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Opinião|Bronca de Renato Gaúcho com perda de jogadores para seleções tem a ver com calendário da CBF

Entidade precisa parar os torneios nacionais quando o Brasil estiver em campo, como se faz na Europa, é é preciso tirar jogos dos clubes numa mesma temporada; quem joga todas as competições, faz entre 70 e 80 confrontos

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Atualização:

O futebol brasileiro vive uma eterna discussão no que diz respeito às convocações de jogadores para a seleção brasileira de clubes do país, prejudicando essas equipes nas competições nacionais e sul-americanas. Quem colocou o dedo na ferida desta vez foi Renato Gaúcho, técnico do Flamengo, que ficou sem quatro titulares para a partida contra o Red Bull Bragantino e as próximas do Brasileirão até dia 14. Outros clubes também sofrem com o mesmo problema, como Palmeiras e Atlético-MG.

O futebol mundial vive atualmente uma valorização dos clubes em detrimento das seleções de seus respectivos países, puxada pelas equipes da Europa, que preferem ver seus atletas em casa e não em suas respectivas seleções. Isso é um fato. A Liga dos Campeões da Europa e a Libertadores têm mais peso para muitos do que partidas das seleções em Eliminatórias, por exemplo. Técnicos como Renato Gaúcho querem seus times sempre fortes. Dane-se a seleção. Dane-se Tite.

Renato Gaúcho colocou o dedo na ferida do futebol brasileiro Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

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Está errado? Não totalmente. O problema não é esse. Tanto os 'Renatos' quanto os 'Tites' precisam ter seus melhores jogadores sempre. Ponto. Um técnico de seleção não pode deixar de convocar atleta que ele acha ser melhor para servir o time nacional. E também o treinador de clube não pode perder seus jogadores em qualquer competição, mesmo em começo de temporada, o que dirá então na reta final. Ou seja, Renato e Tite têm razão no que querem.

O problema, claro, é da CBF, que deveria parar as competições quando a seleção estiver em campo. Não deveria, portanto, ter jogos do Brasileirão nesse momento, quando o Brasil faz partidas pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Todos perdem com a falta de regulamentação. A CBF e o próprio Tite prometeram que dariam um jeito nessa questão, mas nada foi feito nesse sentido.

Há muitos jogos de clubes durante uma temporada, de 70 a 80 para quem disputa todas as competições. A mais fraca de todas é a disputa regional, fadada a acabar, mas que insiste em sobreviver. Não vejo outra saída a não ser tirar partidas da frente dos times. Times mistos e reservas já se provaram não ser o caminho, porque tanto dirigentes quanto treinadores, passando pela torcida, querem sempre ganhar tudo. Ter uma Série A com 18 clubes e não mais 20 é outro caminho, uma vez que os clubes também não vão abrir mão de jogar Libertadores, Copa do Brasil e Sul-Americana. São torneios que pagam bem. Uma Copa do Brasil com jogo único a partir de quartas de final? Quem sabe? Estadual com menos partida? Também pode ser uma solução. O fato é que a CBF e a Conmebol e todos os envolvidos no calendário precisam tomar uma decisão, mesmo que ela doa no começo. Não há mais como manter o calendário brasileiro como está. Os jogadores estão sempre se poupando para a partida seguinte e nunca jogam tudo o que podem com medo de estourar e ficar fora do time. As disputas nacionais não param nas Datas Fifa porque não há mais dias para empurrar as partidas.

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Para que o futebol brasileiro melhore, decisões precisam ser tomadas já para 2022. A verdade é que ninguém quer muito que isso ocorra. Todos reclamam, mas todos aceitam. Todos olham somente para o próprio umbigo e não para a disputa num todo. Torneio fortes implicam em clubes fortes e bons jogadores. Não adianta reclamar se todos assinam os regulamentos.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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