Publicidade

Reinventado por Simeone, Atlético de Madrid busca liderança contra maior rival

‘Jogadores têm uma crença muito grande no trabalho dele’, diz Luís Pereira, que trabalha no clube há 18 anos

PUBLICIDADE

Por Guilherme Bianchini
Atualização:

Na maior parte da história, o futebol em Madri esteve dividido entre dois opostos: o primo rico e o primo pobre. Enquanto o Real se firmava como gigante no cenário europeu, o Atlético vivia à sombra do rival, destinado a se contentar com migalhas. Nos últimos anos, a história sofreu uma revolução.

Capaz de competir em pé de igualdade nesta década, o Atlético tem neste sábado a chance de conquistar a primeira vitória em seu novo estádio, o Wanda Metropolitano, sobre o arquirrival. O dérbi madrilenho começa às 16h (horário de Brasília), com transmissão do FOX Premium, e vale a liderança do Campeonato Espanhol. O Real Madrid lidera com 14 pontos após seis rodadas, um a menos do que o Atlético, terceiro colocado. Entre os times da capital está a Real Sociedad, também com 13 pontos, que visita o Sevilla no domingo.

Diego Simeone, técnico do Atlético de Madrid Foto: Rodrigo Jimenez/EFE

PUBLICIDADE

O processo que colocou o Atlético entre os grandes da Europa começou em dezembro de 2011, às vésperas do Natal. Ídolo do clube como jogador e peça fundamental no histórico “doblete” de 1996 (títulos espanhol e da Copa do Rei), Diego Simeone assumiu a equipe como treinador. Desde então, conquistou um Campeonato Espanhol, uma Copa do Rei, uma Supercopa da Espanha, duas Ligas Europa e duas Supercopas da Uefa.

“O que mudou foi a mentalidade dos jogadores. Eles têm uma crença muito grande no trabalho do Simeone, e sempre acompanham o que ele tenta fazer técnica e taticamente”, conta Luís Pereira, lendário zagueiro brasileiro que vive em Madri e trabalha no Atlético há 18 anos – o sotaque carregado em algumas palavras não deixa mentir. Entre 1974 e 1980, foi jogador do Atlético.

A transformação passou diretamente por um modelo de jogo que virou marca registrada da equipe. Defesa quase intransponível em um 4-4-2 bem definido, competitividade ao extremo e bola parada de muita eficiência. Mesmo com trocas importantes no elenco para esta temporada, incluindo a saída do francês Griezmann, a identidade continua preservada. E um dos pontos fundamentais desse processo é o brasileiro Renan Lodi, titular absoluto da lateral esquerda.

“O Lodi atravessa uma fase muito boa. Está sendo um dos nossos grandes jogadores neste início de temporada. Precisamos acreditar no que a diretoria está fazendo. Tem também o Felipe, que pode fazer um ótimo trabalho”, avalia Luís, em referência ao zagueiro revelado pelo Corinthians que chegou ao Atlético na última janela, comprado do Porto por 20 milhões de euros (cerca de R$ 91 milhões).

Equilíbrio e sofrimento

Publicidade

Um ótimo parâmetro para medir a mudança de rota do Atlético é justamente o confronto direto com o Real. Antes de Simeone assumir, eram 22 jogos – ou 12 anos – de jejum diante do maior rival. De lá para cá, o equilíbrio prevaleceu: nove vitórias, dez empates e dez derrotas.

Pelo Espanhol, o time acumula uma sequência invicta de seis partidas no Santiago Bernabéu. “O Atlético está no caminho certo há alguns anos. Somos uma equipe de guerreiros. O segredo é batalhar e acreditar nos jogadores”, acredita Luís Pereira. Os dois verbos, por sinal, são constantemente repetidos pelo brasileiro. Uma filosofia que virou a do clube, com o lema “Coragem e Coração”.

Mas não foi só de alegrias que se construiu a chamada “Era Simeone”. Todo o sofrimento ficou guardado para os confrontos europeus com o Real. Em 2014, derrota na final da Liga dos Campeões com requintes de crueldade; em 2015, eliminação nas quartas de final com gol no fim; em 2016, outro vice, dessa vez nos pênaltis; e em 2017, queda na semifinal com show de Cristiano Ronaldo.

Para atenuar a dor dobrada das derrotas marcantes, também houve conquistas memoráveis. Em 2013, o título da Copa do Rei veio em pleno Santiago Bernabéu, na vitória que encerrou o jejum de mais de uma década no dérbi. A Supercopa da Espanha em 2014 e a Supercopa da Uefa em 2018 foram outros troféus em cima do arquirrival.

João Felix, atacante do Atlético de Madrid Foto: JAIME REINA / AFP

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Ambicioso, o Atlético já deixou para trás o estereótipo de “primo pobre”, e os investimentos no mercado de transferências provam isso. A ação mais arrojada foi a contratação de João Félix, de apenas 19 anos, por 126 milhões de euros (aproximadamente R$ 573 milhões). A promessa portuguesa é a principal aposta da diretoria para preencher o posto deixado por Griezmann, e já vem mostrando em campo o motivo pelo qual a sua contratação foi tão cara.

Na pré-temporada, os gols, assistências e dribles levaram a torcida à loucura. O ponto alto foi a atuação de gala na humilhante goleada de 7 a 3 sobre o Real Madrid, nos Estados Unidos. Pelo Espanhol, soma dois gols e uma assistência em seis partidas. “É um garoto que está iniciando, com altos e baixos que são normais. Ele gosta de jogar, isso ajuda bastante. Os próprios companheiros que falam a mesma língua colaboram muito, como o Diego Costa. João Félix está mostrando ser brilhante”, analisa Luís Pereira.

O ex-zagueiro não fica em cima do muro na hora de arriscar um palpite para o clássico. “Ganhar de meio a zero já é importante, mas vai ser 1 a 0. Tomara que seja com gol do meu amigo Diego Costa. Sou otimista e acredito muito na minha equipe”, projeta.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.