Sem dinheiro, Lusa tem futuro preocupante na terceira divisão

Rebaixada para a terceira divisão nacional, Portuguesa tem salários atrasados e não consegue arcar com despesas mensais do clube

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Por Rafael Fiuza
4 min de leitura

"O clube está quebrado". Presidente da Portuguesa, Ilídio Lico avisou dias antes do segundo rebaixamento consecutivo da equipe no Nacional que não era possível arcar com as despesas do Canindé, avaliadas em R$ 500 mil mensais, com um valor recebido entre patrocínios, bilheterias (fraca) e premiações inferior a R$ 300 mil. A Portuguesa parece viver um pesadelo sem fim, iniciado no último ano, quando a permanência confirmada na Série A do Brasileiro foi substituída por um rebaixamento fora de campo, nos tribunais, após punição pela escalação irregular do jogador Héverton.

A queda inesperada provocou uma mudança brusca no planejamento financeiro da equipe para a temporada, baseado no valor recebido pelos clubes da Série A, muito superior ao ganho dos times que disputam o acesso. A cota oferecida para a Portuguesa na última temporada, quando disputou a 1ª Divisão, foi de R$ 18 milhões/ano. Na Série C, apenas passagens de ônibus e aéreas (para distâncias acima de 700 quilômetros) serão pagas pela CBF. CULPADOSCom seis treinadores na temporada e um elenco inchado, com 47 jogadores, a Portuguesa não conseguiu evitar novo rebaixamento - caiu nesta terça-feira após derrota para o Oeste. O elenco inchado é um dos motivos para a grave crise financeira que assolou o clube nos últimos meses. Ilídio avisou que as despesas eram maiores que os benefícios, mas já era tarde e nada poderia ser feito. "É complicado. O torcedor quer que contrate jogadores e tem suas razões para isso, mas não podemos fazer muito desta forma", disse o presidente por telefone ao Estado.

Um dos treinadores com maior identificação com a torcida da Lusa, Vagner Benazzi apontou culpados para o segundo rebaixamento consecutivo do time. "A atual diretoria assumiu os trabalhos em situação complicada, mas colocou três outros diretores do amador que não tinham condições de estar ali. Na nossa profissão, você tem de aprender com o futebol para depois poder exercer a função. Não adianta colocar lá apenas", disse o ex-treinador, que não conseguiu vencer na curta passagem durante as oito partidas em que esteve no comando da equipe e também sofreu com salários atrasados.

Equipe disputará a Série C do Brasileirão pela 1º vez na história Foto: Luis Silva/AGIF

FUTUROCom um orçamento enxuto, a Portuguesa precisará organizar bem os gastos e realizar contratações certeiras. Ao menos é o que acredita torcedores e ídolos do clube. Para o ex-volante Capitão, o retorno à Série B deveria dar ao clube uma equipe mais forte. "A Portuguesa precisava de um elenco de Série A para disputar as competições. Se trouxer jogadores de um nível baixo, quem garante que a equipe sairá de lá?", disse um dos ídolo do passado glorioso do Canindé.

Torcedores da equipe também se mantêm com um pé atrás agora, mas acreditam que é possível reverter a situação. De acordo com Luiz Pecego, de 25 anos, é necessário seguir os exemplos de clubes que foram bem-sucedidos com investimentos menores. "São projetos como o do Ituano, recentemente o do Mogi Mirim, que precisam ser utilizados. O formato de um clube-empresa pode ser uma alternativa. O problema é que as duas vezes em que a equipe da Lusa apostou em um projeto semelhante com Ability e Banif não foi bem-sucedida após a saída das empresas", lembra o torcedor.

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JUSTIÇA DESPORTIVAOs quatro pontos perdidos pela Portuguesa no STJD no Brasileirão de 2013 ainda geram reclamações e a atualização dos sistemas utilizados para confirmar a possibilidade de escalação de jogadores foi um dos pedidos da equipe paulista, mas sem mudanças por parte da CBF no BID ou do Superior Tribunal de Justiça Desportiva. Na época, o advogado Osvaldo Sestário, que representou a equipe no julgamento do meia Hevérton, trabalhava para outros clubes, mas não avisou aos dirigentes da Portuguesa sobre a suspensão do jogador, que acabou escalado na última partida do torneio, contra o Grêmio.

De acordo com o especialista em direito desportivo, Cristiano Caús, o sistema não teve mudanças nem existe uma expectativa para que seja alterado. "Para minimizar os erros, assim que recebemos os resultados, já enviamos para todas as pessoas que fazem parte do futebol e estão interessadas no julgamento. O sistema ainda é passível de erros e por isso é necessário que os clubes tenham o máximo controle sobre a possibilidade de escalação de jogadores", avisou o advogado.

Representante da Portuguesa no tribunal durante o julgamento do caso Héverton, João Zanforlin também confirmou a ausência de mudanças no sistema utilizado pelos clubes de futebol no País, mas admitiu a publicação no STJD sobre a punição do jogador. "No caso do jogador Héverton, o resultado do julgamento foi publicado no site do STJD, assim como acontece com as outras sentenças, mesmo que ocorram às 23h", informou o advogado do Corinthians.

Se a queda para a Série C foi um reflexo da falta de estrutura financeira e política durante a competição, a substituição de Wanderson por Héverton, aos 32 minutos do 2º tempo, será sempre lembrada por torcedores e fanáticos como o início do maior pesadelo da história da Portuguesa, que ainda não acabou.