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Rivaldo: Brasil joga só com conversa

Apesar das críticas da torcida e dos problemas em campo com as faltas de treino, o meia do Barcelona avisa que não pensa em deixar a seleção.

Por Agencia Estado
Atualização:

Apontado como um dos melhores jogadores do mundo, o meia Rivaldo é alvo de inúmeras críticas da torcida brasileira quando defende o País. Assim como ele, o próprio time do Brasil não tem convencido a torcida durante a disputa das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002, que começaram no ano passado. Para o ídolo do Barcelona, esses dois problemas têm uma única e simples justificativa: a seleção não tem tempo para treinar e, muitas vezes, ?joga só na base da conversa?. Fora do próximo amistoso do Brasil, dia 3 de março, contra os Estados Unidos, por causa de compromissos com o Barcelona, Rivaldo lamenta que a torcida cobre tanto a seleção nesta época em que o time disputa as Eliminatórias - está em segundo lugar, cinco pontos atrás da líder Argentina. Segundo ele, os jogadores que atuam na Europa (que somam quase sempre a metade do grupo convocado) viajam mais de 12 horas para representar o País e dois ou três dias depois, sem treino nem nada, já têm que estar em campo. E os torcedores ainda exigem espetáculo. ?Desse jeito não dá. Agora, o importante é vencer e classificar. No Mundial, podem cobrar?, avisa ele. Numa entrevista exclusiva à Agência Estado, Rivaldo conta que apesar de todos estes problemas que enfrenta na hora de servir o Brasil, ele não pensa em deixar a seleção como tem sido especulado recentemente. Depois do vice no Mundial da França, seu plano é disputar mais uma Copa do Mundo, em 2002, e, de preferência, conquistar o pentacampeonato. Agência Estado: O que está acontecendo com a seleção nas Eliminatórias? Rivaldo: Não há muito tempo para treinar. Não dá para jogar uma partida com um dia de treino. Quando não dá tempo e tem jogo pelas Eliminatórias, até o treinador fala: ?Tem que ser o talento de vocês. Vou falar taticamente o que cada um vai fazer, mas é o talento de vocês em campo e a união que vão dar a vitória?. Assim, o treino é uma conversa sobre posicionamento tático e como fazer a cobrança de escanteios. AE: E por que isso ocorre? É desorganização? Rivaldo: Não. É porque a seleção tem muitos jogadores atuando na Europa. O jogador chega cansado, por exemplo, numa segunda-feira, sendo que jogou pelo clube no fim de semana. Só tem a terça-feira para treinar porque joga na quarta. O que tu pode fazer em um dia de treino? Tu está com outro sistema de jogo no Barcelona, ou na Roma. Cada um tem um sistema de jogo. E aí, chega o técnico e quer mudar? Não pode. Ele acaba mandando cada um jogar mais ou menos como está acostumado. Diz algumas coisas taticamente e conversa. É mais na conversa. É impossível treinar dois ou três dias e depois dar espetáculo. AE: Mas o grupo de jogadores passa por uma má fase? Rivaldo: Não é isso. Também tem que lembrar que já não existe mais aquele favoritismo de antes, de dizer que a seleção brasileira vai ganhar antes de começar. Tudo mudou. O futebol é mais duro, mais violento. Antes, o Brasil jogava com o Japão, a Venezuela ou o Equador e ganhava de três, quatro gols. Agora, você joga e ganha, mas até sair o primeiro gol é difícil. E, quando joga em casa, então, e a torcida começa a vaiar... fica mais difícil. AE: Mas ainda assim, o Brasil é superior... Rivaldo: É porque tem bons jogadores. A gente tem a técnica e tudo, mas às vezes, por se tratar de jogadores como o Romário, o Ronaldinho ou até mesmo eu, o adversário acaba pondo muita garra em campo, se desdobra, não dá espaço, faz tudo e acaba provocando a vaia da nossa torcida. Não pode vaiar. Tem que animar os jogadores os 90 minutos porque se a seleção não se classificar, vai ser ruim para todo o mundo. AE: Você pensa em pedir dispensa da seleção? Rivaldo: Não. Eu quero ir à Copa do Mundo e depois, aí sim, poderei pensar em qualquer coisa. Mas, quero ir ao Mundial porque cheguei muito perto de ser campeão e tenho este sonho. AE: Já esqueceu as vaias que você levou no jogo entre Brasil e Colômbia? Rivaldo: Naquele momento fiquei triste, mas o que se pode fazer, é a cultura do Brasil, as pessoas não pensam no sacrifício que se faz para jogar pela seleção. Viajar e jogar em três dias, mudança de fuso horário, de alimentação. Muda tudo e tu tem que jogar e arrebentar. AE: A cobrança é excessiva? Rivaldo: Cobrança tem que ter sempre, mas a principal cobrança tem que ser no Mundial. Numa Eliminatória, o importante é vencer, não tem que dar espetáculo. Se houver espetáculo, melhor. Mas, se não, que vença, que é o objetivo de todo o mundo. Agora, no Mundial sim, porque há tempo para treinamento e para se preparar. Treinador e jogadores têm de ser cobrados num Mundial. AE: Você recebeu, recentemente, convite de outro clube? Rivaldo: No momento, não. Houve comentários de que clubes na Itália estavam interessados em mim, no ano passado, mas ninguém veio falar comigo. Tenho mais dois anos de contrato com o Barcelona e pretendo seguir aqui, se o clube quiser. Mas vida de jogador é assim, tem de ir onde haja espaço para jogar. Só não pretendo voltar a jogar no Brasil, por hora. Quero mesmo seguir na Europa, que é a melhor vitrine no mundo.

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