltou ao futebol brasileiro após cinco anos. Foto: Werther Santana/ Estadão

PUBLICIDADE

Apesar da pouca idade, carrega a experiência de duas Copas do Mundo (Alemanha-2015 e França-2019) e uma Olimpíada, no Rio-2016. A trajetória até aqui não foi fácil. Assim como muitas garotas, começou a jogar com os meninos e sofreu preconceito por isso. "Às vezes voltava para casa chorando". Em entrevista ao Estado ela contou como deu a volta por cima para hoje ser vista como orgulho da cidade onde nasceu, Roque González, no interior do Rio Grande do Sul. 

O que motivou a volta para o Brasil?

2019 não foi do jeito que imaginava. Acabei não tendo tantas oportunidades, algumas vezes por opção do técnico. Então vi que era o momento de voltar. Surgiu a oportunidade, conversei com algumas equipes, mas o interesse do Corinthians foi enorme. É um projeto bem organizado, com profissionais excelentes e uma torcida diferente. Tudo isso me atraiu.

Você terminou a temporada na reserva do Portland?

Tive uma lesão no colateral medial, até então estava jogando. Acabei perdendo espaço e terminei a temporada na reserva. Faltou ter revezamento entre as jogadoras. 

Publicidade

Como foi a saída do Portland?

Tinha contrato de uma temporada, de fevereiro a outubro. Fiquei até o fim. Depois fiquei sem clube, tive convocações para a seleção brasileira e tive atividade até dezembro. Agora em janeiro acertei com o Corinthians.

Andressinha, de 24 anos, já disputou duas Copas do Mundo. Foto: Werther Santana/ Estadão

Já tinha contato com o elenco do Corinthians?

Já conhecia 80% do grupo. Joguei com algumas em clubes, com outras recentemente na seleção. A questão do entrosamento facilita bastante. Mesmo jogando fora acompanhava os jogos no Brasil. Assisti a vários jogos do Corinthians e acho que isso também ajuda na adaptação.

O que mudou no futebol brasileiro de quando você saiu do País para agora?

Mudou com certeza a organização dos clubes, a estrutura melhorou bastante. As equipes de camisa estão investindo mais, como é o caso do Corinthians. O calendário também melhorou. Ainda não é o ideal, mas acho que as pessoas envolvidas estão trabalhando para melhorar. Acho que o Brasileiro vai ser um dos melhores e mais disputados.

O que motivou essa evolução no futebol feminino?

Publicidade

Acredito que a Copa do Mundo da França deu visibilidade muito maior. Era uma modalidade que não era muito explorada. É cultural aqui no Brasil a atenção dada ao futebol masculino e a gente sempre correu por fora. Vejo que estão nos enxergando com bons olhos e vendo potencial, por isso o investimento.

Você consegue viver só do futebol?

Consigo sim. Mas nem todas podem fazer isso. Tem jogadora que tem outro emprego para poder se sustentar. E claro que isso não é o ideal. O ideal é a atleta poder só se dedicar e sobreviver apenas do futebol. Acho que a situação financeira ainda vai melhorar. Aqui no Corinthians é um exemplo a ser seguido.

Quem são seus ídolos?

Nunca tive um ídolo específico nem nada. Tenho pessoas que acompanho. De jogador particularmente gosto de ver o Messi. Não que seja meu ídolo. Quem me inspira é meu pai e minha mãe que sempre me deram suporte.

Quando começou a gostar de futebol?

Vem desde pequena. Meu pai jogava na várzea e ia ver ele jogar. É algo que sempre gostei. Nunca me forçaram. Quando meu pai viu que eu tinha jeito começou a me inscrever nos times para disputar campeonatos. Comecei jogando com os meninos com nove anos no sub-11.

Publicidade

Sofreu preconceito?

Alguns anos atrás era bem diferente uma menina jogar futebol. Lá na minha cidade era só eu de menina jogando no meio de 20 meninos. Algumas vezes voltava chorando para casa porque ouvia coisas ruins como "ah, você parece menino", "você se veste como menino". São coisas que machucam quando você é criança. Depois quando viram que aquilo me fazia feliz, as pessoas foram me conhecendo e passaram a me enxergar com outros olhos. Hoje sou motivo de orgulho pela minha cidade, Roque Gonzales. Até porque as coisas mudaram e hoje tem muita menina jogando futebol.

O Corinthians ano passado bateu recorde de vitórias, ganhou quase tudo o que disputou. Você se sente mais pressionada por manter a equipe neste alto nível?

Recebo bastante essa pergunta. Não sei se é pressão. No futebol é muito difícil se manter em alto nível o tempo todo. O trabalho tem de ser redobrado. Não chego para ser solução. A equipe já vem muito bem. Chego para somar e agregar, para se tornar mais forte. Trabalho vai ser redobrado, mas parâmetro tem de ser nós mesmos.

De que forma acha que pode ajudar no Corinthians?

Posso ajudar na bola parada, bato falta e escanteio. Temos ótimas cabeceadoras então a gente pode aproveitar bastante isso. Sou mais da organização da equipe mesmo. Me sinto mais confortável chegando mais no ataque, sou mais ofensiva do que defensiva, mas a gente vai se adaptando e faz o que a equipe pedir no momento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.