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Rivais respeitam sofrimento palmeirense

Por Agencia Estado
Atualização:

Tristeza não tem fim, o Palmeiras sim. E isso pôde ser notado nesta quinta-feira no semblante e nas palavras dos torcedores palmeirenses. Eles passaram o dia tristes, cabisbaixos, envergonhados, humilhados. Depois da goleada sofrida na véspera, por 7 a 2 do Vitória, tudo indicava que teriam de ouvir gozações dos inimigos corintianos, são-paulinos e santistas. Mas a situação da Sociedade Esportiva Palmeiras é tão dramática que até os rivais se solidarizaram com o sofrimento alheio. Piadas? Não é bem o caso. ?Só posso acreditar que aconteceu um acidente, uma coisa gravíssima. Fico triste até com o time que estava em campo e passou por esse vexame?, desabafou o empresário Giovanni Bruno, de 68 anos, dono do restaurante Il Sogno di Anarello. Palmeirense por opção, feita no início dos anos 50, quando a família fugiu da guerra, Bruno tentava encontrar respostas para sua neta que lhe perguntou o que está acontecendo com o Palmeiras. ?Dizer o quê?? Ex-conselheiro do clube, ele pede que todos se unam em torno do time e juntos encontrem um caminho para sair da crise. Outro que teve de consolar um pequeno palmeirense foi o cantor Moacir Franco. O menino João Vitor, de 8 anos, estava inconsolável. Por sorte, o pai desistiu de levá-lo ao estádio. ?Como o primeiro jogo que ele viu foi um 2 a 1 contra o Vitória, três anos atrás, pensei que a coincidência poderia ser uma noite feliz.? Depois de verem o jogo na TV, a solução encontrada pelo cantor foi mostrar álbuns de fotos e revistas contando os dias gloriosos do Palmeiras. Mas ele mesmo já se conformou? ?Não, é o fim do mundo. Os dirigentes deviam jogar a toalha, estão dilapidando o nosso patrimônio, acabando com nosso amor ao clube.? Indicações ? O humorista Chico Anísio tornou-se palmeirense incondicional quando seu pai, ex-presidente do Ceará F.C., levou o time paulista para uma série de cinco jogos em seu Estado natal. Ficou maravilhado com o que viu em campo. Isso há 65 anos. Nesta quinta-feira, estava envergonhado. ?Rapaz, nunca vi nada igual. Foi terrível.? Como amante do futebol, ele sabe que os clubes têm seus momentos de apogeu e queda. Cita Napoli e Milan, duas tradições da Itália e em situações igualmente críticas. Para Chico Anísio, a solução é apostar nos jogadores de base, como os que fizeram um bom papel na Taça São Paulo de Juniores. Lembra que o Santos, com Diego e Robinho, e o São Paulo, com Kaká, estão apresentando excelentes resultados. Como sugestão, oferece seus serviços aos diretores do clube. ?Já recomendei o Leão, Edson Cegonha, Zenon e Luís Pereira. Se eles quiserem, tenho dois craques, do Santo Antonio de Jesus de Salvador, para indicar.? Ironicamente, ele já chegou a indicar Nádson, o vilão autor de quatro gols na goleada do Vitória contra o Palmeiras, para o Vasco. Elias Ferreira de Souza, de 68 anos, era o retrato da desolação entre os torcedores. Sentado no banco de entrada de seu bar, um tradicional reduto de palmeirenses, ele parecia ter ido a um funeral. Deixou por conta do filho a inglória tarefa de atender os telefonemas, alguns provocativos, muitos de solidariedade. ?Os jogadores não têm culpa, só não estão entrosados. Só numa coisa entram em sintonia: quando falha um, falham todos.? Nesta quinta-feira, ele tentava esquecer as imagens desastrosas na TV. ?Já vi o Palmeiras perder de 5 a 4 para o Santos, mas era 1958 e eles tinham Pelé.? Solidariedade ? Um grupo de amigos, todos anti-palmeirenses, reuniu-se para um almoço no Bar do Elias. Entre os assuntos, claro, a derrota do adversário. Mas as piadas e provocações ficaram para um segundo plano. A crise futebolística era mais urgente de se tratar. ?O Palmeiras é um grande time e é muito ruim para São Paulo ele se encontrar nesse estágio. Um clube de tradição não merece isso?, disse o engenheiro Walter Gasi, de 52 anos, corintiano. O seu colega de profissão, Antonio M. Neto, de 67, pensava de forma semelhante: ?É uma pena. Meu filho, minha mulher e meus pais são todos palmeirenses. Não dá para ficar feliz sozinho.? Nessas circunstâncias, brincar com a situação dos adversários é até deselegante. Mas uma piadinha não faz mal a ninguém. ?Lógico que quando o meu São Paulo puder enfrentar o Palmeiras queremos dar a mesma goleada?, disse Antonio M. Neto. Já Sidney de Souza, filho do seu Elias, cansou de ouvir provocações. ?Estão nos aconselhando a nem entrar em campo, aí seria W.O. e perderíamos só de 1 a 0.? Foram mais de 100 telefonemas e 220 e-mails, sem contar as seqüências de sete buzinadas na frente do bar. O presidente da Torcida Uniformizada do Palmeiras (TUP), Marcelo Moura Lima, de 36 anos, não escondeu sua raiva com o presidente do clube, Mustafá Contursi. ?O foco do nosso nervosismo é em cima do presidente, já que ele tinha de fazer planejamento e trazer jogadores competentes.? A organizada pretende, nos próximos dias, realizar uma grande concentração de torcedores na Avenida Turiaçu, no Parque Antártica. Os ?cara-verdes? querem a saída de Mustafá. ?Se tiramos um presidente da República, por que não o do Palmeiras?? Urubu ? Para o comerciante Zélio dos Santos, de 40 anos, que há 8 mantém uma banca de apetrechos palmeirenses no Parque Antártica, sua ira era contra o goleiro Marcos. ?Se a defesa não está fazendo a parte dela, ele tem de fazer a dele?, resumiu. Com a derrota, o que ele mais ouviu eram piadinhas. ?Os palmeirenses gritam ?Fora Mustafá?, mas os adversários preferem ?Viva o Tabajara?, ?Vai para a 2ª Divisão?, entre outras.? Na tarde desta quinta-feira, um urubu pairava sobre uma antena na frente do Centro de Treinamento (CT) do Palmeiras, na Barra Funda. O ambulante Vandilson Santos Rocha tinha uma explicação para o fato de a ave estar olhando fixamente para o CT. ?Acho que o urubu só está esperando para chegar a hora dele. Há um clima tenso no ar.?

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