Candidato de oposição à presidência da CBF em 2003, o ex-jogador Sócrates acordou hoje com uma certeza: o empate entre a seleção brasileira e a do Peru, ontem à noite, no Morumbi, e o risco de o Brasil ficar fora da Copa do Mundo de 2002 são reflexos de uma séria crise que poderá ter desdobramentos ainda mais graves no futuro. O Brasil, na opinião de Sócrates, "está perdendo sua maior identidade cultural", o futebol. Num país que tem poucos valores absolutamente seus, isso é o que de pior pode acontecer. Chegamos a um ponto em que temos de torcer contra os outros para nos classificarmos à Copa. Na América do Sul, hoje, só a Venezuela é inferior ao futebol brasileiro, e olhe lá", analisa. Desafeto declarado de Emerson Leão, Sócrates evitou críticas diretas ao técnico da seleção. Não citou nenhuma vez o nome do treinador, mas destilou seu descontentamento, mesmo que de forma não declarada. "Não quero comentar o trabalho dele (Leão). Analiso a situação em termos genéricos. As pessoas só realizam o que podem realizar", alfineta. A seleção brasileira, na opinião de Sócrates, não tem estratégia, planejamento e, o que é pior, não está mais despertando o interesse do torcedor. "Há duas décadas, um jogo pelas eliminatórias pararia o país. Hoje, não mobiliza nem uma cidade." Em meio à crise, Sócrates segue articulando sua candidatura à presidência da CBF. A eleição acontece em 2003 e, para tornar seu nome viável, o ex-craque terá de conseguir apoio das federações e dos principais clubes do país, a base do colégio eleitoral que elegerá o sucessor de Ricardo Teixeira. Além do apoio já declarado de Zico, Sócrates tem esperanças de contar com outros nomes de peso para tentar bater o candidato da situação, ainda indefinido. "Vou convidar gente como Tostão, Raí, Leonardo. Quero montar uma chapa com grandes nomes". Sua plataforma terá como ponto básico, segundo define, a democratização das decisões e das riquezas geradas pelo futebol. "O dinheiro gerado pelos clubes tem de ficar nos clubes. Também vamos acabar com essa cultura de centralização das decisões."